Manchester United: under pressure

A vitória sobre o Feyenoord pela Europa League, arrancou pela primeira vez uma reação boa sobre o futebol do Manchester United, na atual temporada. Os red devils já se viam pressionados pelo início de temporada abaixo da expectativa, com o técnico José Mourinho alvejado por muitas críticas.

Devido ao fuso horário da Turquia, o outro confronto do grupo A da EL na última quinta-feira, já havia acontecido quando o United entrou em campo. Em Istambul, o Fenerbahçe bateu o ucraniano Zorya por 2×0, se isolando e sedimentando sua liderança com 10 pontos.

O fato obrigava os red devils a vencerem o Feyenoord em Old Trafford (Manchester/Inglaterra), em duelo direto pela segunda vaga para o mata-mata, oferecida pelo grupo. Ambos os confrontos valeram pela penúltima rodada da fase de grupos.

A derrota poderia ter configurado a eliminação dos red devils no torneio continental. Entretanto, o United impôs o placar de 4×0, goleou e tornou plenos muitos argumentos que Mourinho vinha utilizando, para justificar as derrotas.

O maior deles era com certeza o déficit de eficiência nas finalizações, uma vez que o time vinha sim criando muitas ocasiões de gol, seja na Premier League, seja na Europa League. Mou já havia ressaltado este fato após a derrota para o Fenerbahçe, na partida jogada pela quarta rodada da fase de grupos da EL.

Efeito Rooney

Aqui no 90 Minutos nós temos ressaltado que as permutas entre os jogadores de ataque, dispostos no 4-2-3-1 de Mourinho, tem funcionado. Na última quinta, o alinhamento inicial trouxe Rooney/Mata/Mhkitaryan na linha dos 3 meias, mais Ibrahimović como homem referência.

Os quatro atletas se alternam em rotação em sua posições, confundindo os marcadores. No primeiro gol anotado contra o Feyenoord, Wayne Rooney iniciou a jogada e a finalizou, se infiltrando lado esquerdo da linha de 3. No segundo gol, anotado por Mata, Rooney deu a assistência posicionado à direita da linha de 3.

A grande apresentação de Rooney recebeu todos os elogios da imprensa inglesa, que no início da temporada reverberou diversos rumores acerca de (suposta) negociação do atleta, ou mau relacionamento com Mourinho. O último alarde se deu em torno das fotos de Rooney trajando uniforme da seleção inglesa e aparentemente alcoolizado, numa recepção de casamento.

Isso após o término da última data FIFA de jogos de seleções. A situação não ocorreu em momento de concentração, e até o treinador rival Jürgen Klopp (Liverpool) minimizou o fato quando questionado publicamente. Klopp afirmou que as lendas do futebol do passado, bebiam e fumavam em demasia, e que a atual geração é a mais profissional da história.

Mais do que ninguém, Rooney é um atleta ciente do ocaso da própria carreira (31 anos), visando encerrar o ciclo no United após disputar seu último Mundial pela Inglaterra, em 2018. O que ele faz em sua vida privada, não é da conta de ninguém. E os problemas físicos que deram margem aos alardes da imprensa no início da temporada, realmente o eram. Isso além do fato do jogador de idade avançada, não ter gozado de férias, devido à disputa da EURO 2016.

O gol e a assistência de Rooney foram o ápice das 18 ocasiões de gol criadas pelo United, contra o Feyenoord. 14 destas ocasiões de fato foram em gol, das quais 4 se concretizaram em tentos. Em retrospecto, nos últimos quatro jogos o United criou 37 chances de gol contra o Burnley (Premier League), 10 contra o Fenerbahçe (EL), 9 contra o Swansea (Premier League) e 12 contra o Arsenal (Premier League).

Os jogadores de ataque não estão em pré-temporada, ao contrário do que ironizou Mourinho, também após a citada derrota para o Fenerbahçe. Mou disse na ocasião, que seu time parecia uma equipe jogando um “amistoso de verão”.

Dando sopa para o azar?

A baixa eficiência ofensiva do United deu margem a observações da imprensa inglesa, na véspera do confronto contra o Feyenoord. O Guardian especulou se os red devils não eram o time “mais azarado” da Premier League, um fator inusitado e subjetivo que sim, pode justificar os resultados ruins iniciais.

Mais além, problemas físicos afetaram várias peças do sistema defensivo entre outubro e novembro. A situação emergencial fez com que Mourinho desse uma oportunidade às pressas a Phil Jones, que não atuava desde janeiro, e ao veterano volante Michael Carrick.

Mourinho (Rui Vieira/AP)
Mourinho (Rui Vieira/AP)

Em três partidas (2 pela Premier League, 1 pela EL) com Jones titular no miolo de zaga e Carrick na cabeça de área, o United venceu dois jogos, empatou um e sofreu apenas um gol. Jones eliminou o problema de adaptação de Eric Bailly, que por sua vez debutou no futebol inglês nesta temporada, mas se viu fora de combate devido a lesão sofrida em setembro.

O marfinês tinha previsão de retorno apenas para a rodada do boxing day, mas poderá voltar aos treinos já na próxima semana. Em contraparte, Bailly que serve a seleção da Costa do Marfim, deve ser desfalque entre janeiro e fevereiro, durante a disputa da edição 2018 da Copa das Nações Africanas.

Já o líder Carrick assegurou solidez defensiva ao meio-campo e concedeu segurança psicológica ao grupo. “Azar” pode também significar falta de confiança diante de tomada de decisões. Carrick é um dos últimos remanescentes da era Ferguson vitoriosa na temporada 2007/2008 (o último é Rooney). São detalhes defensivos sanados e creditados à José Mourinho, única e exclusivamente.

Novos objetivos?

No que diz respeito à Premier League, o United ocupa a sexta colocação cinco pontos atrás do quinto colocado (Tottenham Hotspur). O time está a nove pontos do líder Chelsea e obteve apenas 19 pontos de 36 possíveis. Com um terço de temporada praticamente já disputado, a busca por vagas para a Champions League 2017/2018, já se vê bastante complicada.

Embora Mourinho tenha observado a Europa League com algum desdém, vencê-la pode ser o caminho mais curto para estar na próxima CL, uma vez que o campeão da EL recebe uma vaga. E o grupo A da EL integrado pelo United, é de fato um dos mais duros onde United, Feyenoord e Fenerbahçe estarão lutando por duas vagas, na próxima e última rodada da fase de grupos.

O grupo A da EL é o “grupo da morte”. O Fenerbahçe é uma equipe tarimbada, habituada a disputas continentais, difícil de ser batida em Istambul. O Feyenoord lidera a liga holandesa, já tendo sido bi-campeão da EL (no período Taça UEFA). Os red devils teriam uma vida de fato tranquila, se tivessem sido sorteados no grupo F (Genk, Athletic Bilbao, Rapid Viena, Sassuolo), ou no grupo J (Fiorentina, Qarabag, PAOK, Liberec).

O Manchester United retorna a campo no domingo pela Premier League. A equipe recebe o londrino West Ham em Old Trafford.

Imagem de Rooney contra o Feyenoord: Carl Recine/Reuters

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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