A falácia da unificação

Não vou perder tempo (demais) escrevendo sobre a cômica oficialização dos títulos que a CBF fez para tirar a atenção de si e agraciar meia dúzia de clubes com uma esmola. Faço minhas as palavras de Alberto Helena Júnior em seu blog, incluindo algumas das observações sobre meu amigo Odir, cara honestíssimo, mas cujo fanatismo pelo Santos o transtorna vez por outra.

No mais, nada a comentar. Celebrar esses “títulos” é um sintoma de complexo de inferioridade.

Mais títulos

Antes de tudo, quero dizer que os clubes eventualmente abençoados pela CBF com os títulos brasileiros extraídos da antiga Taça Brasile do Robertão merecem tudo isso e muito mais, sobretudo quando se trata do Santos de Pelé e cia. o maior de todos em todos os tempos.

Ponto.

Mas, que não tem a menor lógica essa decisão, ah, isso não tem mesmo.

Explico: no caso brasileiro, há duas linhas de sucessões que caminharam e caminham até hoje paralelamente, não sendo lícito confundi-las.

Uma, é aquela que nasce com o Rio-São Paulo, vira Robertão, com as integrações de clubes paranaenses, gaúchos, mineiros, pernambucanos, baianos etc. O Robertão gera a Taça de Prata que, em 71, se transforma no Campeonato Nacional que, em seguida, muda de nome – Campeonato Brasileiro.

Outra linha sucessória é a da Taça Brasil, que hoje é chamada de Copa do Brasil.
Há momentos em que esses dois torneios nacionais correm paralelamente, o que nos dá dois campeões brasileiros no mesmo ano, o que é uma discrepância.

Mas, tudo bem: se quiserem conferir aos campeões da Taça Brasil o status de campeões brasileiros, ainda que criando a duplicidade de títulos, nada mais a obstar, desde que então se confira o mesmo louro a todos os campeões da Copa do Brasil, do seu início até o seu fim futuro.

PS: É preciso explicar que o jornalista Odir Cunha, autor da tal pesquisa que virou pleito de alguns clubes, repete sem parar o mantra de que quem contraria essa tese é torcedor de clubes que, eventualmente, cairiam no ranking das conquistas. Conheço Odir desde seus tempos de foca. É um moço dedicado, de boa índole, mas absolutamente tomado pelo fanatismo clubístico. no caso o Santos.

Como tal, julga que todo mundo é igual a ele. A tal ponto de, quando contrariei sua tese há algum tempo, aqui mesmo, ele me enviou um comentário, tipo chantagem: sei bem qual é o seu time, logo você está contra porque quer defender a prioridade dele. Obviamente, ele queria se referir à minha antiga paixão pelo São Paulo, que nunca escondi. Apenas, se esvaiu com o tempo, essa sutis coisas da vida que ele é incapaz de sequer perceber, cego pela própria paixão.

Uma tremenda bobagem, típica de quem tem um olho só.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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