Aos trancos e barrancos

Para assumir a liderança do campeonato, a Inter precisava torcer contra Palermo e Roma e vencer o Catania em casa. A última tarefa não era nem considerada, porque sob qualquer cenário se espera que um time como o ‘nerazzurro’ vença uma equipe como o Catania com certa facilidade.

Pois a sorte sorriu para a Internazionale. Roma e Palermo fizeram suas piores partidas nesta temporada, perdendo para Reggina e Atalanta, respectivamente. Mas por pouco a Inter não se complica sozinha, como é de seu feitio, sem ter ninguém para poder usar como atenuante.

Não que o Catania tenha jogado espetacularmente bem. A Inter, é que, mesmo sendo um time poderoso, sofre de uma falta de leveza impressionante. No papel, a equipe que foi à campo neste domingo em San Siro é um timaço. Mas ele ainda soluça na hora de fazer o solo.

Boa parte da responsabilidade dessa falta de fluência se recai sobre a fase de Adriano. É impressionante como o atacante brasileiro passa por um mau momento. Mesmo entendendo que ele quer sair do clube e tal, um atacante que fica 17 jogos sem marcar um gol pelo seu clube – sem nenhuma contusão – é de se estranhar.

Adriano não marca desde março, quando anotou na vitória contra a Sampdoria em San Siro. Sem ele, o time de Roberto Mancini ainda tem grandes opções de ataque, mas não tem um homem de área. Ibrahimovic é um grande jogador, mas precisa de espaços; Crespo pode jogar no meio da área, mas não é Adriano. Julio Cruz é um reserva e com futebol de reserva, embora sempre compareça quando precisam dele.

A sorte interista até aqui é a de poder contar com um meio-campo muito sólido – ao menos neste começo de temporada. Dacourt e Cambiasso (ou Stankovic, como no último domingo) dão consistência a um setor que vacila há anos. Pelas laterais, a Inter também tem tido opções boas, ainda que se o time não tenha sofrido uma grande pressão até agora.

O drama do time é essa pressão. Duas rodadas atrás, quando o elenco ‘nerazzurro’ perdeu na Liga dos Campeões, já começou a caça às bruxas, mesmo sendo ridículo falar em crise com quatro jornadas. Esta carga não ajuda em nada o grupo, que não é coeso, não joga junto há muito tempo e não tem líderes.

A Inter ainda é a favorita para o título, porque o Milan também atravessa um momento pantanoso, a Roma tem um elenco curto e o Palermo deveria se focar numa vaga na Liga dos Campeões ao invés de um sonho megalômano de seu presidente. Contudo, para Mancini e seus jogadores serem campeões, eles precisam abrir uma folga na tabela neste começo de torneio. Assim, poderão gerenciar a pressão no final. Se estiverem no pau-a-pau nas últimas rodadas, daí vai precisar mostrar algo mais que talento: precisará de frieza e maturidade. Duas palavras que não existem em Appiano Gentile há quase duas décadas.

1000

Uma entrevista de Paolo Maldini à Gazzetta Dello Sport na semana passada trouxe uma novidade que o mundo do futebol não pode deixar de comemorar. ‘Il Capitano’ anunciou que não parará de jogar em 30 de junho, o que já era dado como certo. Um certo alívio para um clube que não passa sem o seu líder há mais de 20 temporadas.

Outra novidade é a de que Maldini disse ter pedido ao técnico Carlo Ancelotti que abolisse as concentrações. Ele argumenta – com razão – que os jogadores têm de saber evitar os excessos e devem ir à concentração somente se precisarem de sossego. Senão, ficariam em casa com a família.

A matéria também levantou um dado interessantíssimo. Depois de ter batido o recorde de presenças na história da Série A (com 586 jogos), Maldini quer chegar à marca surpreendente de mil jogos oficiais. Isso: mil jogos oficiais. Rachões, amistosos e partidas beneficentes não contam (viu, Romário?). Para tanto, faltariam apenas 41 jogos, marca atingível ainda nesta temporada.

A carreira de Maldini é realmente digna de livro. Quantos outros jogadores na história jogaram tanto quanto ele e ainda vestindo somente duas camisas – a de um time e a da seleção? Pouquíssimos. Além disso, tecnicamente, um dos defensores mais completos de todos os tempos. Todos os italianos e apreciadores do futebol – milanistas e rivais – querem ver o capitão do time chegar a mais esta marca. Maldini só precisa evitar a ‘Síndrome de Cafu’, que não se aposentou na hora certa (da Seleção, no caso), e acabou se comprometendo.

Chievo refaz dupla com Del Neri

Esta coluna sempre defendeu a tese de que demissões de treinadores implicavam numa falha e que frequentemente levavam a uma conseqüência. A falha era na escolha do técnico, a ser feita pela diretoria, antes do começo do torneio. A conseqüência era o rebaixamento do time no final da temporada.

Durante a maior parte da história do campeonato italiano, essa máxima foi respeitada. Nas últimas temporadas, times que trocaram de treinador para fugir do rebaixamento não se deram tão mal assim (Siena e Palermo no ano passado, por exemplo). E em algumas – raras – ocasiões, a troca até parece ser um bom augúrio.

O retorno de Luigi Del Neri ao Chievo era uma coisa que muita gente esperava. Os simpatizantes, para poder voltar a ver o time fluido e objetivo que ele comandou na Série A por dois anos sem ter nenhum grande jogador. Os detratores, para ver o Chievo que ele mesmo criou afundar na Série B também pelas suas mãos.

Retornar a um clube no qual já se fez sucesso é arriscado. Normalmente se retorna com altas expectativas (porque raramente um clube recontrata um fracassado) e elas são difíceis de se preencher porque bastante coisa mudou. Por outro lado, Del Néri conhece boa parte deste grupo do Chievo, tem talento para trabalhar em equipes modestas e usa o mesmo módulo que seu antecessor Giuseppe Pillon vinha usando: um 4-4-2 tradicional.

Por isso mesmo, Del Neri deve mexer pouco na estrutura do Chievo e usar seus dotes de motivador. Seu time tem dois alas com grande capacidade (Semioli e Luciano) e é por ali que ele deve montar a retomada. O time agora redimensionou sua temporada, depois do péssimo começo, e se escapar do rebaixamento, já terá feito bastante. Assim, com um contragolpe rápido ele só terá de azeitar a defesa como tinha feito no seu Chievo I.

Dará certo? Tudo pode acontecer, mas é difícil imaginar um fracasso fragoroso, como o que ele mesmo teve no Palermo. O clube siciliano tinha um elenco inadequado para jogar como seu Chievo – e esse Chievo tem um esqueleto muito parecido com aquele. Uma série de bons resultados logo de cara é vital. Daí, quem sabe, o Chievo possa até sonhar com a Europa no fim do torneio, se tudo correr às mil maravilhas.

– O Milan contratará mais um atacante na janela de transferências de janeiro e provavelmente cederá Borriello.

– Ryan Babel, do Ajax, é um dos indicados e pode chegar com outro ‘lancieri’: Wesley Sneijder.

– Gattuso anunciou que terminará a carreira no Rangers, da Escócia.

– Sete jogadores italianos estão entre os indicados ao ‘Balon D’Or’ da revista France Football.

– Gianluigi Buffon (Juventus) , Fabio Cannavaro (Real Madrid), Gennaro Gattuso (Milan), Fabio Grosso (Milan), Andrea Pirlo (Milan), Luca Toni (Fiorentina) e Gianluca Zambrotta (Barcelona).

– Seleção Trivela da rodada:

– Castelazzi (Sampdoria); Dainelli (Fiorentina), Kuffour (Livorno) e Kaladze (Milan); Mascara (Catania), Tissone (Atalanta), Leon (Reggina) e Stankovic (Inter); Toni (Fiorentina), Iaquinta (Udinese) e Bonazzoli (Sampdoria);

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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