Luis Enrosco

Luis Enrique deveria ter pensado duas vezes antes de aceitar sair de Barcelona. Não só ele tinha um ambiente que o protegia lá, como não tinha um clube médio com ambição de grande no qual um único jogador serve de eixo há mais de uma década. A desclassificação da Roma na Europa League certamente tem responsabilidade do técnico espanhol, mas é absolutamente compreensível e até esperada num time que está se redesenhando. A equação ambicão+Totti pode ser fatal para Luis Enrique, que se arrumou um belo problema.

Por mais talento que tenha, Totti hoje é um jogador com capacidade física de jogar bem cerca de 15-20 partidas por ano. Desde seu apogeu na Roma capelliana, o capitão e maior nome da história do clube jamais foi um jogador de grupo. Ele sempre foi o grupo. Nessa sua postura de Luis XIV de Trigoria, Totti não aceita o banco e tampouco aceita jogar em esquemas que não dêem ele a liberdade da qual ele tanto gosta. Quando Luis Enrique acha que pode substituí-lo por Okaka (e aqui, tudo bem, de fato Luis Enrique não pode susbtituir ninguém por Okaka) sem ver o Coliseu vir abaixo, está pronto o desarranjo.

Luis Enrique vai começar o campeonato sob pressão e com Totti trabalhando contra ele. Aconteceu exatamente a mesma coisa com Spaletti e Ranieri, quando os dois tentaram “descansar” Totti com mais frequencia. É muito difícil que a situação se reverta e que a Roma consiga engrenar, mas essa é a única chance de Luis Enrique se manter no cargo até maio. Uma vez estabelecida a antipatia com o capitão e dono da Roma, o espanhol agora não pode nem mesmo tentar recolocá-lo no espaço dos insubstituíveis. A primeira missão da nova gerência será saber se quer bancar a Roma ou se quer bancar o capitão. Sem a intervenção dos dirigentes, Luis Enrique acabará nocauteado como no famoso jogo entre Espanha e Itália em 1994, quando o lateral Tassotti (hoje assistemte de Allegri no Milan), arrancou-lhe meia dúzia de dentes com uma cotovelada.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.

3 Comments

  1. Curioso ver qual será a postura dessa nova direção, que num primeiro momento parece dar suporte ao treinador. Pelo que li, nos 2 jogos a Roma teve controle do jogo, mas não soube decidir a partida. Vejamos os próximos capítulos para ver se de fato os dias de Rei para o Totti começam a diminuir.

    Agora, ser substituido pelo Okaka, dá toda a justificativa para a insatisfação do Totti.

  2. Acho que esse problema ficou mais fácil de ser resolvido depois que o clube foi vendido. Com a antiga gestão era praticamente certo que Totti seria o vencedor de qualquer disputa interna.

  3. Costumo dizer para meus amigos que, de uns anos para cá, Totti é muito mais problema do que solução. No entanto, dizer isso lá pelos lados de Trigoria é como implorar para ser linchado. Então, esse dilema vai continuar até o próprio resolva pendurar as chuteiras.
    Sobre o Luis Enrique, só tenho uma dúvida: O cotovelo de Tassotti não acertou o nariz do meia? 🙂

    Abraços.

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