Quatro técnicos para manter

A vitória do São Paulo em São Januário selou o destino do Brasileirão 2008. Há, ainda, a possibilidade matemática de um título do Grêmio, mas a dificuldade de ver o atual bicampeão dar dois tropeços seguidos é gigantesca. Como bem disse Renato Maurício Prado no Troca de Passe da Sportv neste domingo, esperar que um time que não perde há três meses o faça duas vezes em sete dias é confiar demais na sorte.

A reta final do Brasileirão, contudo, deveria garantir a três dos outros quatro treinadores dos cinco primeiros da tabela, um horizonte tranqüilo nas permanências de seus empregos. Celso Roth, Adilson Batista e Caio Júnior fizeram o que podiam com o que tinham e foram ultrapassados, na bacia das almas, por um time que carrega um time montado há vários anos. Mas não será assim.

É difícil dizer quem será o primeiro a cair. Entre seus torcedores, Roth, Caio e Adilson são vistos como “culpados” pela “derrota” no Brasileiro de uma maneira injusta, e até irracional. Com elencos que não são, de maneira nenhuma mais fortes dos que os concorrentes, os três tiraram leite de pedra e sofreram com problemas que estavam além do alcance.

O Grêmio, por exemplo: quando começou o Brasileiro, o tricolor gaúcho era dado, ao lado de Santos e Vasco, como possível candidato ao rebaixamento. Enquanto o Vasco quase certamente cai e o Santos se safou por pouco, Roth e o Grêmio – sem nenhum reforço fantástico – chegou ao fim do ano na batalha pelo título.

Em Minas, Adilson é xingado em todos os jogos e apelidado de “Professor Pardal” pelas suas “invenções” como razão pelo “insucesso” do time. Tudo entre aspas, porque das “invenções” de Adilson, o Cruzeiro tirou a base de um time que, se não for desmontado pela família Perrella, põe a Raposa entre os favoritos ao título de 2009. E “insucesso”, porque considerando-se as últimas performances do Cruzeiro no campeonato nacional, a zona Libertadores é uma excelente colocação.

No Rio, o Flamengo paga o preço de ter a caixa de ressonância que tem. Três gols seguidos de um jogador flamenguista o colocam como “selecionável” (vide Ibson) e uma derrota normal (como a do Cruzeiro) deixa um ar de guilhotina na Gávea. Enquanto isso, com um elenco entre os melhores, mas longe de ser o melhor, Caio Júnior paga a conta de trabalhar num clube onde o caos reina há décadas, com jogadores fazendo o que bem entendem, sempre com o aval de um diretor ou conselheiro ávido por reafirmar seu poder. A “crise” que o Flamengo auto-gerou na semana passada é um exemplo da anarquia que é a direção do clube permite, mas cuja responsabilidade joga no colo do técnico.

A campanha de 2009 dos três clubes começa em 9 de dezembro próximo, assim que se encerrar o Brasileiro. Aqueles clubes, entre Grêmio, Cruzeiro e Flamengo, que mantiverem os técnicos e comissões técnicas e lapidarem – não rifarem – seus elencos, se firmam como favoritos para o ano que vem. Os que demitirem ou, pior ainda, colocarem seus técnicos em fritura para se livrarem deles só depois do inevitável fracasso no patético Estadual, entram na luta por uma vaga na Sul-Americana 2010. Na melhor das hipóteses.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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