Bola de Ouro

Deu a lógica. O atacante ucraniano Andriy Shevchenko venceu o prêmio “Ballon D’Or”, a “Bola de Ouro”, oferecida pela revista francesa “France Football” para o melhor jogador do ano em atividade na Europa. À parte as risíveis críticas sobre se o prêmio é ou não é democrático (por não levar em conta os atletas jogando na América do Sul), o ucraniano fatura a homenagem com uma justiça incontestável.

O prêmio leva em conta, teoricamente, o que os atletas fizeram nos últimos 365 dias. Mas esse é um prêmio escolhido pela crítica especializada do continente, e o retrospecto das últimas temporadas sempre está bem vivo na hora do voto. Assim foi com Nedved, no ano passado, que tinha vencido os últimos dois títulos italianos, embora tivesse deixado de disputar a final da Liga dos Campeões contra o Milan.

Nas últimas duas temporadas, Shevchenko foi protagonista na conquista de uma Liga dos Campeões, um “scudetto”, uma Copa Itália, uma Supercopa Européia (em cima do Porto, que venceu a LC seguinte), além de terminar o último italiano como artilheiro. Como se não bastasse, está com tudo no lugar para levar a sua Ucrânia para a primeira Copa do Mundo.

Os concorrentes do ucraniano eram Deco (Barcelona), Henry (Arsenal) e Ronaldinho Gaúcho (Barcelona). Nenhum dos três fez a mesma coisa que Shevchenko sob nenhum aspecto. Deco perdeu a Eurocopa, apesar de ter vencido a Liga dos Campeões; Henry ganhou, nos últimos dois anos, o Campeonato Inglês e uma FA Cup, enquanto o último título do brasileiro foi a conquista da Copa do Mundo, em 2002, porque no Barça, por mais espetacular que seja seu futebol, ele ainda não venceu nada.

Um concorrente que acabou se eliminando sozinho é o italiano Francesco Totti. Primeiro, porque Totti não conseguiu nenhuma conquista importante nesta ano; segundo, porque a seleção italiana teve uma performance pífia na Eurocopa; terceiro, porque a cuspida que ele deu no seu rival dinamarquês durante a competição não foi exatamente um bom cartão de visitas; e fechando, porque a Roma de Totti deste segundo semestre está entre sofrível e calamitosa (mesmo que esteja dando sinais de melhora).

Claro, como qualquer resultado que está ligado à opinião, a entrega do prêmio para Shevchenko não está livre de contestação. Por exemplo: o técnico do Arsenal, Arséne Wenger, afirma que é um absurdo seu pupilo Henry não ser o vencedor. Da mesma forma, espanhóis, portugueses e brasileiros acham motivos (mais rocambolescos ou menos) para argumentar a razão pela qual Deco ou Ronaldinho Gaúcho deveriam ter sido os escolhidos.

Uma pequena observação, no entanto, pode ser útil no olhar dado ao prêmio do ucraniano. Nos seus primeiros 99 gols com a camisa milanista, Shevchenko marcou 33 com o pé direito, 17 com o esquerdo, 25 de cabeça, 20 de pênalti e quatro de falta (que não é sua especialidade). É um bom retrato de quão completo ele seja.

Encontro de titãs

O momento para o encontro de Juventus e Milan na Série A é quase perfeito. Só seria perfeito se os dois times estivessem com o mesmo número de pontos, mas a 23 rodadas do fim, quatro pontos de diferença são marginais. Os dois candidatos ao título desta temporada vão se encontrar no Delle Alpi com uma igualdade de forças impressionante.

No aspecto prático, é desnecessário dizer que a Juventus chega em vantagem. Pouco ou não, é o time de Capello que pode se dar ao luxo de empatar, graças ao hiato que abriu em relação aos demais competidores. Além disso, mesmo jogando no gélido Delle Alpi, atuar em casa é sempre uma vantagem considerável.

Sob o aspecto técnico, no entanto, Fabio Capello está preocupado com o comportamento da sua equipe. Segundo ele, desde o empate em 2 a 2 com a Inter em Milão, que o time não tem a agressividade que ele espera. Além disso, a sólida defesa de Thuram, Cannavaro e Zambrotta, não é a mesma de algumas rodadas atrás. Além disso, Del Piero está em processo de evolução (mas ainda fora de seu melhor).

Do lado milanista, na vitória sobre a Fiorentina a equipe mostrou pela primeira vez um futebol à sua altura, com Crespo e Seedorf em aceleração. O moral dentro do grupo está bem alto, Kaladze fez a primeira boa apresentação desde a temporada retrasada, e o técnico Carlo Ancelotti não precisa mais depender de Shevchenko.

Só que, se tecnicamente o time de Milão está em franca ascensão (que era esperado pelo regime de treinos adotado no início da temporada), sabe que a Juventus não é o melhor adversário para se ter à frente. Tanto a Juve quanto Capello são extremamente habilidosos no que se diz respeito a administrar vantagens.

E quais as chaves do jogo? Bem, para a líder Juventus, a partida tem de ser ganha no meio-campo. Emerson e Blasi têm de voltar a assegurar que a defesa seja o menos molestada possível, impedindo Pirlo e Seedorf de manejar a bola com liberdade. A fase de Ibrahimovic é a esperança de desequilíbrio na frente. Com os medianos fechando bem o jogo, a Juve pode voltar a ter a defesa pétrea das primeiras rodadas.

Do lado do Milan, a medida a ser tomada é a de fazer com que Kaká consiga se desmarcar e ajudar a pressionar a zaga juventina. Cafu também tem de aproveitar a ofensividade de Zambrotta e fazer as suas incursões à linha de fundo. Completando, a dupla de ataque Shevchenko-Crespo (Ou Tomasson) tem de estar num bom dia para desafiar Cannavaro e companhia.

Finalizando, vale lembrar dois detalhes que dão ainda mais incerteza quanto ao resultado. O primeiro, é que um clássico normalmente diminui as diferenças técnicas entre as duas equipes. A segunda, é que os dois times têm jogadores de sobra para decidirem a partida num lance individual. Se o campo de Turim estiver em condições adequadas, temos tudo para ver uma partida épica.

Um campeonato dividido em três

Quinze rodadas passadas e o Italiano desta temporada já está claramente dividido em três blocos. O mais curioso é a configuração desses blocos, que não lembram muito a divisão acontecida nos últimos anos.

A luta pelo título está polarizada entre Milan e Juventus, mas a Udinese ainda mantém contato com o vice-líder ‘rossonero’ (embora a 10 pontos da líder Juve). Não, não é uma certeza de conseguir uma vaga na Europa que conta, mas é um início melhor do que o esperado nesse sentido.

O segundo bloco é o mais curioso, e é o que denota como esta temporada esteja sendo disputada com golpes de foice. Entre o quarto colocado Cagliari e o 16o colocado Brescia, existem somente cinco pontos de diferença. E nesse meio, estão clubes badalados, como Inter, Roma Fiorentina e Lazio. Se estivéssemos na quinta rodada, os cinco pontos de diferença entre toda esta moçada não chamariam a atenção, mas a quatro rodadas do fim do primeiro turno, é um sinal inequívoco.

Na rabeira, parece também bastante delimitada a luta para ver quem vai se salvar. Caem três clubes, e entre Bologna (13), Parma (12), Siena (12) e Atalanta (7), há um espaço de seis pontos. Entre o Bologna e os dois últimos do grupo intermediário, um buraco de quatro pontos sugere que, se não forem todos os quatro os candidatos ao rebaixamento, pelo menos dois deles o serão.

Determinante nesta definição dos rebaixados será o “mercado” de janeiro, onde os lenços sofrem grandes alterações. Bologna e Parma, aparentemente, tem times melhores para se reestruturarem, mas estão numa posição delicada demais para poder respirar, e este sufoco pode significar um desespero que, não raro, leva à derrocada.

Para a vaga na Liga dos Campeões, a favorita ainda é a Inter (isso supondo que a Udinese mantenha seu ritmo e fique com o terceiro ‘spot’ europeu). A Inter pode ter uma campanha patética até aqui (o que pode vitimar o técnico Roberto Mancini), mas também tem um grupo que indubitavelmente tem condições técnicas de se acertar. Dependendo do modo como Mancini e a diretoria conduzirem o resto da temporada, há margens para uma notável evolução.

Fabio Capello conseguiu, diante do Bologna, a sua 300a vitória na Série A italiana

Outro que chegou ao número 300 foi Manuel Rui Costa

O meio-campista do Milan enfrentou pela primeira vez a sua Fiorentina (com quem jogou 215 vezes na Série A) exatamente na sua 300a aparição pela divisão máxima

A anunciada demissão de Mimmo Caso, técnico da Lazio, acabou não acontecendo

Anunciada porque, apesar de não ter sido divulgada pelo clube, era dada como certa pela imprensa

Mas o técnico acorda todo dia sem saber se ainda está empregado

Seu colega do Parma, Silvio Baldini, não gozou da mesma confiança de seus empregadores

O Parma o demitiu depois da derrota para o Livorno

Segundo o diretor do time, Luca Baraldi, o próprio Baldini achou que era melhor uma medida mais radical para fazer com que o grupo reagisse

Esta é a seleção TRIVELA da 15a rodada do Italiano

Buffon (Juventus); Cafu (Milan), D’Anna (Chievo) e Kaladze (Milan); Seedorf (Milan), Vidigal (Livorno), Pizarro (Udinese) e Nedved (Juventus); Crespo (Milan), Esposito (Cagliari ) e Lucarelli (Livorno)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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