Uma derrota com cara de seleção – ou vice-versa

Não sei bem por onde começar uma crítica à performance da Seleção Brasileira (que atualmente está sequestrada e mantida em cativeiro pel CBF) na partida contra o Paraguai e na Copa América. Tudo que eu possa dizer neste texto parecerá repetido, e por isso, perdão aos leitores. Mas mesmo já tendo visto seleções ruins e um odor de corrupção, soberba e mediocridade dentro da CBF, não me lembro de outra gestão que fosse tão incômoda quanto a de Mano Menezes.

Vamos começar pela parte esportiva: Mano Menezes está entregando absolutamente tudo que sua carreira prometia no comando da Seleção, haja visto sua lista de conquistas. A defesa que se faz de seu trabalho em boa parte da imprensa é muito, mas muitíssimo mais por conta dos relacionamentos pessoais que alguns jornalistas têm com ele do que pelo que ele mostrou em campo. Mano dá todos os sinais de não conseguir entender preceitos básicos de montagem de um time. Sem entender que a escalação de três atacantes, todos com características de mobilidade, um trequartista e dois laterais dedicados ao apoio, o Brasil de Mano não conseguiu controlar a bola a não ser na vitória sobre o esquálido Equador e no empate do Paraguai – mas porque a proposta paraguaia era a de deixar o Brasil jogar.

No capítulo das convocações, qualquer tentativa de justificar André Santos na faixa esquerda da defesa brasileira é inócua. Há pelo menos meia dúzia de laterais-esquerdos melhores do que o ex-corintiano jogando no Brasil. O atacante Jadson, então, não se coloca nem em discussão e a sensação de que a concentração brasileira é um balcão de negócios é cada vez mais nítida. Fred, Sandro, Jéferson e Elias são outros cujo gabarito não está à altura para defender o Brasil. Estão à altura da seleção de Mano, sem dúvida.

Mas o pior, o mais repulsivo, o mais enojante e irritante, é perceber como um grupo de jogadores com reputações infinitamente acima de suas qualidades técnicas, conseguiu absorver a empáfia arrogante da atual cúpula da CBF e sua comissão técnica. Mesmo no caso de jogadores indiscutivelmente dotados tecnicamente, como Ganso, Neymar, Lucas (o do São Paulo), é nítida a autopercepção deles como sendo gigantes sagrados do futebol mundial. A corte criada pela CBF, com seus cortesãos corruptos e aduladores, seus jornalistas vendidos remunerados com favores, entrevistas exclusivas e “offs” plantados pela assessoria de imprensa, incutiu mesmo nos bons jogadores um torpor de quem se esqueceu (ou não sabe) o que representa a Seleção Brasileira para o país. Para eles, a Seleção é só um adicional de exposição, bajulação, contratos e fama.

Durante a gestão Dunga, não tive pena de criticar o ex-capitão argumentando que ter sido uma figura importante na conquista de um Mundial não o habilitava para ser treinador. Mano Menezes não tem nem isso, nem mesmo a identificação que, gostando ou não, Dunga tinha com o ambiente. Hoje, a camisa da seleção está nas mãos de sequestradores. Ela está sendo usada para fins que não tem nada a ver com seu propósito inicial. Na realidade, o que acontece com a seleção é o reflexo da sensação de que está acontecendo com o Brasil: estamos sendo saqueados por piratas que irão barbarizar e depois fugir com a pilhagem. Diante de um quadro assim, perder nos pênaltis para o Paraguai nem parece assim tão trágico. Os anos que nos aguardam farão a eliminação com zero por cento de aproveitamento nos pênaltis parecer um sonho.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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