Equilibrado e medíocre

Acabou neste final de semana o primeiro turno do campeonato brasileiro. Nos cinco pontos que separam os seis primeiros colocados foram os motivos ara uma grande celebração da “dificuldade” do campeonato e de seu alto nível técnico. Isso confirma uma tese que já tenho há muitos anos: o brasileiro não liga muito para campeonatos com alto nível técnico. Ele só quer equilíbrio – mesmo que seja na várzea.

Ano após ano, o pachequismo nacional explode durante os Estaduais. Neste ano, não foi diferente e jura-se que aquele tal jogador é um novo Pelé. Alguns, de fato são visivelmente acima da média – como Neymar e Ganso, por exemplo – mas muito perna de pau é decantado como gênio depois de meia dúzia de jogos por um Estadual qualquer. No decorrer do ano, o patriotismo exacerbado se esconde na toca e hiberna até janeiro seguinte.

O Brasileiro de seis candidatos a título (ou quase isso) é tecnicamente, sofrível. Os melhores jogadores dos maiores times do país estão no Brasil porque ninguém na Europa que conta (Ronaldinho Gaúcho, Luis Fabiano, Fred, Adriano) aceitava pagar os salários surreais que eles recebem. Das revelações, os mais badalados continuam aqui porque as cifras pedidas por seus agentes e cartolas é incompatível com seu futebol (e em defesa deles, é difícil, com 20 anos, ser elevado à condição divina e não perder o foco). O resto é o resto, especialmente dos gigantes estaduais que se arrastam rumo à nova condição de “médios”, esperneando num processo que é inevitável no futebol: o que diz que para um ganhar, outro tem de perder.

Campeonatos com equilíbrio que vão além de dois ou três clubes são destinados às ligas bem mais modestas. No Desafio ao Galo, metade dos competidores têm chance de ser campeões. Uma olhada nas ligas mais parelhas do mundo, segundo o site RSSSF mostra que não há nenhum Barcelona nos torneios mais competitivos. Aqui, o equilíbrio é “justificado” pelo fato de termos “tantos craques” que qualquer time consegue arrebanhar um punhado de Rivaldos e Neymares num campeonato. Uma sonora mentira. E isso num momento no qual os clubes estão “capitalizados” por uma renovação de contrato com a suserana Globo (e cuja ressaca apresentará a conta em algum momento).

O hype em cima desse Brasileirão é muito mais por conta de uma imprensa cada vez menos informativa e cada vez mais entretenimento. Jornais não se cansam em criar apelidos e adjetivos para cabeças-de-bagre porque assim vendem mais e ficam “de bem” com o consumidor – que não se importa em ser enganado, porque quer mais é ver seu time elogiado. O ufanismo estúpido de Galvão Bueno e alguns de seus colegas ao falar da Seleção é um bom exemplo disso. Emissoras e publicações que tentam abordar futebol com um viés jornalístico sofrem nos índices de audiência e leitura, enquanto quem faz carnaval puro, fica de bem com a galera. Encaixa bem com um país onde Andres Sanches pode presidir a federação, onde um bonde mata pessoas porque a prefeitura economizou na manutenção e onde uma figura nefasta da política ganha um salário de R$60mil, com a bênção do Judiciário.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
Top