A justiça tarda…

Há três anos atrás, quando a Fiorentina retornou à Série A, com uma virada de mesa malandrona, a sensação que ficava para a maioria dos amantes do esporte era a de frustração. Rebaixada à Série C no ano anterior, a ‘Fiore’ tinha evitado a segunda divisão através de politicagem E essa é uma marca que nunca mais sai.

Contudo, talvez as traquitanagens dos donos do clube finalmente acabem fazendo jus ao ditado “A justiça tarda, mas não falha”. Vivendo no Brasil, sabemos que isso é uma mentira deslavada, mas neste caso, a possibilidade de ver o certo acontecendo de maneiras tortas está aumentando.

Isso porque a Fiorentina – indiscutivelmente um dos melhores elencos da Série A – começou o campeonato de maneira tão ruim e com tão pouca paz de espírito que a hipótese de um rebaixamento não deve ser descartada.

Hoje, a Fiorentina é ultimíssimíssima (a palavra não existe, mas era necessário criá-la). Com um saldo de 16 pontos para descontar, para piorar a situação ‘gigliata’, os clubes que se esperava que fossem os sacos de pancada (como Catania, Empoli e Ascoli) estão todos experimentando um bom começo de torneio.

O problema é de tal ordem que mesmo o calmíssimo treinador Cesare Prandelli perdeu a paciência numa coletiva e desancou a imprensa e a torcida, a quem acusou de “falta de apoio”. A cólera de Prandelli é um concreto sinal de como as coisas não vão bem no Artemio Franchi de Florença.

Se o elenco é bom, o técnico e bom, só pode ser uma coisa: os jogadores estão sentindo que o bicho vai pegar e quem pode, está só pensando em sair. Este é o caso nítido de Luca Toni, que já tentou pressionar para ser vendido em agosto. Mas pelo menos outros cinco também estão com coceira no pé.

Com derrotas para Livorno, Internazionale e Udinese, a Fiorentina está vendida na jogada. Se nas próximas 34 partidas, o clube conseguisse manter a média de pontos por partida do Milan, no último campeonato válido e disputado no campo (2003-04), e fizesse 82 em 34 jogos, conseguiria terminar em quarto lugar naquele ano (66 pontos).

Estaria bom, claro, mas devemos considerar que estamos falando de uma média de pontos estratosférica. Por exemplo: se o clube tiver a mesma média da temporada passada (ainda excelente, quase dois pontos por jogo), com punição e tudo, terminaria o ano na zona Uefa e olhe lá.

Ainda há tempo e elenco para que a Fiorentina consiga uma posição relativamente tranqüila na tabela. Para isso, é preciso que haja uma mudança de rumo imediata. Seria melhor abrir mão de Toni – caso este esteja mesmo querendo sair – e apostar tudo em Prandelli. Se a Fiorentina caísse, seria uma pena, por um lado. Por outro, não seria nem um pouco injusto.

Seedorf e Ancelotti se desntendem

No final do jogo do Milan em Livorno, o técnico Carlo Ancelotti não agüentava mais gritar quando disse ao meia Seedorf: “Vocês estão jogando muito lentamente. Passem a bola mais rápido”, disse, ouvindo do holandês a seguinte resposta. “Você poderia parar de só criticar e pensar mais em treinar o time”. Ancelotti: “Sorte sua que não tenho mais substituições, porque senão você saía já”.

O clima ficou ruim? Ficou. O próprio técnico admitiu, adicionando que não agüenta mais as câmeras em cima dele o tempo todo (um desentendimento entre ele e Kaká já tinha dado o que falar). Fez-se um burburinho, mas aparentemente a crise foi superada depois de uma conversa entre os dois, diante de todo o grupo, durante o treino, fechada por um aperto de mão e o aplauso do elenco. Sob o olhar das câmeras, claro.

Isso tem relevância? Bem, se o Milan fosse só alegria, não. Mas depois de um verão conturbado, o Real Madrid tentando contratar Kaká à força, saída de Shevchenko, punição em pontos e o retrospecto todo (que ainda inclui a derrota de Istambul), o torcedor do Milan coça a cabeça. E com razão.

Não é mistério que Ancelotti trate os jogadores abertamente, ao contrário de Fabio Capello ou Alex Ferguson, por exemplo, que adotam a política do “escreveu, não leu, o pau comeu”. Discussões no seu grupo são relativamente comuns. O que não é comum é o Milan sem vencer nada há dois campeonatos e sob uma considerável pressão para fazê-lo – sem ter feito nenhuma grandíssima contratação.

Esta temporada decide a vida de Ancelotti no Milan. Parece cada vez mais claro que ele está mais e mais sem fôlego para crises. A cura é simples: vencer um título, preferencialmente um da Liga dos Campeões. Sem um troféu de peso nesta temporada, o Milan de 2007 terá caras diferentes. No campo ou no banco.

– A situação de Kaká no Milan ainda está longe de poder ser chamada de calma.

– O Real Madrid, ignorando completamente qualquer orientação de Fifa ou Uefa, admite que tentará comprar o meia brasileiro no verão europeu de 2007.

– Kaká não tem problemas no clube, mas se o Real insiste tanto, é porque tem algum tipo de simpatia por parte do jogador.

– A Inter venceu dois jogos e de “crise”, já se passou a falar em título.

– Um deles, contra a Roma, mostrou mesmo um bom futebol, mas é esse temperamento maníaco-depressivo que faz o clube sofrer tanto para vencer.

– Esta é a seleção Trivela da 4ª rodada.

– Calderoni (Atalanta); Ferrari (Roma) Galante (Livorno), Mexes (Roma), Modesto (Reggina); Cordova (Messina, Kaká (Milan), Vannucchi (Empoli); Suazo (Cagliari), Montella (Roma)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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