Com 11 vitórias consecutivas, a Inter saboreia uma ponta da tabela que nunca tinha sido tão sua em quase duas décadas. Não é nada tão surpreendente. Com os dois maiores rivais colocados no escanteio, já se espeerava que a parte alta da Série A tivesse uma cara consideravelmente mudada. Só não se sabia que seria tanto.
Tudo bem, talvez Inter e Roma não sejam surpresas. Mas o que se pode dizer dos dois quartos colocados, Livorno e Catania – o único invicto em casa no torneio além da líder Inter – empatados com 20 pontos? E o sexto posto, com um Empoli que só tem um ponto a menos? Isso para não falar do Palermo que, mesmo tendo perdido o fôlego, ainda é um time batendo no assoalho dos líderes.
Não pára aí. Entre os oito primeiros artilheiros do torneio, somente o capitão da Roma, Francesco Totti, joga em um time “grande”. Na ponta, está Riganó, do Empoli, junto com o meia-atacante romanista. Depois dele vêm Bianchi, do Cagliari, Amauri, do Palermo e Iaquinta, da Udinese, Spinesi, do Catania, Budan, do Parma e outro capitão, Corini, do Palermo. Se trata de uma coincidência ou há uma causa concreta por trás do fenômeno? Certamente não há uma causa direta, mas uma combinação de pequenos fatores.
Sem a Juventus e com um Milan intimidado, o Campeonato Italiano ficou mais pobre – literalmente. Muito menos dinheiro circulou em termos de contratações e boa parte dele foi para a Juve, que estava mais preocupada em fechar seu balanço na Série B do que em se reforçar. Com isso, o espaço que antes era ocupado pelas novas contartações vindas do exterior agora foi ocupado pelos “novos” astros.
Uma lógica parecida vale para o rendimento das equipes. Milan e Juventus tinham criado na última década uma onipotência que os colocou a grande distância da concorrência. Sem os dois, o espaço teve de ser preenchido por times menos poderosos. Os que conseguiram montar um bom elenco em termos de entrosamento e preparo físico se deram bem.
“Mas isso não explica por que a Fiorentina também está lá embaixo!”, pode argumentar o leitor. Verdade, mas aí precisamos nos lembrar que a Fiorentina também começou o campeonato sob o peso psicológico da punição em decorrência do escândalo do ‘Calciocaos’, assim como o Milan. Um certo sentimento de impotência diante da temporada dizimou o rendimento de um grupo que poderia lutar pelo título se tivesse partido em igualdade de condições.
E para finalizar, inegavelmente houve uma reação por parte dos árbitros que, em caso de dúvida, estão apitando a favor dos clubes menores. Nada para se espantar. Além de a classe arbitral ter sofrido uma renovação súbita (vários juízes foram aposentados, com nomes menos experientes sendo promovidos), a pressão moral para que se acerte nas decisões é absurda. Ambos – a pressão e a tendência de apitar a favor dos menores – tendem a se suavizar no decorrer do tempo.
Mérito dos pequenos
Além das razões circunstanciais, não dá para negar que alguns dos clubes que estão tendo uma boa temporada conseguiram reunir um misto de sorte, treino, dedicação e competência. Não que o Empoli esteja ameaçando o Barcelona, mas assistir om jogo do clube toscano é ver uma boa mostra de aplicação tática.
O time toscano, por exemplo, é uma pérola de treinamento e quase todo italiano. Luigi Cagni, o treinador, chegou na temporada passada paara salvar o time do rebaixamento. Não só o fez, como também armou uma equipe consistente e teve a sorte do mercado ser menos movimentado, o que resultou na manutenção de praticamente todo o elenco. Com o argentino Almirón como revelação do time na cabeça de área, o time joga em função do armador Vannucchi, que vagou durante anos sem se firmar. Para o Empoli, taticamente, Vannucchi é tão importante quanto Totti para a Roma.
O Livorno já mantém uma base fixa há alguns anos. Com um goleiro cobiçadíssimo pelo Milan (Amelia), o técnico Arrigoni faz a escalação em função do capitão Cristiano Lucarelli, goleador nato, que nesta temporada ganhou o importante apoio de Bakayoko, jogador hábil e muito móvel. A defesa do time se garante com o aporte dos três meio-campistas, Passoni, Filippini e Morrone, que dão grande solidez ao setor, fechando bem os espaços, mas garantindo bons passes para os contra-ataques pelas alas.
Contudo, entre os ‘nanicos’, a grande surpresa para este colunista é o Catania. Um dos promovidos com o escândalo Juve, o Catania subiu com um cheiro de quem desceria em seguida, mas ao invés disso, se aproxima da metade do campeonato perto da zona da Liga dos Campeões! Com um time titular todo italiano, o time praticamente não fez contratações na Série A, e jogadores importantes como o volante Caserta disputavam a quarta divisão até dois anos atrás.
Décima-quarta rodada da Série A:
Júlio César (Inter); Comotto (Torino), Burdisso (Inter), Mandelli (Chievo) e Pasqual (Fiorentina); Semioli (Chievo), Vieira (Inter), Corini (Palermo) e Olivera (Sampdoria) Suazo (Cagliari) e Totti (Roma).