De olho no segundo turno

O Italiano ainda não passou da 12a rodada – pouco mais da metade do turno de ida. Mesmo assim, a tabela já dá pistas importantes em relação ao resto da competição. A primeira, e notória, é que o Milan parece o único time com gás suficiente para poder deter a Juventus na sua trajetória para o 27o título.

Outra nota é a dureza que será garantir uma das duas outras vagas para a Liga dos Campeões. Entre a terceira e a décima colocação, somente três pontos de diferença embolam Udinese, Messina, Chievo, Lecce, Inter, Lazio, Livorno e Cagliari. Claro que aqui, a faviorita para uma das vagas é a Inter que, apesar dos pesares, tem mais recursos para uma eventual reação.

Outra curiosidade é o rebaixamento. Entre o 11o e o 19o e penúltimo lugar, somente quatro pontos, o que sugere uma árdua briga no final do torneio. Levando-se em consideração os últimos cinco anos da Série A, o primeiro time a não ser rebaixado precisou fazer 1,07 pontos por jogo para ficar fora da nova zona de rebaixamento (com somente três clubes).

Em 38 rodadas, teoricamente, um clube que faça 41 pontos está livre da degola. Esse valor é aproximado e não exato, porque com o aumento de número de clubes participantes (18 para 20) e diminuição de rebaixados (4 para 3), a cifra pode sofrer pequenas alterações. Esses 41 pontos são mais ou menos o mesmo que se considera “seguro” para não cair na Inglaterra, onde o torneio tem 20 clubes.

O ponto curioso não diz respeito às previsões estatísticas, e sim a uma coincidência que envolve o trio de ferro Juve-Milan-Inter. Sem que isso tivesse sido planejado, os três titãs vão ter seu rendimento na temporada diretamente afetado pelos “reforços” que terão com o esvaziamento das enfermarias.

A Juventus já recuperou apressadamente Del Piero, e aguarda o francês Trezeguet, tranqüilizada pela imediata adaptação de Zlatan Ibrahimovic. Capello chegou a Turim preocupado em acertar a retaguarda juventina, e ir somando pontos no esquema “marca-um-sofre-zero”. Até aqui, deu certo, com meia defesa nova (Zebina e Cannavaro), vigiada por um meio-campo reforçado com Emerson e Blasi.

O Milan é o que espera mais do segundo turno. Ancelotti agradece Shevchenko pela sua fase dourada, mas conta com a recuperação de forma do argentino Crespo, e do retorno do zagueiro Jaap Stam e do atacante Filippo Inzaghi. Stam é a garantia de uma defesa impenetrável; Inzaghi e Crespo são os nomes que poderão fazer gols quando Shevchenko diminuir o ritmo. Ancelotti espera particularmente mais de Crespo, cujo ritmo na Itália sempre foi marcado por inícios ruins e finais de campeonatos arrasadores.

Na Inter, a espera é pelo despertar de Christian Vieri. O atacante italiano foi a locomotiva da Inter nos últimos campeonatos, mas até agora ainda vive à sombra de Adriano. Na defesa, o verdadeiro problema interista, a esperança é o mercado de janeiro, quando o time deve comprar pelo menos um zagueiro de primeira grandeza. Isso se não fizer uma feira, como está habituada a direção ‘nerazzurra’.

Dá para dizer que o título vai para quem fizer o melhor segundo turno? Quase. A Inter só entra de volta no jogo se os rivais descerem a média (2,58 pontos por partida para a Juve e 2,08 para o Milan) e a Inter fizer um returno histórico. Na briga entre Milan e Juve, o crescimento das estrelas dormentes vai ser decisivo sim, assim como o andamento dos dois na Liga dos Campeões.

O Palermo tem seu Eurico

Um time recém-promovido recebe o campeão italiano, numa partida de Copa Itália anômala, onde o campeão usa vários titulares. O campeão ganha por 2 a 1. Resultado normal, certo? Certo. Exceto para o presidente do Palermo, Maurizio Zamparini, que praticamente demitiu o técnico Francesco Guidolin.

“Guidolin nos salvará do rebaixamento e depois segue sua vida”, disse um explosivo Zamparini, depois da derrota normal (até prove-se o contrário) do Palermo para o Milan. O técnico bolonhês do Palermo não se pronunciou, mas não é impossível que ele peça o seu chapéu antes do que pretende o dirigente.

Zamparini foi além: assegurou que vai vender “todos” os argentinos do clube (Santana, Farias e Gonzalez), e culpou Guidolin pela venda dos irmãos Filippini, dizendo que o técnico pediu a saída de ambos porque criavam problemas de relacionamento no grupo.

Qual o tamanho da culpa de Guidolin? Muito provavelmente, não maior do que a de frustrar as expectativas de um dirigente falastrão e que já dizimou o Venezia, clube que possuía antes do Palermo. Em Veneza, Zamparini é “persona non grata”, e vale dizer que a torcida do clube veneto tem motivos para tanta ira.

No campo, Guidolin montou um bom Palermo, bem à italiana, com um trio de zagueiros onde se destacam os jovens Barzagli e Zaccardo, um meio-campo regido pelo veterano Corini, e um ataque que tem em Luca Toni seu ponto de referência. O jogo do Palermo se assemelha ao Bologna de Guidolin, com o time jogando muito compacto, próximo à defesa, e saindo nos contra-ataques pelas laterais.

Zamparini tem razão em reclamar? Não. O Palermo é um bom time, e quando joga no Renzo Barbera é um adversário hostil, mesmo para os times grandes. Está em 12o lugar na tabela, mas está a só quatro pontos da Udinese terceira colocada, o que, diga-se de passagem, não seria mal, caso o campeonato terminasse hoje.

Se Guidolin deixar o Palermo, a perda vai ser grande e a responsabilidade será toda de Zamparini, que já demitiu cinco treinadores em seus três anos de comando na Sicília, entre eles, Silvio Baldini (hoje no Parma), que Zamparini afirmava ser “o técnico exato para abrir um ciclo de glórias no clube”. Hmmmm. Disse isso também de Guidolin. Divórcio anunciado. Resta saber a data.

Copa Itália: grandes sucumbem

Considerada abertamente um torneio de menor importância para as maiores forças do futebol italiano, a Copa Itália normalmente vê escalações reservas nas suas primeiras fases, e muito empenho somente dos clubes menores, ansiosos por uma glória possível.

A terceira fase do torneio desta temporada teve suas partidas de ida assistindo boa parte dos grandes serem surpreendidos. Somente os dois milaneses conseguiram resultados positivos na primeira partida, e têm uma folga razoável para garantirem a passagem de fase.

A líder Juventus perdeu para a lanterna Atalanta, por 2 a 0, em Bérgamo. Capello escalou um time misto, e se deu mal, numa das melhores aparições do time bergamasco na temporada. Capello considera a hipótese de jogar o retorno com o time completo, mas só vai fazer isso se tiver distância nas outras competições.

O Milan venceu em Palermo por 2 a 1 com um gol de Crespo, que foi uma notícia ainda melhor do que a vitória em si. Ancelotti faz figa para ter o melhor Crespo daqui em diante para poder fazer Shevchenko respirar. Em Milão, a Inter venceu o Bologna por 3 a 1, mas não sem sofrimento, e com um gol irregular.

Roma e Lazio também perderam. A Roma teve um primeiro tempo “embaraçoso”, nas palavras do seu técnico Luigi Del Neri, cedendo um 2 a 1 para o Siena em pleno Olímpico. A Lazio também perdeu, mas, o resultado de 2 a 1 para o Cagliari, na Sardenha, é menos dolorido.

Os “ex-grandes” Fiorentina e Parma fizeram um jogo onde o “patinho feio” do Real Madrid, Javier Portillo, finalmente veio à baila, e mostrou que a Fiorentina pode esperar mais dele. Pesa sobre Portillo o péssimo retrospecto dos atletas espanhóis no futebol recente da Itália, mas o atacante deixou esperanças no ar. Com o 2 a 0, o clube de Firenze abre boa vantagem para passar de fase.

Nas outras partidas, uma esperada vitória da Sampdoria sobre o Torino, em Turim, por 2 a 0, e um incrível 5 a 4 da Udinese sobre o Lecce, em Lecce. A última partida entre os dois times, pelo campeonato tinha acabado em 4 a 3 para a Udinese, e o resultado agregado dos dois jogos é um novo recorde na Itália (16 gols em dois jogos). A Udinese conseguiu a vitória com dez homens, e com o centroavante Di Michele defendendo um pênalti (mal) batido pelo croata Vucinic, após a expulsão do arqueiro Handanovic.

Uma declaração supostamente dada por Adriano ao “Corriere della Sera” nesta segunda causou furor em Milão

O atacante brasileiro teria dito ao jornal que se sente isolado na Inter

Adriano rapidamente veio à público para desmentir a entrevista, mas é claro que o mal já está feito

Para quem não se lembra de quem é o dirigente do Venezia, Maurizio Zamparini, um “reminder”

Zamparini era o presidente do Venezia quando o brasileiro Tuta jogava por lá, e um gol seu (que valeu a vitória ao clube), foi cercado de polêmica

Tuta disse, depois do jogo, que seus companheiros teriam falado a ele para não fazer o gol

Zamparini replicou dizendo que “Tuta não sabe falar nem mesmo português, porque em sua cidade, se fala um outro dialeto”

Nooooossa! Viva a iluminação da sabedoria, não é mesmo presidente

Quando deixou Veneza, Zamparini levou para Palermo quase todos os jogadores, e o clube “neroverde” só não caiu para a terceira divisão por milagre

A Roma se interessa pelo holandês van der Meyde, da Inter

Del Neri reclama (com razão) que na Roma ele não tem externos de meio-campo, vitais para seu time (assim como eram no Chievo)

Diz-se que a chave de uma negociação seria a cessão de Cassano para a Inter

Claro, a Roma receberia o holandês e mais uma boa grana

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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