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Ronaldinho Gaúcho no Milan; Frank Lampard na Juventus; Pepe na Fiorentina (ou na Inter); Morgan De Sanctis na Lazio; Didier Drogba no Milan; Giuseppe Rossi no Parma; Cicinho na Roma; Samuel Eto’o e/ou Alexandre Pato na Inter ou no Milan…ou em qualquer outro clube. E Fernando Torres em todos ao mesmo tempo. A expectativa de um mercado mais intenso na Itália está fazendo com que jornalistas desocupados e agentes de jogadores mais serelepes estejam fazendo com que os jornais se transformem em um amontoado de ‘diz-que-me-diz’.

Ninguém tem dúvida de que Internazionale, Milan e Fiorentina façam pelo menos mais uma grande contratação antes do fechamento do mercado no final de agosto. Mas se todos os rumores de transferência se confirmarem, é provável que cada time italiano comece a temporada com um elenco de 300 jogadores – sendo que alguns deles estariam registrados em mais de um deles.

A temporada de boatos (que na Fórmula 1 é conhecida como “Silly Season”) está mais forte na Itália por alguns motivos. Primeiro, que todo mundo sabe que os grandes do país estão com dinheiro em caixa para gastar. Além disso, há uma certa ‘seca’ causada pela ausência de contratações no ano passado.

O fenômeno chegou a tal ponto que mesmo jornais sérios, como a Gazzetta Dello Sport, ficam sem assunto e acabam tendo de cobrir a briga entre o Milan e o risível diário espanhol Ás, que ‘assegura’ que Kaká vai para o Real Madrid. No mais, pouco se fala sobre os clubes em si, já que o que excita o imaginário dos torcedores é mesmo a ida de grandes estrelas para grandes clubes.

Os agentes têm participação ativa no episódio. As chamadas “fontes não-identificadas”, tão mencionadas nos tablóides, são em 99% das vezes empresários que ligam para jornalistas com “furos” sensacionais, que, coincidentemente, são bastante convenientes para os jogadores por ele assistidos.

Tirando toda a presepada que assola os jornais (italianos e mundiais) nos dias de hoje, a verdade é que: sim, Inter, Milan e Fiorentina contratarão um grande jogador cada. No máximo. Imaginar que meio Chelsea aportará em Milão antes de agosto é fantasia de torcedor. Se é isso o que deixa o internauta entusiasmado, o melhor a fazer é iniciar uma temporada do jogo ‘Football Manager’. Pelo menos, a boataria tem mais fundamento.

Donadoni na berlinda

Não é novidade que o técnico da seleção italiana, Roberto Donadoni, está acuado pela possibilidade de não se classificar para a Eurocopa sem passar pela repescagem. Ah, sim, também tem a má-vontade de Francesco Totti. E a ausência de Alessandro Nesta. E a ineficiência de Luca Toni nas últimas partidas. Um cenário nada róseo.

Donadoni conseguiu mais um problema na sua lista de obstáculos – e um nada agradável. O presidente da Lega Calcio (a associação dos clubes italianos) e ex-presidente da Federcalcio, Antonio Matarrese, não gostou do fato do técnico ter criticado a decisão de se começar o Italiano somente em 26 de agosto, e advertiu Donadoni: “Roberto, fale menos que é melhor para você”. Matarrese, historicamente ligado à direção do Bari, é uma figura importantíssima na política do futebol italiano e provavelmente significa uma bela dor de cabeça para o CT ‘Azzurro’.

O ex-jogador, que nunca foi vaca de presépio, devolveu à altura ao dirigente e mandou avisar que “era melhor que todos fechassem a boca” e não só ele, numa clara referência a Matarrese. “Se alguém tem alguma coisa a me dizer, deve fazê-lo na minha cara”.

Apesar de não ter sido muito diplomática, a crítica de Donadoni é bastante pertinente. Começando o campeonato assim tão tarde, os jogadores italianos terão menos ritmo de jogo do que os franceses, quando as duas seleções se enfrentarem em Milão no dia 8 de setembro. E essa é uma partida vital para a Itália – talvez a melhor chance de tirar a França da ponta da tabela.

Isso diz alguma coisa em relação ao futuro de Donadoni? Sim. A verdade é que o CT está numa posição na qual pode errar menos do que nunca. Com a menor pressão, os cartolas italianos (entre os quais certamente estará Matarrese) não terão dúvidas em dar um chega-pra-lá no técnico. Não nos esqueçamos que Marcello Lippi, campeão mundial em 2006, ainda está aí dando sopa. Ah, sim, e Fabio Capello também…

Fiorentina

Destaque: Adrian Mutu (atacante).
Classificação final: 13o lugar.
Resultados na Europa: não participou.
Copa Itália: eliminada no 2o turno pelo Genoa.

Uma temporada ótima. A única mácula foi ter escapado da Série B em uma manobra sórdida no tapetão. Tirando isso, a ‘Fiore’ pode festejar à vontade. Teve um time consistente, reforçou seu esquema tático, conseguiu vender (bem) Luca Toni para dar um espaço para crescer um talentosíssimo Pazzini. A Fiorentina também entusiasma por estar agregando uma forte base de jovens italianos (Pasqual, Donadel, Montolivo, Lupoli, Balzaretti). Uma vaga da LC do ano que vem será, com toda certeza, do time de Florença. Quem ficará de fora? Boa pergunta.

Internazionale

Destaque: Zlatan Ibrahimovic (atacante).
Classificação final: Campeã.
Resultados na Europa: eliminada nas oitavas-de-final da Liga dos Campeões, pelo Valencia (ESP).
Copa Itália: vice-campeã.

Paradoxalmente, a campanha interista que culminou com o seu título tão sonhado há 18 anos, talvez não seja o prêmio que o clube merecia. O elenco do clube poderia perfeitamente ter sido campeão italiano, mesmo com Juventus e Milan, que foram colocados fora de combate, punidas pelo escândalo do ‘Moggigate’. Mas sem os maiores rivais, virou um campeonato ‘café com leite’.

O título da Inter é mais que merecido. Com uma defesa raramente testada, um meio-campo fortíssimo e um ataque estelar, o time ‘nerazzurro’ raramente esteve em dificuldade nas partidas domésticas e sucumbiu fragorosamente na final da Copa Itália. A superioridade nunca se refletiu na LC, no entanto, fazendo da competição européia o alvo número um do clube nesta temporada. Além do destaque óbvio de Ibrahimovic, Vieira, Cambiasso e Sataknovic também deram show, mas no meio-campo.

Lazio

Destaque: Tommaso Rocchi (atacante).
Classificação final: 3o lugar.
Resultados na Europa: não participou.
Copa Itália: eliminada no 3o turno pelo Messina.

A exemplo da Fiorentina, a Lazio já poderia jogar as mãos para o céu de não ter caído para a Série B. Encerrar junho com uma vaga na Liga dos Campeões, então, é um fato para se celebrar até o Coliseu ser reinaugurado. Delio Rossi, o técnico, fez de um elenco modesto, um time insinuante. Compôs uma excelente defesa, inventou Mauri na posição de ‘trequartista’ e lançou Rocchi para a órbita ‘Azzurra’ definitivamente. Não faltam pontos a se elogiar nessa Lazio que vem se saneando nos últimos anos. Como a Fiorentina, é verdade, também se safou da degola no tapetão, mas dentro de campo, assim como o time ‘gigliato, fez por merecer a boa posição conquistada.

Curtas

A Juventus da era Moggi sofreu mais uma condenação nesta semana, desta vez vindo de uma voz bastante considerável

John Elkann, irmão de Lapo Elkann, futuro ‘capo’ da Juve (e igualmente herdeiro dos Agnelli), condenou a gestão de Moggi na Juve, tanto sob o ponto de vista financeiro como ético.

“As contas não fechavam e a situação seria insustentável em alguns anos, mesmo com as manobras financeiras. E outros comportamentos foram ainda mais inaceitáveis”, bateu Elkann.

Ricardo Oliveira está de saída do Milan, segundo Adriano Galliani – como se ninguém soubesse. Marco Storari deve ir para o Cagliari em troca de uma opção sobre o zagueiro Canini.

Galliani também descartou a possibilidade de Emerson aportar em Milanello, ainda que o Real garanta que o brasileiro está de saída.

Segundo a imprensa espanhola – cuja confiabilidade é a mesma da defesa de Dunga – o Real ofereceu à Roma €18 milhões mais o passe de Cicinho por Chivu.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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