A batalha da Terra Média

Se o retorno da Juventus à Série A promete uma temporada acirrada na briga pelas primeiras posições, outra briga muito boa deve ser aquela entre equipes no meio da tabela: aliás, na verdade, a força das equipes médias italianas é que faz com que o torneio seja tão duro para os grandes clubes.

A principio fora da luta pelo titulo, Sampdoria, Udinese, Torino, Atalanta, Genoa, Napoli e Empoli fazem pré-temporadas e contratações que deixam boas expectativas para as suas chances no campeonato, sem economizar e apostando em treinadores que gostam de planejar e não o rame-rame de ‘prancheta e amarelinha’.

Mesmo nesse batalhão, ainda há subdivisões: Genoa, Sampdoria e Udinese, aparentemente se esforçarão até mesmo para surpreender algum dos grandes clubes. Os investimentos dos três parecem apontar para a montagem de times realmente fortes e que, porque não, não fariam milagres se lutassem por vagas na Europa.

Em Genova, uma briga particular entre Sampdoria e Genoa, que pela primeira vez se enfrentam na Série A em mais de uma década. A Samp tem uma base mais entrosada e já acostumada à Série A, mas o Genoa conta com jogadores que tem tudo para se destacar no campeonato.

A Samp fez uma campanha de contratações quase toda ela italiana. O goleiro Mirante, da Juventus, o volante Sammarco e os atacantes Bellucci e Caracciolo encorparam muito o elenco de Walter Mazzarri, o arquiteto da milagrosa permanência da Reggina na primeira divisão. No Genoa. O bom arqueiro Pegolo, o meia-atacante Leon e o atacante Di Vaio podem ser a base de um time consistente.

Depois de garantir o passe de Quagliarella, a Udinese naturalmente chamou as atenções sobre si. O atacante italiano mais badalado do momento fará com Floro Flores e Di Natale um tridente ofensivo bem respeitável. Mesmo com as vendas de Muntari (Portsmouth – ING) e Iaquinta (Juventus), o clube de Udine desponta como forte candidato a ser um grande incômodo para os grandes.

Entre os outros quatro – Atalanta, Empoli, Napoli e Torino – a palavra de ordem é calma, mas as condições estão todas lá. Em Bérgamo, os atalantinos tem a melhor divisão de base da Europa e um treinador que sabe dar forma a novos times; o Empoli tem um grupo que joga a Copa Uefa e uma base ainda mantida (apesar de algumas cessões); o Napoli tem uma torcida fanática e isso deve pesar nos jogos em casa, enquanto o Torino não economizou, fazendo excelentes contratações como Natali (Udinese), Grella (Parma) e Di Michele.

É difícil prognosticar quem deve sair na frente com a campanha de contratações ainda em andamento; Reggina e Parma precisam de mais reforços se não quiserem correr riscos desnecessários, mas já tem boas bases para começar. Exceção feita a Siena, Cagliari e Catania – que ainda tem fragilidades mais sérias – jogar fora de casa será mau negocio nesta temporada, mesmo para os ‘gigantes’ do norte do pais.

Livorno

Destaque: Cristiano Lucarelli (atacante).
Classificação final: 11o lugar.
Resultados na Europa: eliminado pelo Espanyol (ESP) na segunda fase da Copa Uefa.
Copa Itália: eliminado nas oitavas-de-final pelo Arezzo.

Mesmo com todo o bate-boca entre o elenco, técnico e o presidente do clube, Aldo Spinelli, o clube toscano fez uma campanha muito boa para seu porte. Não há um mecenas bilionário por trás do clube que Fernando Orsi conduziu até um 11o lugar na tabela.

O Livorno dependeu, como há vários anos, de seu capitão e artilheiro, Cristiano Lucarelli, que é o maior jogador da história do clube. Se Daniele Arrigoni, que brigou com Spinelli e causou um mafuá no estádio Armando Picchi, não tivesse tido todos os problemas que teve, talvez pudesse até ter lutado por uma vaga Uefa. Mas do jeito que estava, o fim de campeonato foi muito bom.

Messina

Destaque: Christian Riganó (atacante).
Classificação final: 20o lugar (rebaixado).
Resultados na Europa: não participou.
Copa Itália: eliminado nas oitavas-de-final pela Inter.

Finalmente, a equipe siciliana entregou os pontos e acabou na posição que o seu elenco permitia. O talismânico atacante Christian Riganó não foi o suficiente para fazer com que o time realizasse algum milagre, como nas últimas temporadas. E a diretoria também não, com nenhuma tapetada de última hora. Poucos destaques (talvez só o marfinense Zoro) em um time que vai levar tempo para voltar da Série B.

Milan

Destaque: Kaká (meio-campista).
Classificação final: 4o lugar (vaga na Liga dos Campeões).
Resultados na Europa: Titulo da Liga dos Campeões.
Copa Itália: eliminado nas semifinais pela Roma.

Começo aterrador e final de conto de fadas – com direito à consagração de um ídolo, o brasileiro Kaká. A temporada do Milan no Campeonato Italiano foi bem sem graça, mas na Liga dos Campeões, foi um exemplo de como a manutenção de um treinador e o bom gerenciamento de um grupo podem fazer milagres.

Milagres sim, porque o Milan não era o melhor time da Europa nesta temporada, só que tinha uma garra que ninguém mais tinha e um Kaká em forma esplendorosa. O brasileiro teve, é verdade, a ajuda de outros jogadores sensacionais, como o holandês Seedorf, os italianos Gattuso, Inzaghi e Pirlo e o tcheco Jankulovski, todos em uma bela orquestra. Kaká, no entanto, foi um solista que já entrou para a história.

Curtas

– Se a Udinese garantiu uma série de reforços, como o italiano Quagliarella, deve perder o goleiro Morgan De Sanctis, que pediu para ser vendido, depois da chegada de Handanovic e Chimenti.

– Outro golpe da Juventus: o zagueiro Barzagli, do Palermo, está praticamente acertado com o clube de Turim.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
Top