IbrahimovInter

Dificilmente um jogador é bom o suficiente para decidir um jogo sozinho. Quando usamos a expressão “fulano acabou com o jogo”, em grande parte das vezes estamos exagerando, na tentativa de fazer um elogio à performance de um determinado atleta. Mas neste domingo, não foi este o caso.

Zlatan Ibrahimovic, um dos poucos jogadores que têm um ego tão grande quanto o de Cristiano Ronaldo (e o talento também) ganhou, sozinho, o título da Inter de Milão. Não é exagero. Podemos lembrar como Júlio César teve uma excelente temporada, que Cambiasso foi um dínamo no meio-campo e que Júlio Cruz salvou os tricampeões italianos em vários momentos. Mas o título é de Ibra.

O título é dele – sozinho – porque se o sueco não estivesse no banco, a esta altura a Roma estaria comemorando o campeonato, o Parma provavelmente estaria salvo e a torcida da Inter estaria estática, bestificada, tentando entender como pôde perder um campeonato sem nenhum adversário realmente à altura.

O atacante provavelmente jogou sem sua melhor condição física, o que faz sua performance ainda mais memorável. Assim que entrou, chutou para o gol; pouco depois, roubou uma bola de Gasbarroni e abriu o marcador. Delírio. No segundo, um cruzamento de Maicon fechou um jogo que poderia ter o seguinte placar: Ibra 2 x 0 Parma.

É impossível falar de título não merecido num campeonato de pontos corridos. Se um time faz 85 pontos em 38 jogos (média de 2.23 por jogo), não pode ter vencido por sorte. É verdade que a Inter está longe de ser perfeita e que contou muito com os defeitos dos adversários; é verdade que o clima ruim no grupo permanece o mesmo e que a próxima temporada será a mais difícil nos últimos anos. Mas se o sueco jogar uma temporada toda nesse nível, mesmo com todos esses problemas, será difícil pará-lo

A análise da temporada

Na semana que vem, a Trivela faz uma análise completa da tricampeã italiana, a Inter: pontos fortes, fracos, momentos difíceis, jogadores fundamentais e o que esperar do próximo campeonato. Não perca!

Queda dolorida e resquícios do CalcioCaos

Quando o árbitro Rocchi apitou o final de Parma x Inter, foi difícil não ficar frustrado. O clube emiliano é um dos mais legais da Série A e foi rebaixado pela primeira vez. Desde 1990, os ‘Crociati’ eram um participante ativo. Com altos e baixos, o clube soube revelar jogadores, disputar títulos e nos anos da Parmalat, até fazer frente aos gigantes.

A queda do Parma deixou o Catania na primeira divisão e isso é ruim para o campeonato como um todo. Paixões clubísticas à parte, o time siciliano é um visitante na primeira divisão, assim como foram Messina, Ascoli, Como e Treviso em anos recentes. Não freqüentam a elite com assiduidade. E a presença de tantos “nanicos” ao mesmo tempo sugere que alguma coisa está errada, especialmente quando clubes pequenos, mas tradicionais como Bari, Piacenza, Verona, Lecce, estão em ligas inferiores.

A desordem atual ainda é um sintoma claro de cómo o “Sistema Calcio” estava mesmo podre e que o escândalo do CalcioCaos não tinha como não ter aparecido. Outrora um assunto para apaixonados, o futebol atrai cada vez mais figuras obscuras em busca de oportunidades para ganhar mais dinheiro. Depois que se servem do clube, desaparecem. E isso explica porque algumas agremiações aparecem, do nada, e depois somem sem deixar vestígios.

“Mas o que o Catania tem a ver com isso?”. Tudo e nada, ao mesmo tempo. O clube “etneo” não tem uma estratégia de logo prazo, como Atalanta e Chievo (ou pelo menos não aparenta ter) para se sustentar na primeira divisão. Mesmo com uma torcida apaixonada, não dá para deixar de lembrar que o espetáculo da massa do Cibali freqüentemente vira guerra (é um dos estádios mais perigosos da Itália).

O Parma, ao contrário, vem fazendo um trabalho de saneamento financeiro muito interessante, desenvolvendo suas atividades comerciais, modernizando o estádio e – principalmente apostando em jovens como Dessena, Cigarini, Paponi, Corradini, Crisci, Moretti e outros.

Tivesse caído o Catania, a Série A não daria a mínima, enquanto competição, ainda que o clube mereça a paixão de seus torcedores assim como qualquer outro. Mas o Parma fará falta. Arrivederci, Parma.

Gattuso-Milan; Amauri-Juve: o mercado começou

A entrevista coletiva dada por Gennaro Gattuso na tarde desta segunda-feira foi o primeiro sinal do que o Milan espera fazer no seu mercado de reforços. Gattuso confirmou que levará seu contrato até o final (2011) e que espera terminar sua carreira em Milanello, o que sugere que ele ainda venha até renovar seu vínculo.

Com Gattuso, o Milan garante que não perderá nenhum de seus “senadores”. Além de Rino, Kaká, Seedorf, Ambrosini, Pirlo, Filippo Inzaghi, Nesta, Kaladze e Oddo. Até a renovação de Paolo Maldini parece encaminhada. Só que pela primeira vez desde 2001, quando o Milan buscou Inzaghi e Rui Costa, a estratégia será agressiva.

O clube anuncia um “big” para cada setor. O primeiro foi Mathieu Flamini, do Arsenal e esperam-se mais anúncios. Mas ao todo, o elenco deve ter ao menos oito rostos novos, e dão-se como certas as saídas de Cafu, Serginho e Fiori (já anunciadas) e ainda Dida, Emerson, Ba, Brocchi e Gilardino. Do time juvenil devem ser promovidos Darmián e Marzoratti (que estava no Empoli), enquanto Paloschi e Goucuff devem ser emprestados.

Na Juve, o zagueiro Olof Mellberg já está contratado e o brasileiro Amauri está praticamente certo (salvo novas investidas do Milan). O clube ‘bianconero’ faz menos estardalhaço que o Milan porque tem de dar menos satisfação para a torcida, mas não ficará parado. Almirón e Tiago devem deixar o clube e dificilmente Ranieri não pedirá um articulador, já que Nedved, com 35 anos, tem menos fôlego do que em outros tempos.

As saídas de Almirón e Tiago são ainda mais importantes em termos de estratégia quando lembramos que Nocerino deve entrar na transação de Amauri, assim como Lanzafame. Ou seja: devem chegar dois interditores de meio-campo.

Roma e Inter, ainda envolvidas com a final da Copa Itália, não abrem as cartas, mas há indícios. A Inter confirmou que está interessada em Frank Lampard (Chelsea), mas que a transação depende do êxito da final da LC; na Roma, fala-se em Gilardino (Vucinic é objetivo do Real Madrid). De agora até setembro, acostume-se com a boataria.

Chievo ok; Bologna-Lecce-Leffe pela segunda vaga

Chievo, Bologna e Pisa venceram na antepenúltima rodada da Série B, mas quem sorri é o Chievo. O time vêneto praticamente se garantiu na primeira divisão, precisando só fazer um ponto em duas partidas (Grosseto fora e Bari em casa). O Bologna bateu o Messina (3 a 0) e recuperou a segunda colocação (acesso direto), deixando Lecce e Albinoleffe a um ponto. O Pisa goleou o Ravenna (1 a 4) e mantém o Rimini à distância.

Na lista dos derrotados do fim de semana, o Lecce foi o mais surpreendente. Perdeu para o Bari em casa (1 a 2), mesmo placar da derrota do Brescia para o Rimini, enquanto o Albinoleffe sucumbiu ao Ascoli (3 a 2). Se o campeonato terminasse hoje, Chievo e Bologna retornariam, e o playoff seria entre Lecce x Pisa e Albinoleffe x Brescia.

Curtas

– Del Piero iguala uma marca de Paolo Rossi ao se consagrar artilheiro do Italiano.

– Só os dois foram artilheiros das Séries A e B.

– Trezeguet – outro juventino – acabou na segunda colocação, com 20 gols.

– Pippo Inzaghi fechou seu ano mrcando seu 100o gol com a camisa do Milan; Miccoli fez o seu 100o por clubes italianos.

– A Série A desta temporada teve 970 gols – uma mais do que a edição anterior.

– A média de gols do torneio foi de 2,55 gols por jogo

– Esta é a seleção Trivela da última rodada do Italiano:

– Sereni (Torino); Maggio (Sampdoria), J. Zanetti (Inter), Cappeli (Atalanta); Morrone (Parma), Marchisio (Empoli), Ambrosini (Milan), Inler (Udinese) e Osvaldo (Fiorentina); Ibrahimovic (Inter) e Del Piero (Juventus)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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