Internazionale de volta?

Um derby que termine em 3 a 2 – qualquer um – já em um valor intrínseco. Sempre que rivais se enfrentam, com muitos gols e placar apertado, além de um gol no último minuto, a torcida sai feliz. E é isso que vale no futebol, mais do que qualquer outra coisa.

A torcida da Inter enfiou o pé na jaca na noite do último domingo. O gol de Adriano merece ser comemorado, ainda que tenha surgido da enésima falha crassa defensiva milanista nesta temporada. Dida teve uma atuação para se esquecer e todos os mecanismos do setor precisam ser revistos (leia abaixo). A vitória interista já deixou a corte ‘nerazzurra’ falando grosso. Mas é para tanto?

A resposta é não. Verdade que a Inter foi sempre mais determinada que o Milan, mas isso não é muita coisa. O time de Carlo Ancelotti estava visivelmente extenuado depois do jogo contra o Schalke 04 pela Liga dos Campeões, além do futebol irregular que vem apresentando. Some-se a isso o fato de que o primeiro gol da Inter veio com um pênalti inexistente e os outros dois aconteceram em paralisias em bloco na retaguarda ‘rossonera’.

O time de Roberto Mancini ainda é um grupo de bons jogadores – muitos deles, supervalorizados. Luis Figo, Cambiasso, Córdoba e Adriano têm jogado o suficiente para pode figurar em qualquer grande time europeu, mas todos os outros têm muito mais cartaz do que futebol. Júlio César ainda não provou ser um gigante, bem como não são dignos do Olimpo nomes como Verón, Solari, Martins e Burdisso, para citar alguns.

E se a vitória interista rendeu uma segunda posição a ‘apenas’ dez pontos da Juventus, o clube do Piemonte seguiu na sua toada, massacrando o Cagliari como o açougueiro que quebra o pescoço de um frango. Mesmo que a Inter mantenha a atual forma – que não é muita coisa – só tem chances se a Juventus começar a patinar. E de longe, de muito longe, a Juventus é o melhor time italiano hoje.

Talvez outros clubes tenham nomes mais mediáticos, mas quem na Europa tem o meio-campo igual ao juventino? E quem tem uma defesa com Cannavaro, Thuram, Zambrotta e o aprendiz Chiellini? Ninguém. Só o Barcelona e o Milan têm ataques com o mesmo poder, mas ambos perdem na defesa e meio.

Essa supremacia juventina é o maior impedimento para a Inter começar a sonhar com o ‘scudetto’. Se não tiver afobação nem subir nas tamancas, o time de Adriano tem uma base de onde pode começar a sonhar com o final de seu jejum. Contudo, só em algum tempo. Ou então se a Juventus tiver uma queda de produção sensível E o Milan também não encontrar o caminho de casa. Ou seja, com muita sorte.

O rei está nu

Depois da derrota na LC da última temporada, suspeitou-se de um problema sério na estrutura milanista. Jogadores, dirigentes e a comissão técnica negaram e disseram que tudo seria superado. A temporada começou titubeante e novamente veio a sombra da dúvida. Algumas boas partidas, como na vitória sobre a Juve e mais uma vez, deixou-se para lá. Agora, não dá mais para esconder. O Rei está nu e alguém que arranje um jeito de vesti-lo.

Outrora a melhor do mundo, a defesa milanista hoje é digna do pior campeonato brasileiro. Bem, talvez não tanto, mas o certo é que o modo mais fácil de se marcar um gol no Milan é numa jogada de bola parada, especialmente se o ‘highlander’ Maldini não estiver em campo.

Nem mesmo Nesta, um zagueiro de nível fora de discussão, está passando por uma fase péssima. Contra a Inter, não cometeu o pênalti em Martins, mas esteve inseguro por todo o jogo. Stam e Simic também estão a anos-luz de seu melhor futebol. Kaladze não está particularmente mal, mas embarca na onda de más atuações dos seus companheiros.

Saída? Pela primeira vez desde a chegada de Carlo Ancelotti, o Milan provavelmente precisa contratar. A chegada de Stam há um ano e meio era exatamente para montar uma defesa dos sonhos, mas o gigante batavo parece desmotivado. Aliás, nas palavras de todo o elenco, se sente uma falta de entusiasmo que não pode ter lugar num clube tão importante.

Com urgência urgentíssima, o Milan precisa de um zagueiro jovem e extremamente promissor, para a vaga de Maldini, que se aposenta em 2007. Além disso, também precisa de outro para o espaço que Stam deixará, porque não são poucos os que acham que o holandês deixa o clube ainda em janeiro. Um lateral-esquerdo também não faria mal, uma vez que só Kaladze joga na posição, e quando Serginho atua por ali, os buracos são do tamanho de San Siro.

Mas o mais difícil de hipotizar é como o mal-estar notório que há no elenco pode ser resolvido. Não há um racha como se diz que há no Real Madri, mas o Milan perdeu a sua maior virtude que era justamente um jogo extremamente coeso, onde as individualidades eram só cartas na manga. Carlo Ancelotti precisa agir com pulso firme imediatamente para não se ver acuado quando o time for eliminado da LC ou ficar de fora da luta pelo título. Quais as chances disso acontecer? Provavelmente nem ele sabe.

Engolindo seco

República Tcheca, Estados Unidos e Gana. Quando os italianos viram a formação final do sorteio de seu grupo na Copa do Mundo, quase todo mundo engoliu em seco. Depois do grupo com Argentina, Holanda, Sérvia e Costa do Marfim, certamente o grupo da Itália é o mais duro.

O técnico Marcello Lippi agiu com firmeza e mostrou sua liderança imediatamente. “Não somos inferiores a ninguém e este grupo é excelente, pois só tem boas seleções”, disse Lippi, tentando afastar a idéia de que seu grupo iria para a Alemanha com receio dos adversários.

A preocupação maior da Itália certamente é com os tchecos, capitaneados por Nedved, que é um velho conhecido deles. Lippi, seu treinador na Juventus, sabe que se o meio-campista estiver inspirado, é um dos melhores do mundo, e isso não é pouco. Porém, se as preocupações fossem só com Nedved, a situação até que seria boa.

Gana, a seleção de Michael Essien, do ex-juventino Appiah e do zagueiro Didier Zokora, é um adversário duríssimo. Os ganeses não são mais apóstolos do “futebol alegre” (seja lá o que isso for). A ingenuidade e a irresponsabilidade de outrora deram lugar a um time que melhorou muito taticamente, tem uma técnica invejável e é muito robusto.

O outro rival é a seleção norte-americana. Participando pela quinta consecutiva, os Estados Unidos ainda não têm um craque espetacular, mas têm uma grande quantidade de bons jogadores e a maioria deles têm bagagem internacional. E ainda tem Freddy Adu, cuja publicidade ultrapassa em muito o real contato do mundo com seu futebol.

A Itália tem uma boa seleção. Precisa, contudo, achar um jeito de fazer Totti e Pirlo jogarem juntos, evitar contusões e acertar uma dupla de ataque entre os vários candidatos disponíveis. Dá? Dá. Marcello Lippi é um dos melhores treinadores do mercado e sabe que esta é a chance de sua vida para marcar seu nome na ‘Azzurra’. Se os italianos chegarem à Alemanha sem o salto alto de 2002, podem surpreender muita gente que acha que no máximo, a ‘Azzurra’ empataria sem gols com Trinidad & Tobago.

– O Milan está interessado no meio-campista Nelson, do Benfica.

– Claro que a Inter também…

– O lateral sãopaulino Pequeno Cícero deu uma entrevista dizendo que a Fiorentina está interessada em seu futebol.

– Na verdade, Pequeno Cícero só não quer é ficar no São Paulo, pelo visto.

– A Inter não contratará Cassano: palavra de Massimo Moratti, presidente do clube.

– A Juventus também fez a mesma promessa.

– Quem será que está escondendo o ouro?

– O polêmico Paolo Di Canio voltou a cumprimentar a sua torcida fazendo a saudação fascista, abrindo espaço para uma grande troca de acusações.

– E esta é a seleção Trivela da 15ª rodada:

– Amelia (Livorno); Stovini (Lecce), Kuffour (Roma) e Kaladze (Milan); Behrami (Lazio), Paredes (Reggina), Nedved (Juventus), Pandev (Lazio); Trezeguet (Juventus), Vucinic (Lecce) e Adriano (Inter).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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