A Seleção que pode marcar as carreiras de Neymar e Ganso

Eu sei, eu sei. Faz tempo que não escrevo. Infelizmente, meu trabalho tem me deixado pouco tempo para versar sobre futebol e, na verdade, o futebol também tem feito pouco para merecer que eu perdesse meu tempo. Há, contudo, eventos que superam a normalidade pelo bizarro, como o jogo da Seleção Brasileira. Para todo mundo, o resultado e o jogo foram só bizarros e frustrantes. Menos para Ganso e Neymar. Os dois jogadores mais talentosos de sua geração estão sendo identificados como os símbolos da “Era Mano”, especialmente pelo alinhamento também extracampo com a gestão criminosa da CBF. Esportivamente, eles não tem culpa, mas a falta de atitude de ambos pode criar traumas em suas carreiras.

Derrotas deixam marcas. Derrotas em copas deixam marcas muitas vezes impossíveis de apagar. Uma derrota na Copa de 2014 vai marcar para todo o sempre a carreira de todos os envolvidos. Assim como o Brasil ainda odeia Dunga pela copa de 1990, os “rostos” da seleção de Mano Menezes, em caso de derrota do Brasil (que é uma possibilidade para lá de pertinente), carregarão essa culpa por décadas. Hoje, quase 62 anos depois do Maracanazo, Barbosa e Bigode ainda estão na cela dos culpados pela derrota para o Uruguai e, na minha opinião, só sairão de lá quando o Brasil vencer uma Copa no Maracanã. Ganso e Neymar não são, nem de longe, os culpados pelo futebol esdrúxulo desempenhado pela pior Seleção Brasileira de longa duração (a de Emerson Leão, por exemplo, foi semelhante, mas Leão era visivelmente um boi de piranha de Ricardo Teixeira). Só que, para o torcedor comum, são eles os caras. Ninguém se lembra do lateral-direito de um time numa derrota, a menos que ele tenha feito um erro que tenha custado a eliminação. São os craques que pagam. Rivaldo e Ronaldo em 1998, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Ronaldo em 2006 e Kaká novamente em 2010. Ninguém marcou Fred ou Ricardinho em 2006 ou André Cruz em 1998. Os crucificados serão o técnico e os craques.

No caso, Mano e os dois santistas.

Mano, em caso de derrota, merecerá o ostracismo. Tendo assumido a Seleção politicamente e com um currículo ridículo, ele demonstra uma incapacidade digna dos piores treinadores brasileiros somada a uma obediência séptica aos interesses que mandam na CBF. Suas convocações são completamente desconectadas da realidade (basta ver como o futebol ucraniano tem relevância em suas escolhas), ele defende caninamente Ricardo Teixeira e o aparelho montado na CBF e nem tenta demonstrar alguma independência. Se perdermos e ele for linchado pela opinião pública, merecerá cada vaia. Só o pedido de Pelé pela sua permanência demonstra quanto ela seja nefasta, tal a habilidade que Pelé tem em ter opiniões infelizes.

Mas esportivamente, Neymar e Ganso também o serão, só que sem merecer. Como não jogam no Rio, serão linchados pela imprensa carioca em particular. Mas mesmo o torcedor comum verá nos dois os “farsantes” num eventual fracasso. De nada adiantará lembrar que os dois precisaram contracenar com Réver, Jonas, Jucilei e outros seres – isso tudo sob o comando inexistente de Mano. A cara da Seleção será  a dois dois santistas e em caso de derrota, a adoração de Neymar se transformará em seu purgatório.

Como já disse, esportivamente será injusto, mas sob o ponto de vista da responsabilidade, não. Os dois não cumprem a obrigação que têm como protagonistas de se rebelar de uma forma ou outra contra a gestão usurpadora da CBF e contra a incompetência irrefutável da comissão técnica. Sim, é verdade que se pegarmos os 23 melhores jogadores brasileiros da atualidade, não teremos um esquadrão, mas ao menos um jogo aceitável seria possível. Ganso e Neymar serão vistos com rancor porque são tratados como craques consagrados e, no imaginário do torcedor, craques consagrados não podem jamais perder. A reação popular pós-Bósnia mostra como são os dois os responsabilizados por não operar milagres.

Assim, cientes de que têm muito poder no atual cenário do futebol brasileiro, os dois deveriam pensar que não podem aceitar tudo que indivíduos da estirpe de Teixeira e seu FantoSanchez determinam. Nem estou esperando que o fizessem por uma consciência socrática (para relembrar um líder que não se fantochificaria para Teixeira). Eles deviam fazer algo é para se acautelar no caso de derrota.

Há muito o que consertar na Seleção e eles deveriam exigir que o mínimo fosse feito. Se não pelo senso de responsabilidade típico dos grades homens, pelo menos porque são eles dois que pagarão o pato no caso de uma derrota brasileira. A Copa de 2014 será uma tragédia em termos financeiros para o Brasil por conta do assalto que está se fazendo aos cofres públicos, e nisso, eles só poderiam tentar ajudar se fossem muito, muito corajosos. Em campo, a covarde anuência que têm aos desmandos da CBF pode lhes custar um preço que jamais imaginariam ter de pagar. Seria uma injustiça atroz? Certamente. Mas não seria a primeira.

Neymar, Santos e o DIS (90minutos.org)
Bosnia & Herzegovina 1-2 Brazil: Papac own goal hands lackluster Selecao victory (goal.com)
Pele: Keeping coach Mano Menezes key to World Cup hopes (goal.com)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
Top