O país da pizza

A fúria com que o escândalo do ‘Calciocaos’ se abateu sobre a Itália não deixava margem para dúvidas. Os culpados iriam ser punidos. E com rigor. A sociedade estava estarrecida. As instituições estavam em xeque e o sistema parecia pronto para o choque de honestidade que se revelava necessário há tanto tempo. Tudo isso provavelmente seria verdade, caso não estivéssemos em 2006, um ano de Copa do Mundo. Ou então, se a Itália não tivesse vencido a final.

O circo de perdões, ajustes, acertos e ajeitadas que se deu depois da Copa sob a égide de “somos campeões do mundo, não podemos estar tão errados” foi grande. É difícil se precisar o seu tamanho, porque embaixo da lona da vergonha, nunca ficou claro – exceção feita a Moggi e à Juventus. Logo, é difícil dizer se o Milan tinha de estar na Série B mesmo; se Lazio e Fiorentina tinham de estar na Série C1 e a Juventus, na Série C2.

Nesta semana, uma enrevista do ex-treinador Arrigo Sacchi para um programa da rádio italiana voltou a abrir a ferida. “Nada está mudando e Moggi tem razão quando diz que punindo somente ele não se resolvem os problemas. É difícil encontrar lealdade, um ‘fair-play’ que não é nosso hábito e creio poucos queiram”, disse.

O discurso de Sacchi é um retrato cru da verdade. Nas últimas semanas, ficou claro que também a Inter mexia os pauzinhos para manipular e pressionar, como por exemplo quando colocou o árbitro Massimo de Santis sob vigilância. Se não vencia,é porque Moggi era mais ‘competente’.

A Copa do Mundo fez mal ao futebol italiano, ainda que isso não seja perceptível a curto prazo. A Itália tinha uma chance excelente de fazer uma desinfecção como merece o campeonato mais difícil do mundo. Preferiu assumir a mesma postura que o Brasil em 1994, quando todos os pecados de Ricardo Teixeira foram deletados e a vergonha foi oficializada no asqueroso “Vôo da Muamba”, onde o país permitiu a entrada de contrabando simplesmente porque pertencia à Seleção.

Claro que é sempre melhor ganhar do que perder desde que o resultado seja honestamente conseguido. Mas neste caso, a ferida supurada do futebol italiano, que tinha explodido e mostrado a cara, foi acobertada por mais algum tempo. Para sabermos se por muito ou pouco, precisaremos aguardar. Pior: a Itália corre o risco de oficializar o ‘jeitinho’, que é uma das razões para 99% dos males no Brasil. Mas anote aí: novos capítulos escandalosos do futebol italiano virão à tona mais cedo ou mais tarde.

E a prova disso…

…é que, apesar de um incrível mafuá que alguns dirigentes de clubes da Série B estão fazendo, a Juventus pode receber um abrandamento em sua pena. E aliás, diga-se, um abrandamento bastante razoável. Simplesmente a Juve poderia ter a sua punição de 17 pontos reduzidas a zero, e automaticamente, passar da última à primeira posição, em uma reação jamais vista na história do futebol.

O presidente do Napoli, Dino De Laurentiis, está apoplético de tanto gritar. Até o presidente do Genoa, que foi rebaixado da Série A à Série C por ter sido flagrado mutretando uma partida, endossa o coro dos que querem justiça. Todos exigem que a Juventus tenha sua punição mantida.

O maior argumento dos juventinos e simpatizantes é o de que “a Juventus pagou mais do que os outros”. Naturalmente, se trata de um argumento pobre como o pior momento de Biafra. A Juventus tem mesmo de pagar mais do que os outros porque – na melhor das hipóteses – venceu desonestamente dois títulos. Se outros envolvidos se esgueiraram, que a letra fria da lei também os condene. Mas, de qualquer modo, é a Juve que tem de pagar o maior preço.

O que não pode acontecer é, por causa de acordos e de um clima de ‘anistia geral’ gerado pela Copa, se passe a mão na cabeça do maior campeão italiano de todos os tempos. Até porque o torcedor juventino sabe que precisa passar por esse purgatório para tirar as máculas deixadas por uma corja imensa.

Tirar a punição da Juve significa, basicamente, lhe entregar a promoção. O elenco juventino poderia disputar até mesmo o título da Série A. Na segunda divisão, vai nadar de braçada. Como disse De Laurentiis, mesmo com a punição, a Juve deve ficar com uma das vagas na próxima Série A. Se mantida a punição, ao menos não se aumenta a vergonha.

– Uma interessante matéria da Gazzetta Dello Sport listou quais os dez jogadores que trocaram de clube estão tendo o melhor desempenho.

– E também as dez contratações ‘flop’

– Abaixo você vê a lista dos 20 nomes, seguidos pela média que cada jogador teve na avaliação da Gazzetta.

– As dez melhores
1. Dacourt (Inter) 6.80
2. Crespo (Inter) 6.70
3. Mutu (Fiorentina) 6.60
4. Manninger (Siena) 6.60
5. Boudiannski (Ascoli) 6.50
6. Marzoratti (Empoli) 6.50
7. Leon (Reggina) 6.50
8. Corona (Catania) 6.40
9. Matteini (Empoli) 6.40
10. Amauri (Palermo) 6.40

– Fracaaaaaaaaasso..
1. Olivera (Sampdoria) 5.20
2. Abbiati (Torino) 5.20
3. Di Loreto (Torino) 5.20
4. Mariano Gonzalez (Inter) 5.25
5. Favalli (Milan) 5.25
6. Fiore (Torino) 5.30
7. Kosowski (Chievo) 5.33
8. Gobbi (Fiorentina) 5.33
9. Lukovic (Ascoli) 5.38
10. Ciaramitaro (Parma) 5.38

– Sobre a decisão final em relação às punições: a data é 30 de outubro.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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