O que ocorre com o Imperador

Na temporada 2002/03, o Parma tinha descoberto uma nova jóia. Tinha perdido Crespo para a Internazionale, mas em troco recebera um Adriano que ainda era tratado com escárnio no Brasil. A lembrança era a do desengonçado atacante que Zagallo tinha dispensado do Flamengo em troca de meio Vampeta.

Um gol do atacante no início de dezembro solidificou a imagem que se teria do atacante. Jogando no Ennio Tardini, Adriano recebeu a bola na intermediária e avançou rumo à área da Reggina. Mesmo com os defensores calabreses se pendurando em sua camisa para tentar derrubá-lo, o ‘tanque’ parmigiano não caiu e na entrada da área, disparou uma bomba no ângulo direito do goleiro Belardi.

Aquele era o Adriano que a Inter levaria de volta à San Siro para substituir Vieri. Um jogador fortíssimo fisicamente, que poderia servir como referência dentro da área para a incursão de meio-campistas. E acreditava tanto nisso que até dispensou o próprio Vieri, para um ídolo que duraria pelo menos uma década.

Quem vê Adriano jogando hoje pela Inter (e pela Seleção também) não vê nem sombra do tanque letal que jogava no Parma, ao lado de Mutu e treinado por Cesare Prandelli – hoje ambos na Fiorentina.

O Adriano dos últimos meses é um jogador que não tem a mesma vontade de outrora, deixa-se mercar com facilidade, perdeu precisão no arremate, não abre espaços e raramente levanta a torcida. Seria o caso de falar em uma decadência de um jogador tão jovem?

Muitos procuram culpados para a derrocada técnica de Adriano, e o mais simples, claro, é o técnico – como sempre. Um jornalista brasileiro conseguiu até mesmo uma ‘exclusiva’ com Adriano na qual ele ‘desabafou’ e criticou o técnico Roberto Mancini, culpando-o pelo seu mau momento.

Porém, não se iludam. Apesar de Mancini ter a sua parte de responsabilidade no eterno caos que é o vestiário interista, ele está longe de ser o maior culpado – tanto na performance do atacante quanto na do time como um todo. Adriano está jogando mal porque quer sair do clube. E já faz algum tempo.

O que se diz nos bastidores é que Adriano foi convencido a trocar de clube por seu empresário. O que originalmente era só uma pressão subliminar acabou azedando completamente seu relacionamento com todos dentro do clube, desde jogadores até técnico.

Segundo uma fonte que vive o dia-a-dia da Inter, o agente de Adriano teria se entusiasmado com propostas de Real Madrid e Chelsea antes da Copa, tanto pela questão financeira como também pelo que ele considera uma falta de ambição interista. Se diz também o agente de Adriano teria se cansado de ver seu assistido responsabilizado por toda e qualquer coisa que dá errado no clube.

A questão ‘Inter’ é um problema à parte, do qual o leitor desta coluna já está farto. Todo o ambiente de via Durini e Appiano Gentile é tão impregnado por uma política rasteira que ninguém consegue se impor como um líder – nem em campo nem fora dele.

Não, Adriano não está jogando mal por causa de Roberto Mancini e qualquer acusação neste sentido cai por terra quando nos lembramos das performances dele na Copa. A esta altura, depois de ter sido criticado publicamente por Adriano, Mancini tem todo o direito de não ter mais nenhum afeto pelo atacante, mas fosse somente esse o problema, Adriano teria voado baixo quando ainda estava ‘de bem’ com Mancini – e isso não aconteceu.

Solução? Adriano deveria vir à público e afirmar que quer sair da Inter com todas as letras. Faria a melhor coisa por sua carreira, pois se preservaria pessoal e profissionalmente, bem como seu empresário deveria esclarecer que também prefere ver o atacante fora do clube. Ficar pensando em tramóias e complôs – como o Brasil já fez com Ronaldo em 2002, é um exercício inútil de criatividade.

Não será assim tão fácil

Não, ninguém está dizendo que a Juventus não conseguirá a promoção ou que o empate de estréia do time piemontês em Rimini, pela Série B, tenha um significado premonitório. O que é fato é que o 1 a 1 com um time considerado modesto mesmo na segunda divisão serviu para a Juventus se ligar que, mesmo sendo infinitamente melhor, terá de suar a camisa.

Prova disso é que logo depois do resultado, o elenco todo foi reunido no Delle Alpi, onde a diretoria e o técnico deram uma comida de rabo geral. Com elegância, mas uma comida. Uma lembrança de que um fracasso em conseguir a promoção seria uma hecatombe que explodiria na carreira dos próprios jogadores.

A prova da reação já começou a se fazer ver em Crotone, onde um 3 a 0 tranquilo garantiu os três pontos. Destaques: Bojinov, um talento a ser trabalhado e Boumsong, zagueiro francês que virou piada no futebol inglês, mas que o treinador Didier Deschamps aposta que será ‘nível Juventus’.

As surpresas com duas rodadas

Num torneio completamente condicionado pelas punições do ‘Moggigate’, alguns times foram bem nas duas primeiras rodadas, a ponto de criar algumas expectativas sobre seus destinos na temporada, não só pelo resultado, mas também por um padrão de jogo envolvente.

Começando de baixo, uma surpresa negativa: a Fiorentina patinou nos dois primeiros jogos somando zero pontos, atraindo a ira da torcida e imprensa e causando um ataque de fúria no treinador Cesare Prandelli, que acha que o time sofre uma crítica injusta. Ele tem razão. Mesmo se a ‘Fiore’ não começou como devia, não jogou mal contra a Inter e contra o Livorno, sofreu o gol num lance de sorte – ou azar. O único problema é que a punição de 19 pontos precisa começar a ser tirada logo, ou o rebaixamento pode se tornar inevitável.

No topo, o Empoli de Luigi Cagni surpreende. Com uma defesa toda italiana e sem nenhuma estrela, o time faz um ‘pressing’ sufocante na intermediária , comandado por um zagueiro de origem (Moro) e tem dois armadores (Vannucchi e Buscé) e um atacante recuado (Matteini) alimentando Saudati. Não vai brigar pelo título, mas pode assegurar uma permanência tranqüila na Série A antes de maio.

Individualmente, o maior destaque é o ex-atalantino Rolando Bianchi, atualmente na Reggina. Desprezado pela Atalanta e pelo Cagliari no ano passado, Bianchi tem jogado excepcionalmente bem, ainda que seu time não esteja pontuando como precisa. O jogador fez 4 gols nas duas primeiras partidas e já chama a atenção de clubes para a janela de janeiro. Um nome para se seguir com carinho.

– Este colunista pede desculpas pela não publicação da coluna na semana passada, por problemas operacionais.

– A morte do presidente interista, Giacinto Facchetti, uniu a Itália em belas homenagens na semana retrasada,

– Facchetti fez no futebol italiano o equivalente ao que fez Nilton Santos no Brasil: foi o primeiro lateral a descer ao ataque apoiando, sem se descuidar de seus papéis defensivos.

– Também como o herói botafoguense, Facchetti era tido como um exemplo de profissional e homem.

– Além de Bianchi, o hondurenho Leon também tem chamado a atenção na Reggina.

– O atacante é rápido, mas suas cinco temporadas italianas melhoraram muito foi a sua disposição tática.

– E esta é a seleção Trivela da segunda rodada do Italiano.

– Agliardi (Palermo); Bonera (Milan), Alessandro Lucarelli (Reggina), Mexes (Roma) e Tonetto (Roma); De Rossi (Roma), Volpi (Sampdoria), Vannucchi (Empoli) e Leon (Reggina); Ibrahimovic (Inter) e Di Natale (Udinese).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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