Decidido uma ova!

É verdade. É a Juventus. Ou seja: não conte com que ela esteja morta antes da missa de sétimo dia, porque ela já se levantou do caixão inúmeras vezes. Mesmo com a capacidade de se voltar do mundo dos mortos, como muitos políticos brasileiros, esta Série A, que parecia decidida, voltou a ficar aberta. E como!

Se não fosse uma derrota boba para um Lecce já rebaixado, o Milan agora estaria na liderança da Série A, junto com a Juventus. E isso graças aos gols milagrosos de Cannavaro e Trezeguet nas últimas duas rodada, que impediram duas derrotas certas.

Se o campeonato tivesse mais cinco rodadas, o Milan seria favorito para o título com folga. Mas com três jornadas para o final, a Juve ainda tem as cartas na mão para gerenciar a ponta. Só que a tarefa, que era simples, agora está sob pressão. E se a Juve não conseguir os três pontos em Siena, pode mandar tudo para as blicas.

Uma matéria da Gazzetta Dello Sport sugere que a tese de que a Juventus esteja no bagaço não procede porque os titulares do Milan jogaram tanto ou mais do que os juventinos. Não deixa de ser verdade, mas o texto não leva em conta o fato de que o Milan começou sua preparação quase vinte dias depois da Juventus por causa da final da Liga dos Campeões.

Assim, mesmo que milanistas e juventinos tenham tido o mesmo número de jogos, os lombardos começaram o campeonato tropeçando na própria sombra, enquanto os piemonteses saíram com as turbinas no máximo. Em dezembro não havia uma equipe como a Juve na Europa em termos de aproveitamento. Mas entre os clubes que venceram as maiores ligas da Europa, os ‘bianoconeri’ foram os que se cansaram primeiro.

Outro ponto deixado de lado é que se os dois times titulares jogaram a mesma coisa na média, os elencos como um todo foram aproveitados de forma diferente. Exemplo: na Juventus, Olivera jamais entrou em campo, enquanto Zebina, Pessotto e Birindelli (machucado) fizeram menos de dez jogos, contando as substituições. No Milan, o único que jogou menos de 10 vezes é o brasileiro Amoroso. Mesmo jogadores que se machucaram como Maldini e Cafu fizeram cerca de 15 jogos – sempre contando dados somente da Série A.

O calendário de ambos os clubes se equivale mas para a Juventus isso nem faz tanta diferença. Isso porque o problema juventino é físico e não técnico. Mesmo jogando contra times muito inferiores o time de Capello vai sofrer porque não tem pernas e o jogo de Capello depende muito disso.

Agora, o vento está soprando atrás do navio milanista. Kaká e companhia é que têm clara vantagem e estão ganhando terreno rapidamente. A Juve precisa fazer sete pontos em três partidas para não depender de tropeços do Milan. Na Itália, isso não é fácil.

Manobra de empresário disfarçada de jornalismo

Na semana passada, uma entrevista de Adriano dada a um site brasileiro causou um belo randevu na Itália. “Amargurado” (segundo palavras do jornalista que o entrevistou), Adriano desceu a boca, por telefone, na Inter, na diretoria, no técnico Mancini, nos colegas de time, em todo mundo, Só poupou – convenientemente – o presidente do clube, Massimo Moratti. ‘Conventientemente’ cabe porque o desabafo ‘repentino’ de Adriano vem num momento extremamente adequado para ele, que não é dado a rompantes verbais.

Não há motivos para se desconfiar da lisura do entrevistador, que disse ter conseguido o contato fortuitamente. Contudo, o “desabafo” de Adriano soa artificial por uma série de razões e levanta muitas dúvidas quanto às razões que teriam o levado a radicalizar justamente agora.

Aumentando a ‘coincidência’, começa a se falar na Itália e na Espanha de um interesse do Real Madrid por Adriano, onde o camisa 9 ‘nerazzurro’ tem muitos admiradores. E – veja que surpresa – o Real tem dois jogadores que gozam de muito prestígio da Inter: Cassano e Ronaldo e – outra surpresa conveniente – estão desconfortáveis na capital espanhola.

Quando jogadores de futebol dão entrevistas “desabafando”, raramente eles estão mesmo dando vazão às suas emoções, que são violentadas por um mundo cruel. Arrumar briga com o treinador significa anunciar que está para sair. Assim tem sido e a máxima só não vale para clubes que tenham uma política draconiana com jogadores e empresários, como é o caso da Juventus, por exemplo, que acaba com amarguras de atletas deixando-os assistir os jogos pela TV.

Adriano certamente está sendo mais criticado do que deveria pela crise da Inter, que é endêmica e crônica. Contudo, falar de “máfia argentina” é uma bobagem inqualificável – exatamente como era quando Ronaldo acusou Hector Cúper de deslealdade. Ele – Adriano – quer sair para ganhar mais dinheiro e jogar num clube mais poderoso. É simples assim. Endossar a teoria do complô é fazer o jogo de seu empresário.

A série de coincidências que ‘força’ Adriano a ter de pensar em deixar a sua ‘amada’ Internazionale e ter de cogitar a horrível possibilidade de ir ganhar muito mais em Madri ou em Londres pode ser verdadeira. Da mesma forma que os Estados Unidos também podem estar no Iraque preocupados com o bem-estar dos iraquianos e não com o petróleo. Não há provas para desmentir. Cabe ao leitor tirar suas próprias conclusões.
Série B vai mexer fundo

As últimas notícias que o futebol italiano deu ao mundo sobre a sua capacidade de gerenciamento foram sempre ruins. Doping, escândalo de apostas, viradas de mesa, árbitros ‘mandrakes’. Os próprios italianos não conseguiam esconder a vergonha de como o futebol mais famoso do mundo andava.

Nesta semana, a Série B da Itália contraria a tendência da lama. Algumas medidas foram tomadas para diminuir o riscos dos clubes que gastam mais do que podem e também para estimular as divisões de base.

A mais polêmica e que deve pegar mais fundo é a de limitar os elencos. Os clubes podem ter quantos jogadores quiserem, mas só poderão utilizar 22 durante o campeonato. O clube precisará apresentar a sua lista quando se fecha a janela de transferências, que pode ser atualizada na janela de janeiro – sempre com 22. Além disso, quatro atletas do elenco terão obrigatoriamente de ser da divisão de base – com pelo menos quatro anos nas divisões do clube.

As finanças dos clubes também sofrerão mudanças, passando a ter um teto salarial que começa com 70% em 2006/2007 mas deve diminuir para 60% até 2008. Isso é para assegurar pagamento de salários e para conter o aumento das folhas salariais.

As medidas na Série B ainda devem ser debatidas, mas o sindicato dos atletas da Itália está reclamando dizendo que a diminuição dos elencos causará desemprego.

O Milan negocia com Lecce e Newcastle para contratar Vucinic e Emre.

O turco seria o substituto para Pirlo.

Esta é a seleção da 35ª rodada da Série A:

Peruzzi (Lazio); Gamberini (Fiorentina), Nesta (Milan), Balleri (Livorno), Serginho (Milan);Guzman (Siena), Gattuso (Milan), Morfeo (Parma), Jankulovski (Milan); Lucarelli (Livorno) e Rocchi (Lazio).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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