A lebre ‘bianconera’

Dezoito pontos em seis jogos, incluindo o ‘Derby d’Italia’ contra a Inter de Milão. O cartão de visitas fa Juventus não poderia ser mais claro rumo a mais um bicampeonato que, se não é certo ainda, ganhou contornos nítidos depois da vitória por 2 a 0 no Delle Alpi.

Não, esta coluna não está falando que o campeonato acabou, que a Juventus é campeã, nem nada. Primeiro, porque a 32 rodadas do final, tal exercício de futurologia é contrário aquilo que a Trivela se propõe; segundo, porque Milan e Inter estão longe de estarem mortos e terceiro, porque apesar de toda a sua força, a’Veccia Signora’ tem como objetivo confesso para esta temporada a conquista da Liga dos Campeões, fato que vai diminuir o passo juventino mais adiante.

Posta a ressalva, não há como não se impressionar com a robustez do time de Capello. Como era previsto, o time é monolítico, baseado numa dupla de meio-campo que, se não é encantadora, é bem provavelmente a mais sólida do mundo. Graças a Vieira e Emerson, a Juventus coloca de joelhos os adversários mais incômodos, mesmo quando se trata de um rival hostil como a Inter, onde Pizarro e Cambiasso provém considerável solidez.

A Juventus não é só forte. É resistente também. O duo central da meia-cancha juventina consegue blindar a defesa sem causar blecaute no ataque, graças aos dois externos (Nedved e Camoranesi). Quem estiver disposto a desbancar a Juve pode tratar de achar uma maneira de anular o miolo do meio-campo. Ali está a chave a posse de bola e do passe preciso do time, ainda que não seja vistoso.

E no que errou a Inter? Bem, pode parecer contradição, mas a resposta é ‘em nada’. A maior responsável pela derrota interista é a falta de rodagem de um time que foi formado no último verão europeu. Pizarro e Verón (que não jogou por estar com febre) são dois jogadores de qualidade, mas ainda estão, visivelmente, um degrau abaixo da dupla da Juventus. Para chegar á condição que tem a campeã, a Inter precisa de rodagem e essa ó virá com o tempo.

Alguém pode vencer a Juve nesta temporada? Claro que sim. Mas as melhores chances serão dos times que tiverem um esquema tático diferente do 4-4-2 pétreo de Fabio Capello. Contra um time igualmente postado, não há, no momento, na Europa, um time capaz de desmontar a trincheira feita pelo técnico friulano. Teoricamente, Milan, Chelsea e Barcelona são times que podem usar tal arma – que pode perfeitamente também servir para a Juventus dominar ainda mais facilmente. Por hora, todo mundo deve correr atrás da Juve.

E o nome do drama agora é Toldo

A vocação entrópica da Inter é realmente algo para ser estudado. Depois de uma derrota para uma Juventus solidíssima, em Turim, o time milanês não conseguiu manter a cabeça no lugar e se dar conta de que realmente há um hiato entre os dois times. E o estopim da vez se chama Francesco Toldo.

Quem lembra da partida da Inter em 2003, em Valencia, pela Liga dos Campeões, não pode ter esquecido de como Toldo, sozinho, parou um Valencia todo ataque, garantindo a passagem interista à semi-finalda competição. Não foi a única demonstração de valor de Toldo desde que chegou a Milão, em 2001. mesmo assim, Toldo, nas duas últimas temporadas, esquentou banco para jogadores como Carini, Fontana e a agora para o brasileiro Júlio César.

Pois é. Toldo também acha um absurdo. Tanto, que já deu uma entrevista acusando abertamente o técnico Roberto Mancini de ter problemas pessoais com ele. O treinador não ficou muito feliz e pensou até mesmo em desligar Toldo imediatamente da Inter, fato que só não aconteceu por intervenção do presidente Facchetti.

A derrota da Inter para a Juve foi mais do que normal e não redimensiona as possibilidades do clube. Pelo menos não para quem, com alguma cautela, conseguia ver que o clube ‘nerazzurro’ ainda não está no andar de Juve e Milan. Só que a velha efervescência interista falou mais alto e o ambiente, que era só festa, já começou a azedar.

O destino de Toldo na Inter está escrito. O goleiro sai do clube em janeiro ou em junho. Mesmo que agora todo mundo diga que se ama, esse tipo de ranhura não se conserta. Pena para a Inter que perderá mais um goleiro de absoluto nível (como Peruzzi ou Frey).

– Sexta vitória consecutiva para a Juventus.

– Os dois milaneses já estão a cinco pontos de distância.

– Alta média de gols na rodada; 3,4 por jogo.

– A temporada segue com 2,67 gols por jogo, ainda acima dos 2,53 da passada.

– Luca Toni e Emiliano Bonazzoli têm a maior média de gols por jogo (1 por partida), mas é o ‘patinho feio’ Julio Cruz, da Inter, que detém a melhor média por minuto: um gol a cada 50 minutos.

– E no fim, talvez Gattuso não seja assim tão perna de pau como se diz no Brasil.

– Depois de se constatar que o volante milanista fez a mesma quantia de faltas que Robinho nas primeiras duas partidas da Liga dos Campeões, o clube com menos faltas na Série A até aqui é o Milan, com uma média de pouco mais de 13 por jogo.

– O time mais faltoso é a Juventus, com 21 faltas por jogo.

– Esta é a lista dos jogadores chamados por Marcello Lippi para enfrentar Eslovênia e Moldova nas partidas decisivas por uma vaga no Mundial de 2006.

– Goleiros: De Sanctis (Udinese), Peruzzi (Lazio).

– Defensores: Bonera (Parma), Fabio Cannavaro (Juventus), Grosso (Palermo), Materazzi (Inter), Nesta (Milan), Zaccardo (Palermo), Zambrotta (Juventus).

– Meio-campistas: Barone (Palermo), Blasi (Juventus), Camoranesi (Juventus), De Rossi (Roma), Diana (Sampdoria), Gattuso (Milan), Pirlo (Milan).

– Atacantes: Del Piero (Juventus), Gilardino (Milan), Iaquinta (Udinese), Toni (Fiorentina), Totti (Roma), Vieri (Milan).

– E esta é a seleção Trivela para a sexta rodada do Italiano:

– Antonioli (Sampdoria); Stam (Milan), Thuram (Juventus), Maldini (Milan) e Grosso (Palermo); Dalla Bona (Sampdoria), Vieira (Juventus) e Emerson (Juventus); Iaquinta (Udinese), Bonazzoli (Sampdoria) e Tavano (Empoli).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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