Juve-mercado

É janeiro. No futebol, significa: época das compras, ou uma espécie de Natal atrasado, especialmente para os torcedores daqueles times que ficaram com o departamento médico superpovoado ou onde os craques ficaram devendo e o time despencou na tabela.

Mas de uns anos pra cá, na Itália, os cofrinhos em janeiro deram uma secada forte. Dificilmente algum clube vai e torra dinheiro com grandes contratações na Série A porque os orçamentos se enxugaram. Tá, o Milan estreou Pato, mas ele já estava contratado desde agosto. Com uma Inter estratosférica na liderança e uma Roma sem o caixa do trio de ferro, só sobrou a Juventus. E aí?

E aí que a ‘Velha Senhora’, mesmo reclamando de não ter dinheiro, foi o clube que, até agora, se assegurou as compras mais vantajosas da janela de transferências e deve melhorar ainda mais a sua performance na segunda fase da Série A desta temporada.

Há razões para que a Juventus seja a protagonista do mercado: o clube tem dinheiro, tem um técnico com um plano de médio prazo, está vindo da Série B (o que sempre demanda mudanças mais profundas, como por exemplo se livrar do pífio Boumsong) e também teve contusões importantes, como Jorge Andrade, Camoranesi, Chiellini. E além disso, claro, teve contratações que não renderam o esperado, como Almirón (emprestado ao Monaco), Criscito (emprestado ao Genoa) e Tiago, por exemplo.

A dias do final da janela de transferências, a Juventus já recompôs sua defesa, fechando com o bom Stendardo e ainda garantindo uma transferência a custo zero excepcional: o sueco Olof Mellberg. Além disso, buscou Sissoko no Liverpool, que com Nocerino (a melhor contratação da Juve no custo-benefício) e Cristiano Zanetti, darão conta das duas vagas no centro do meio-campo.

“Mas e o ataque? E no gol?”, pode perguntar um internauta mais afobado. No ataque, Trezeguet está fazendo chover, chegando a 15 gols (o mesmo que em toda a Série B) em metade do campeonato – além de Iaquinta e Palladino. E no gol? Bom, no gol tem um cara chamado Buffon que é basicamente uma lenda.

Aparantemente, ao menos, o técnico Claudio Ranieri tem gerenciado o elenco com um forte apoio da diretoria, tanto no que diz respeito às contratações quanto á disciplina dos jogadores eventualmente descontentes. E Ranieri tem um plano – tanto tático quanto de grupo – para que a Juve, à partir da próxima temporada, seja novamente uma protagonista na Europa. Era de se esperar. Inter, Roma e Milan precisarão fazer mais – muito mais – do que neste ano se quiserem sucesso no próximo campeonato.

Cellino promete largar o osso. Será?

Agora sim! Neste ano, finalmente, parece que o Cagliari e sua gestão errática do falastrão Massimo Cellino devem rumar à Série B. O clube, que tem a mesma estabilidade de um castelo de cartas, venceu três jogos em 20, tomou 37 gols e navega tranqüilo rumo ás trevas na última posição, a cinco pontos da primeira vaga fora do rebaixamento (que é de uma Reggina em recuperação).

Pelo menos os torcedores cagliaritanos podem se agarrar a uma frase, proferida pelo dirigente Massimo Cellino, ‘capo’ do clube sardo: “Salvo o Cagliari e deixo o futebol”. Verdade: Cellino pode dizer que, se o clube cair, ele ainda permanecerá até o time ‘rossoblú’ voltar á primeira divisão. Ainda assim, há esperança para que o Sant’Elia chegue à próxima temporada (mesmo rebaixado) livre de Cellino.

Cellino é um empresário italiano. Tecnicamente, a exportação de grãos é o que faz Cellino ganhar muito dinheiro, suficiente para pode manter o clube. Só que se você está torcendo o nariz e achando que o dirigente também está envolvido em acusações, acertou. Já foi processado por fraude e condenado pela justiça. Depois das condenações se mudou para Miami, nos Estados Unidos, mas segundo ele é porque “não agüenta mais a pressão dos torcedores”.

Os torcedores têm razão em não suportar Cellino. Não é mentira que ele já colocou dinheiro de seu bolso, mas nunca enterrou grandes verbas. Na sua gestão (que já tem 15 anos), fez várias bobagens consagradas, como liberar nomes como o meia Liverani e o atacante Bianchi, que depois seriam vendidos por somas bem consistentes.

Na última temporada contratou o técnico revelação do campeonato anterior, Marco Giampaolo, que tinha ido bem no Ascoli. Para provar que realmente tem as mesmas habilidades gerenciais de um ditador, demitiu Giampaolo para chamá-lo semanas depois, quando não gostou do trabalho do sucessor de Giampaolo. Neste ano, começou novamente com o pobre ex-técnico do Ascoli e depois de algumas semanas, demitiu-o, levando Nedo Sonetti à ilha da Sardenha. Mais uma vez, mudou de idéia e demitiu Sonetti após poucos jogos, reconvocando Giampaolo. Só que desta vez, este último decidiu que tinha dignidade e disse que não voltaria nem morto. Daí, Cellino pediu a Sonetti que ficasse. É este o Cagliari desta temporada.

Na sua tentativa de “salvar” o Cagliari, Cellino apresentou vários ‘craques’, como Andrea Cossu (atacante de 27 anos com passagens pelo Olbia, Lumezzane e atualmente no Verona, lanterna da Série C1), o brasileiro Jeda (ex-União São João e Rimini) e o goleiro Storari (estava no Levante lanterna do Espanhol). Fala aí: que animador, hein?

Devagar com a “Patomania”

Mais uma vez, Pato fez chover em San Siro. Mais do que nunca, Pato é uma febre ‘rossonera’ e a torcida, momentaneamente, esqueceu Kaká, Seedorf, Pirlo e quem mais estiver por ali. Todo mundo só quer saber de Pato. Pato, Pato, Pato.

O brasileiro visivelmente é um talento especial. Parte com a bola de trás, mas é um atacante. Joga quase na mesma altura que Kaká, mas é mais dado a dribles que o ex-sãopaulino. O ucraniano Shevchenko disse que se lembra de si mesmo no começo da carreira quando vê Pato jogar. “O futuro é dele”, afirmou o avante do Chelsea.

Só que devagar com o andor porque o santo é de barro. O técnico Carlo Ancelotti parece atento à necessidade que o jovem tem de ter seus pés mantidos no chão e depois do jogo contra a Atalanta (quando o brasileiro perdeu dois gols feitos), disse à imprensa: “Merecemos perder. Perdendo tantos gols, não é possível ganhar nada”. Não foi preciso citar nomes para ver a quem a multa se endereçava.

Pato está indo bem em sua adaptação, mas ainda precisa saber soltar a bola mais rapidamente quando necessário, saber abrir mão do lance bonito para fazer o gol e aprender a lidar melhor com a pressão de jogar fora de casa. No Milan, está cercado de talento na zona do campo exata para seu aprendizado. É um craque imenso esperando para explodir. Só não se deve cobrar dele o que um jogador de 18 anos não pode dar. A aposta do Milan já deu certo. Ou quase.

– O técnico da seleção italiana Olímpica, Pierluigi Casiraghi, tinha afirmado que não pretendia levar nenhum jogador acima de 23 anos ao torneio, mas tomou uma chamada do presidente do Comitê Olímpico, Gianni Petrucci.

– “Liguei para o presidente da Federcalcio e confirmei que as declarações de Casiraghi não estão em linha com o pensamento da federação”.

Seleção da 20ª rodada Trivela:

Gianello (Napoli); De Silvestri (Lazio), Natali (Lazio), Cassetti (Roma); Foggia (Cagliari), Cambiasso (Inter), Cristiano Zanetti (Juventus), Seedorf (Milan); Barreto (Reggina), Alexandre Pato (Milan), Trezeguet (Juventus)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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