Um jogo perfeito

Jamais escondi a desconfiança que eu tenho em relação ao trabalho de Dunga. Tendo visto alguns treinos da Seleção na Granja Comary e ourros pela TV, me parece que não é difícil concluir que o ex-volante esteja longe do ideal para comandar um time. Traduzindo: ainda acho que Dunga não tem a competência necessária para ser técnico e que sua posição é muito mais pelo allinhamento com a CBF do que qualquer outra coisa.

Só que a Seleção está jogando bem e contra a Argentina, fez uma partida perfeita. O 4-3-3 que foi a campo poderia ter pequenas alterações, como a saída de Gilberto Silva por um volante mais rápido como Ramires ou Lucas e Robinho, rigorosamente dispensável, poderia abrir uma vaga para outro atacante a menos que decidisse usar a sua monstruosa técnica para o time e não para si mesmo.

Uma seleção brasileira que convocasse os 23 melhores nomes,  sem treinador, jogaria bem contra a Argentina. Jogadores como Kaká, Maicon e Luis Fabiano não precisam de mais nada além da motivação natural do jogo. Mas além disso, ainda que trabalhando o espírito do grupo mais do que a parte tática, Dunga tem o mérito de ter focado o grupo, ao contrário do que Parreira e Zagallo fizeram em 2006 e 1998, respectivamente.

O improvável Luis Fabiano mostrou-se fundamental e ideal para o papel de centroavante, porque tem uma mobilidade incomum e a capacidade de fazer as vezes de primeiro ou segundo atacante. Maicon virou um grande defensor na Itália – hoje ele sabe marcar mesmo – e Elano e Felipe Melo cresceram assustadoramente em relação, digamos, quatro anos atrás.

Dunga não é um tático. Seu conhecimento de posicionamento é limitado e suas alterações raramente mudam a disposição do time em campo. Alterações como a entrada de Daniel Alves no lugar de Robinho são muito mais ligadas à marcação individual de um determinado jogador do que uma nova dispoisção do time. Mas isso não é um pecado. Vários bons treinadores agem da mesma forma.

Assim, sua missão até 2010 será a de convencer os jogadores brasileiros de que a Copa não está ganha, por mais favorito que o Brasil seja. É preciso admitir que, caso tenha sucesso, Dunga terá vencido uma aposta ingrata e uma antipatia feroz (criada por ele mesmo em boa extensão). O Brasil de Dunga é melhor do que o Brasil de Parreira, mesmo tendo perdido um jogador como Ronaldinho Gaúcho que, a esta altura, tem chances mínimas deconseguir uma vaga, tanto pelas várias opções à disposição quanto pela nova arrumação tática do time.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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