Dias atrás, com a saída de Ricardo Teixeira, todos nos sentimos um pouco aliviados. O ex-presidente da CBF era, assim como pares seus na política, uma daquelas criaturas que não largam o osso a preço nenhum. Ainda que tenha havido um alívio por parte dos que acompanham com um pouco mais de responsabilidade o assunto, esse alívio foi tão efêmero quanto a conquista de um campeonato. Os cartolas que mantinham Teixeira continuam no poder, a imprensa esportiva continua sendo amadora em sua maioria e os torcedores ainda se mantém satisfeitos com um campeonato indizivelmente ruim, onde seus clubes estão falidos e só não são fechados legalmente porque este é o país do jeitinho. Os rumo do pós-Teixeira é que serão decisivos.
Tendemos a ver os políticos como os culpados por tudo, mas a verdade é que eles são, na maioria esmagadora dos casos, o reflexo do âmago das sociedades. Se o Brasil é regido por uma cleptocracia, é porque a corrupção está em seu DNA. Teixeira simboliza isso com uma clareza rara, assim como todos os políticos de grande influência. Seu regime de horror na CBF, que dilacerou o campeonato nacional, que enterrou definitivamente os “grandes” clubes em dívidas impagáveis e que rifou a Seleção Brasileira para seus patrocinadores enriquecendo meia dúzia de vagabundos no processo, certamente deixará marcas. Nos mais de 20 anos de sua gestão, a maioria das ligas importantes do mundo se profissionalizou e levou a mídia esportiva consigo, restringindo as mesas redondas ao jornalismo circense-sensacionalista. No Brasil, o quadro é o oposto: clubes falidos, amadores ao extremo (ainda que gerindo orçamentos milionários), com alto nível de endividamento e uma imprensa esportiva que passeia entre o infantil e o caricato, com raríssimos profissionais procurando trilhar a mesma cartilha de jornalismo que bons profissionais de outras editorias.

Ricardo Teixeira conseguiu, com o suporte e apoio incondicional do ex-presidente Lula, fazer o Brasil ser sede de uma Copa do Mundo que custará o mesmo que as três últimas edições do torneio, onde 90% do valor torrado (que ainda é impossível de se calcular) vem dos cofres públicos. Diga-se de passagem que outros dois compadres de Lula, o ex-jogador Ronaldo e o ex-presidente corintiano Andres Sanches, tiveram papeis de protagonistas. Claro, cabe também uma menção ao papel que as Organizações Globo tiveram no processo. A empresa praticamente manteve Teixeira no poder para ter, em troca, a propriedade do Campeonato Brasileiro e da Seleção. A Rede Globo não foi a única parceira de Teixeira, mas certamente, foi a que mais se beneficiou. Cabe ao leitor, telespectador e internauta lembrar de todos os nomes que foram “brandos” com Ricardo Teixeira e avaliar quem é jornalista e quem é assessor de imprensa voluntário.
Não cabe espaço para falar do novo presidente da CBF. José Maria Marin é um personagem de tamanha irrelevância. Marin é um político do tipo que não deveria ter mais espaço em nenhuma sociedade moderna. Vice de Paulo Maluf, jamais representou nada nem ninguém nem deixou herança positiva alhures. O fato de o poder cair em seu colo é significativo só de como Teixeira manteve o poder longe de possíveis pretendentes, como o corintiano Sanches, que a esta altura deve estar se dando conta de que ele não é tão importante assim.
A única coisa que tem uma chance considerável de ser mudada é o nome do técnico da Seleção. Mano Menezes só se manteve no comando do Brasil porque teve obediência cega a Ricardo Teixeira. Sua falta de capacidade para dirigir a Seleção é notória, e os resultados mostram isso. A situação é ainda mais grave porque a Seleção vive uma crise geracional e as promessas ou não vingam ou rendem muito menos na Seleção do que nos seus clubes. É notório que o Brasil terá dificuldades de vencer a Copa mesmo com um treinador de qualidade.
As chances de mudança em alguma coisa além da Seleção são parcas. Os cartolas que devem comandar o futebol brasileiro agora não são melhores que o genro de Havelange – são apenas mais burros que ele. Deve haver uma nova reorganização de forças que dificilmente terá um único nome como detentor de tanto poder. O ex-jogador Ronaldo, que se revelou um político nato (na pior acepção possível da palavra) e figura fundamental na organização da Copa, deve ter papel preponderante e deve embolsar boas recompensas pelo seu papel de power broker. Os cartolas mais próximos a Teixeira devem se reagrupar em torno de outro centro de poder, mas isso ainda é nebuloso. Uma única coisa é certa: a Rede Globo continuará a mandar nos horários do futebol, os clubes continuarão a se endividar e seus cartolas, a enriquecer; nossos jogadores que passam do nível “sofrível” continuarão a ir para pólos centrais do futebol mundial como a…Ucrânia.

Ricardo Teixeira caiu mesmo. Claro que é algo em que praticamente só vão mudar as moscas, mas é uma notícia que não pode deixar de ser comemorada. Fez pouco pelo futebol brasileiro, preferindo se locupletar pelas glórias da Seleção Brasileira. Fez uma preparação ridícula para a Copa, em que nenhum estádio do futebol que dirigiu por mais de 20 anos tem condição para ter um jogo de Copa do Mundo e nem de Copa das Confederações. Ele representa um mal que infelizmente deve continuar a existir pelo fato de que os presidentes de federações pertencem ao mesmo sistema, mas é uma data para ser celebrada.
Não vou discutir se a corrupção está ou não no nosso DNA, mas tenho a “ligeira” impressão que temos é uma plutocracia. E a culpa pela nossa situação é da elite, que é a mais mesquinha, alienada, ignara etc. de todo o planeta. Como não tem ideias nem projetos para o país, ela deixa o poder para o restante da sociedade, que não foi educado para exercê-lo.
A partir daí o que podemos observar é esse circo que normalmente existe no horário político, com gente de todo tipo tentando se eleger.
E tenho que dizer que estou bem, mas bem impressionado com o Ronaldo. O cara é muito mais esperto que toda a fauna que cerca o nosso futebol – ex-jogadores, jogadores, agentes, jornalistas, agitadores culturais etc. Vai longe. Creio que não vai demorar para mandar no futebol daqui.