Amor vagabundo

Quando Ronaldo se contundiu em 1999, já era um ídolo na Internazionale. Vale lembrar que antes do dantesco episódio na final da Copa Itália de 1999/2000, Ronaldo já tinha sofrido outra contusão no joelho numa partida contra o Bari. Em resumo, depois que voltou da Copa de 1998, passou praticamente todo seu tempo em Appiano Gentile fazendo fisioterapia. E recebendo seu salário religiosamente.

Daí veio a conquista do Mundial e a clamorosa transferência para o Real Madrid. Fale-se o que quiser – inclusive que era um direito inalienável do atleta – mas a saída de Ronaldo da Inter depois de passar três anos machucado, tendo recebido todo o apoio possível, foi chamada tranquilamente de ‘a maior traição que um jogador já fez a um clube e à sua torcida’. Naturalmente, Judas passou a ser muito mais bem-quisto na Milão ‘nerazzurra’ do que Ronaldo.

Depois da saída de Ronaldo, a Inter continuou como antes dele: não venceu nada (exceção à magra Copa Itália da última temporada). Mas Ronaldo também não teve muito do Real Madrid,além de fofocas, casamentos pantomímicos e fontes de renda quase indecentes. E agora, surpreendentemente, pela primeira vez o presidente da Inter, Massimo Moratti, falou explicitamente sobre uma possível volta do craque a San Siro. “Não é impossível que ele volte, mas não está no programa”, declarou o mandatário interista à Gazzetta Dello Sport. Mas seria possível um ‘amor vagabundo’ no melhor estilo Wando?

Bem, levando-se em conta que ultimamente nem mesmo os maiores insultos causam marcas eternas, sim, é possível. Ronaldo tem a aprovação do técnico Roberto Mancini e é um xodó de Moratti. Sem falar que tem futebol de sobra para jogar onde quiser. A torcida ainda o tem como mágoa? Sim, é verdade. Mas basta uma dezena de gols e seu nome já merecerá novamente os coros do Giuseppe Meazza.

O internauta mais atento há de perguntar: “Mas e o Adriano?”. Bem, como Parreira também acha, teoricamente há espaço para ambos no time interista. Mesmo assim, fica uma sombrinha de dúvida no ar sobre se uma eventual chegada de Ronaldo não seria o anúncio de uma possibilidade de venda do ‘Imperador’, cujo mercado se estende a praticamente todos os clubes do mundo.

‘Interisticamente’ falando, por mais que haja uma questão de honra no meio, um jogador como Ronaldo vai bem em qualquer time do mundo. Seria um tanto quanto desconfortável ver Ronaldo vestindo a camisa da Inter para quem gosta de futebol e acha que sim, ainda há alguma coisa no jogo ligada à fidelidade. Mas uma vez que o clube e o atleta estão de acordo, definitivamente Ronaldo cairia como uma luva para o ataque interista.

Contudo, se uma transferência de Ronaldo estivesse condicionada à saída de Adriano, daí o negócio só seria vantajoso para o clube se o resultado financeiro da transação fosse soberbo (digamos, algo como €30 milhões). Não que Adriano seja muito superior, mas é muito mais novo e potencialmente ainda pode crescer como atleta.

Juventus rainha da Europa

Quando Rocchi empatou o jogo para a Lazio, roubando dois pontos da Juventus, os incautos já esfregaram as mãos, celebrando a derrocada juventina. Bem, pode até ser, porque o futuro a Deus pertence. Mas até aqui, a ‘Vecchia Signora’ não é só a líder do Italiano. O time de Fabio Capello é o melhor time europeu na Liga dos Campeões, e bate todos os concorrentes numa comparação – ainda que puramente – estatística.

A Juve navega a velocidade impressionante. Em 16 rodadas, conquistou 89% dos pontos possíveis na Série A (43 em 48). Tem o melhor ataque do campeonato junto com o Milan (36 gols, média de 2,25 por jogo) e a melhor defesa (9 gols, média de 0,56 por jogo, metade da média milanista). Ainda que no ano passado a campanha fosse excelente (a Juve liderava), neste ano ainda coleciona quatro pontos a mais.

O segredo é o de sempre: uma defesa pétrea e uma concentração difícil de se imaginar. Para se ter uma idéia, a Juventus tomou um único gol no segundo tempo, dentre os poucos nove que cedeu. E só mesmo diante do melhor Milan da temporada (o do primeiro tempo do clássico), sofreu mais que um gol durante 45 minutos.

Nãoé futurologia dizer que a Juventus vai baixar o ritmo mais cedo ou mais tarde. Fisicamente é impossível manter um jogo tão físico quanto o juventino durante dez meses. A questão é saber se a vantagem que ela já tem sobre Inter e, principalmente, Milan, serão passíveis de recuperação.

E qual seria o caminho para puxar o tapete de Capello e companhia? Os confrontos diretos. Inter e Milan têm de vencer seus jogos contra a Juve de qualquer maineira, porque é pouco provável que a atual campeã italiana vá desperdiçar pontos diante de adversários menores. Justamente aí é que está a prova de maturidade para os lombardos. Se forem dignos do ‘scudetto’ têm de mostrar isso diante da Juve. Não é mole não…

Da alegria à crise

Ao bater o Sporting Lisboa, a Udinese entrou em seu conto de fadas a Liga dos Campeões. Ao levar a fábula adiante, quase criou um mítico momento para o clube friulano.depois da vitória sobre o Panathinaikos, a classificação estava a um passo, até que o Barcelona detonou tudo, vencendo em Udine.

A derrota européia não deixou marcas somente nos corações friulanos. Além da ‘não-entrada’ de alguns milhões de euros, o clube sentiu o peso de disputar o ‘futebol que conta’. A derrota para o Chievo levou o time para a parte de baixo da tabela e não são poucas as vozes que já falam na demissão do excelente técnico Serse Cosmi.

O preço do sonho europeu está no departamento médico da Udinese. Os zagueiros Natali e Motta, os meio-campistas Vidigal e Zenoni e os atacantes Rossini e Iaquinta (praticamente todos titulares) estão de molho. E em Verona, nas palavras do próprio Cosmi, “jogou uma equipe que perderia 33 em 34 na Série A”. Desmerecimento à parte aos reservas, ele tem razão, tal é a competitividade do torneio. E para a dura partida em Genova diante da Sampdoria, Cosmi perdeu mais dois – o zagueiro Felipe e o ala Mauri estão suspensos.

A realidade da Udinese serve de alerta aos times menores que sonham com o Olimpo europeu. Ganhar alguns milhões de euros a mais certamente é interessante, mas para times que não tem elencos vastos, é quase que certamente letal (como mostrou a seção ‘Copas Européias, da Trivela).

Falar em rebaixamento ainda soa como exagero, mas é ponto pacífico que Cosmi precisa se cuidar. A Udinese da próxima temporada começa a ser trabalhada agora e o clube ainda tem os empenhos da Copa Uefa para cumprir – o que certamente não será um refresco.

Nesta semana, Carlo Ancelotti garantiu que o Milan não contrata ninguém em janeiro.

O Milan anunciou nesta semana que trabalha num projeto para construir seu próprio estádio, seguindo o modelo usado pelo Schalke 04, onde o patrocinador banca a construção e fica com os direitos de dar nome ao mesmo.

Paolo Di Canio voltou a fazer a saudação fascista na partida contra a Juventus e foi suspenso por uma partida.

Estaé a seleção Trivela da 16ª rodada.

Peruzzi (Lazio); Oddo (Lazio), Cordoba (Inter), Kaladze (Milan) e Zancopé (Treviso); Behrami (Lazio), Kaká (Milan), Totti (Roma), Flachi (Sampdoria); Shevchenko (Milan) e Adriano (Inter)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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