Celso Roth e o cavalo paraguaio

Definitivamente, não me lembro de nenhum personagem do futebol que contasse com tanta antipatia gratuita de imprensa e torcida quanto Celso Roth. No release de sua apresentação, os clubes já deveriam confirmar que ainda têm confiança nele, porque ele balança no cargo no momento que assume.

No ano passado, Roth levou um time mediano (bem mediano mesmo) ao vice-campeonato (perdido na última rodada) e tudo o que a torcida gremista fez foi fazer cara feia. Agora, comandando um time atleticano que estava cotado para – no máximo – não cair, depois de ter feito o milagre supremo de deixá-lo na ponta da tabela momentaneamente, é chamado de “cavalo paraguaio” porque perdeu para o Grêmio em Porto Alegre, Corinthians em São Paulo e empatado em casa com a sensação do campeonato e com o líder.

Sinceramente, o que torcida atleticana e imprensa acham que o elenco do Galo é capaz? Alguém, em sã consciência, conseguiu imaginar, num rompante tresloucado de delírio, que o Galo era um sério candidato ao título, capaz de concorrer com clubes que disputam os títulos todos os anos?

Esse é o melhor grupo do Galo em anos. Só que isso não significa nada em termos de lutar por este título brasileiro. Nos anos passados, o Atlético-MG era um figurante do torneio, ameaçado por sentenças judiciais, maus jogadores e diretores risíveis.

O trabalho deste ano parece a semente de um trabalho realmente sério, algo que pode reconduzir o Galo ao seu lugar no cenário nacional. Agora, caso a parte ufanista da imprensa mineira e a torcida comecem exigir títulos imediatos por causa da “grandeza” do Atlético ou outras balelas, estará enterrando as perspectivas a médio e longo prazo (porque a curto, não há nenhnuma séria). Botafogo e Flamengo (só para citar dois exemplos) ensaiaram “reconstruções” nos últimos anos mas se deixaram iludir com meia dúzia de bons jogos. Na exigências de glórias imediatas dos times de Ney Franco e Caio Júnior, por exemplo, voltaram à toada recente dos times do Rio, de começar a temporada falando em favoritismo ao título e terminando-a lutando para não cair.

Celso Roth não é um técnico sensacional, não. Não é um revolucionário nem um gênio. Agora, crucificá-lo porque o Galo está na sexta posição, entre Internacional e Corinthians – dois clubes visivelmente em situação financeira muitíssimo melhor – é de uma falta de inteligência espetacular. Que se reclame depois, quando demitido Roth, vierem os Espinosas do mercado.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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