Culto da personalidade

Li uma entrevista de Dunga na qual ele se deu um título. “Eu sou o anti-marketing”. Isso era algo que eu temia – que Dunga se visse como um poderoso personagem capaz de enfrentar inimigos e apto a abrir mão de jogadores talentosos. O autotítulo claramente denota uma injeção na arrogância do técnico, que agora se acha acima do bem e do mal. É o caminho de uma derrocada sua e provavelmente nossa – da Seleção, digo. Dunga segurou uma barra e de fato deu um padrão de jogo à Seleção, mas não é um titã. Ele, como a maioria dos brasileiros, acha que a Copa do Mundo é uma formalidade entre o Brasil e o hexa, por mais que seu discurso de humildade pregue “disciplina”. Dunga personificou em Ronaldinho Gaúcho o seu “inimigo” – a pressão da torcida e da imprensa por convocações. Ele dá todos os sinais de achar que não precisa de ninguém por ter vários jogadores “ao seu lado”. É um caminho perigoso. Não levar Ronaldinho gerará para Dunga uma fatura impagável em caso de derrota. Ele será execrado assim como Sebastião Lazaroni foi – ou talvez até mais. E descobrirá, do modo mais difícil, que sua competência é bem menor do que sua arrogância.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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