Onde fica Emerson no Milan?

A contratação do volante Emerson para o Milan já ouriçou os críticos de Carlo Ancelotti sobre uma vocação defensivista que o treinador de Reggiolo teria. Se um time tem Ambrosini, Gattuso, Brocchi e Pirlo, existe um modo de jogar também com Emerson, sem sugerir a heresia de mandar Deus-Kaká para o banco?

Por partes: a vocação de Ancelotti para a defesa é tão grande quanto para o ataque. No time do Milan, o equilíbrio defensivo começa na aplicação dos homens de frente, que não raro dão carrinhos e se esforçam para atrapalhar o primeiro passe do adversário.

Emerson não chegou ao Milan para ser reserva, mas sim para aumentar as opções diante de uma temporada longa. Com Alexandre Pato sem condições de jogo até janeiro, é provável que Kaká jogue mais adiantado só com um atacante fixo.

Se mantiver o esquema que ganhou a última LC, um 4-4-1-1, Ancelotti reforça a marcação dando a vaga do segundo atacante para Ambrosini – e agora Emerson. Jankulovski na lateral dá uma possibilidade de jogada de linha de fundo, assim como Oddo, e assim, garantindo a qualidade na frente.

Mas a chegada de Emerson é basicamente um indício de que o Milan está preocupado em disputar mesmo tanto a LC como a Série A. Além dos já citados, Ancelotti ainda dispõe de Brocchi e Gourcuff, sendo que Seedorf pode jogar na posição de Kaká quando o brasileiro precisar de uma folga.

Ainda que se considere uma heresia, dependendo da circunstância, um Milan sem Kaká não é uma hipótese ridícula não. A fartura de meio-campistas permite que o time jogue com um 4-4-2 tradicional (as famosas “duas linhas de quatro”), com Seedorf e Jankulovski pelas alas e Ambrosini e Emerson no meio, por exemplo. Quando este esquema poderia ser interessante? Contra um time muito forte fisicamente ou quando Kaká precisasse ser poupado.

Ao contrário do que acontecia na seleção brasileira, Emerson, no Milan, é um armador que parte com a bola de trás. Um grande problema do Milan nos últimos anos foi o de não ter um substituto para Pirlo. Ainda que com um estilo diferente, Emerson pode ser a alternativa para dar refresco também para o armador italiano.

Ainda sobre brasileiros, Pato talvez não seja o titular imediatamente – mesmo que parte dos comentaristas no Brasil dê o fato como uma certeza. O ex-atacante do Internacional terá de se adaptar ao ritmo de jogo mais físico da Itália e não seria surpresa se ele rendesse pouco nos primeiros meses. Para Pato, jogar num esquema com meio-campistas mais “robustos” só pode ser benéfico, já que ele disporia de colegas mais parrudos para lhe dar cobertura. Emerson é um jogador ideal para a proteção que Pato precisará nesse novo esquema.

Se a contratação do ex-volante do Real Madrid não merece críticas, levanta alguma preocupação o fato do Milan não ter feito contratações para a defesa. Cafu, Maldini e Serginho não são mais meninos e Nesta teve uma série de contusões incômodas recentemente. Nesta temporada longa que o clube parece planejar, os veteranos podem sentir um pouco. O meio-campo está ok, mas a retaguarda talvez sofra.

Momento decisivo para a Azzurra – e Donadoni

A Itália enfrenta no sábado o seu maior obstáculo rumo à Eurocopa 2008 e o técnico Roberto Donadoni passará por um teste eliminatório. O jogo contra a França, em Milão, é determinante para assumir a ponta do grupo e para provar que a geração pós-Copa tem como afrontar uma grande seleção de igual para igual.

A convocação de Donadoni mostra que ele está lançando mão de toda a experiência possível, sem espaço para nenhum teste. Com Buffon no gol, é possível imaginar que Oddo e Zambrotta serão os laterais com Panucci e Cannavaro na zaga. Uma contusão no setor pode não ter como ser reposta.

No meio, a escrita é a mesma. É difícil imaginar que Donadoni possa deixar de usar o entrosamento de Gattuso e Pirlo, embora Ambrosini, Perrotta e De Rossi sejam alternativas igualmente válidas.

A questão no setor se definirá pela escolha do módulo. Se usar um trio de meio-campistas puros com um ‘número 1’ atrás dos atacantes, é provável que Gattuso, Pirlo e Ambrosini estejam em campo; se o sistema tiver dois volantes pelo meio com dois externos buscando a linha de fundo, Foggia e Camoranesi ganham espaço.

No ataque, o centroavante só não será Toni se o avante do Bayern se machucar. A escolha de seu parceiro é que abre margem para dúvidas em cima do que a ‘Azzurra’ mostrará em Milão. Toni precisa de um jogador que jogue em função dele, como Mutu fazia na Fiorentina ou Brienza no Palermo. Entre os listados por Donadoni, Del Piero parece o mais indicado.

Como é uma partida decisiva, não seria uma má ideia dar espaço a Filippo Inzaghi. Para a última Euro, Trappatoni foi a Milão com a seleção precisando vencer o País de Gales num jogo decisivo. Inzaghi, que vinha de contusão, entrou jogando e resolveu a partida. Italiano, Donadoni certamente não deve ignorar a superstição dos poderes talismânicos do atacante milanista.

Goleiros:
Abbiati (Atletico Madrid – ESP), Amelia (Livorno), Buffon (Juventus).

Defensores:
Barzagli (Palermo), Cannavaro (Real Madrid – ESP), Chiellini (Juventus), Gamberini (Fiorentina), Grosso (Olympique Lyon – FRA), Oddo (Milan), Panucci (Roma), Zambrotta (Barcelona – ESP).

Meio-campistas:
Ambrosini (Milan), Aquilani (Roma), Camoranesi (Juventus), De Rossi (Roma), Foggia (Cagliari), Gattuso (Milan), Perrotta (Roma), Pirlo (Milan).

Atacantes:
Del Piero (Juventus), Di Natale (Udinese), Inzaghi (Milan), Lucarelli (Shakhtar Donetsk – UCR), Quagliarella (Udinese), Toni (Bayern Munique – ALE).

CURTAS

Seleção Trivela da segunda rodada:

Frey (Fiorentina); Zaccardo (Palermo), Mexès (Roma), Carrozzieri (Atalanta), Chiellini (Juventus); Foggia (Cagliari), Tissone (Atalanta), De Rossi (Roma) Aquilani (Roma); Ibrahimovic (Inter) e Zalayeta (Napoli)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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