A Lenda

Não ter visto grandes heróis do futebol passado é uma frustração para qualquer um. Certamente não há quem não gostaria de poder ter visto Friedenreich, Leônidas, Pelé, Stanley Matthews, Uwe Seeler, Fritz Walter ou Jose Andrade. A lenda só ganha essa aura mítica depois que o jogador pendura a chuteira. Mas aí, já é tarde.

Aproveite então para assistir Paolo Maldini naquela que pode ser a sua última temporada jogando com a camisa 3 do Milan. Com a partida contra o Treviso, Maldini chegou a inacreditáveis 571 partidas pela Série A italiana e marcou seu nome para sempre na história. O capitão milanista é, certamente, uma lenda.

Buffon; Cafu, Vierchowod, Kohler e Roberto Carlos; Davids, Nedved e Maradona; Platini, Roberto Baggio e Batistuta. Esse, que poderia perfeitamente ser um time dos sonhos de jogo de computador, é formado somente por jogadores contra quem Paolo Maldini jogou. E a lista não acaba aí.

O significado da marca de Maldini é muito maior do que somente o topo da lista de presenças, que era de Dino Zoff até sábado. O jogador conseguiu a façanha defendendo somente uma camisa, o que nos dias de hoje, soa fantástico. Para se ter uma idéia, o mais próximo na lista de aparições pela Série A que só jogou em um clube é o interista Giuseppe Bergomi, com 519 jogos.

Naturalmente a partida contra o Treviso não tem um significado esportivo lá muito grande. O time veneto é bastante singelo e não foi a maior prova de fogo enfrentada por Maldini. A pausa para a reverência ao defensor se dá pela sua longevidade.

Os sinais de que o Milan do ano que vem não terá mais o seu capitão são cada vez mais concretos. Maldini teve uma pré-temporada difícil e voltou ao campeonato se queixando de dores nos joelhos e tornozelos. “Pela primeira vez, ao voltar das férias, senti que a situação estava pior do que quando a temporada anterior acabou”, disse o atleta depois do primeiro jogo da temporada, quase que num aviso subliminar.

O que o Milan fará para substituir Maldini? Não se sabe. Só se sabe que substituí-lo é impossível. O melhor que o clube pode fazer é readequar o time com um jogador de características diferentes. O romeno Christian Chivu, da Roma, é o nome mais mencionado, mas de fato não há negociação em vista. Os milanistas que preparem os lenços. Num futuro não muito distante, terão de chorar de saudade de outro lendário Maldini.

Udinese tropeça nos próprios pés

A estréia da Udinese na Liga dos Campeões não poderia ter sido mais utópica. Diante de sua torcida, os friulanos cravaram três no Panathinakos, sem chances para contestação. O herói do jogo foi Iaquinta, autor de todos os gols. Finalmente, Udine tinha um novo ídolo.

Será mesmo? Na semana passada, de repente, a diretoria do clube simplesmente afastou Iaquinta do grupo que enfrentaria a Reggina. Motivo: o atacante, cujo contrato se encerra em 2007, recusou uma proposta do clube para estender o mesmo até 2010. O resto é história. Sem seu principal avante, a Udinese foi à Reggio Calábria e tomou um belo 2 a 0.

Como classificar o comportamento do clube de Udine? Vários adjetivos cabem e nenhum deles é elogioso. Na melhor das hipóteses, o clube foi de uma falta de inteligência épica, prejudicando a si próprio. “O maior prejudicado nessa história toda sou eu”, resmungou o técnico Serse Cosmi, logo depois de saber que Iaquinta estava cortado.

O ‘por-baixo-dos-panos’ é o seguinte: a Udinese sabe que clubes como Juventus, Inter e Roma negociam com Iaquinta para tê-lo em 2006 ou 2007. Como a Udinese pede €13 milhões pelo seu passe, a possibilidade de que Iaquinta prefira esperar um ano a mais para sair com passe livre é bastante concreta.

Apesar de avaliar o atacante de 26 anos num valor milionário, a Udinese ofereceu uma renovação de contrato pouco melhor que o atual (que não é nada nababesco em comparação com os valores da Série A). Iaquinta já disse que quer ir embora, fato com o qual a Udinese até concorda – desde que receba uma soma bastante obesa.

Praticamente tudo na conduta do clube foi errado. Moralmente, profissionalmente, gerencialmente, tudo. O clube ainda tem quase dois anos para entrar num acordo com o jogador, e poderia perfeitamente ter mantido o clima sereno, especialmente com vistas à Liga dos Campeões. Agora, imaginar que Iaquinta fica na Udinese é querer se enganar. Os pretendentes quese movam.Os pretendentes que se movam.

– Incrível a posição do Livorno após cinco rodadas; o time tem pontos a mais do que no ano passado e ostenta um irreal terceiro lugar.

– Claro que é quase impossível manter tal ritmo, mas o time toscano vai assegurando sua permanência por mais um ano na Série A.

– Com cinco rodadas, o Lecce demite o primeiro treinador do Italiano esse candidata fortemente a uma das vagas no rebaixamento.

– Angelo Gregucci foi exonerado e a possibilidade de Silvio Baldini (ex-Parma, Empoli e Palermo) assumir o time é grande.

– A renovação de contrato por parte de Adriano com a Inter, até 2010, mostra que o jogadorestá sendo alvo de constantes investidas de adversários milionários.

– A seleção Trivela desta 5ª rodada tem no meio-campista Cozza o seu destaque.

– O jogador, que um dia foi apontado como o futuro sucessor de Demetrio Albertini no Milan, foi o principal responsável pela boa vitória da Reggina sobre a Udinese.

– Frey (Fiorentina); Balleri (Livorno), Materazzi (Inter), Samuel (Inter) e Oddo (Lazio); Camoranesi (Juventus), Cozza (Reggina), Vieira (Juventus) e Stankovic (Inter); Locatelli (Siena) e Rocchi (Lazio).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
Top