Adeus, Chievo

A 38a rodada do Campeonato Italiano não poderia ter sido mais emocionante. Se as primeiras posições já estavam decididas, a última vaga do rebaixamento fez com que cinco partidas ainda tivessem um suspense digno de Hitchcock. E depois de 90 minutos onde o rebaixamento mudou de dono por várias vezes, o apito final decretou que o Chievo, derrotado pelo Catania no campo neutro de Bolonha, estava rebaixado.

O curioso – e digno de nota positiva – no rebaixamento do Chievo foi que a partida não acabou com dirigentes apopléticos gritando na beira do gramado nem com marginais de torcidas organizadas com os rostos mascarados arremessando pedras contra a polícia ou xingando seu time. Na verdade, os cerca de 3 mil torcedores do clube vêneto que se deslocaram de Verona à Toscana para acompanhar seu clube acabaram a partida aplaudindo o time – mesmo rebaixado.

Depois do jogo, mais surpresas boas numa Itália que não sabe perder. O técnico Luigi Del Neri e seus jogadores lamentavam profundamente o resultado, mas assumiam toda a responsabilidade. “Fomos rebaixados por demérito nosso”, afirmou o capitão do Chievo, Salvatore Lanna, em lágrimas. O treinador Del Neri, responsável por uma reação do time do fim do torneio, disse que se depender dele, ele continua no clube mesmo com o rebaixamento.

A queda do Chievo é uma pena para o futebol italiano. Em que pese o fato de não ter uma torcida numerosa nem uma história de glórias na Série A, o clube do bairro de Verona que suplantou o próprio clube que tem o nome da cidade, demonstrou uma capacidade gerencial muito mais eficiente do que a maioria dos clubes da máxima divisão. Com um orçamento baixo, conseguiu buscar nomes desconhecidos que depois foram bem em clubes maiores, como Perrotta (Roma), Amauri e Barzagli (Palermo), Legrottaglie (Juventus).

Os dois clubes que se safaram por pouco da degola, Catania e Siena, ao contrário, têm pouco a agregar à Série A. Elencos cheios de jogadores emprestados, com salários em desacordo com as receitas do clube e raríssimas revelações de garimpo de atletas. A opinião geral é que se o Catania caísse poderia significar a bancarrota do clube siciliano, porque o balanço do time está mais do que no vermelho.

O “Ceo” (que significa “Chievo” no dialeto veronese) é o único dos três rebaixados que fará alguma falta à Série A. Messina e Ascoli mantiveram-se na primeira divisão mais na sorte do que qualquer outra coisa e a promoção de Napoli, Genoa e Juventus (os três da ponta da tabela a duas rodadas do final) não deixará nenhuma saudade dos dois. Pelo fim de campeonato de grande esportividade, já se torce desde já para que o Chievo recupere-se na próxima temporada.

Deschamps, saída-choque

Na noite de sexta-feira, um boato surpreendente veio de Turim, sem confirmação nem do clube nem do interessado e deixou o futebol em apreensão até a manhã seguinte: Didier Deschamps teria pedido demissão da Juventus por diferenças com a diretoria do clube e comandaria o time pela última vez contra o Mantova, no sábado passado. Na manhã de sábado, a Juve confirmou o pedido e começaram então as especulações.

A primeira delas é: por que razão Deschamps teria pedido demissão após ter conduzido a Juve em um ano tão difícil. Embora ele negue, a resposta não é difícil de se supor quando se dá conta que o rico e poderoso Lyon demitira Gérard Houllier no mesmo dia.

“Mas dirigir a Juventus não vale mais do que comandar o Lyon?”, pode perguntar o internauta. Sim, vale. A grande questão é que Deschamps sabe perfeitamente que nesta próxima temporada a Juventus dificilmente poderá disputar o título, uma vez que precisa se recapitalizar depois de doze meses na Série B – mas a torcida vai querer o título. De uma certa maneira, pode-se dizer que a temporada verdadeiramente da Juventus está para começar.

Além disso, Deschamps sabe que pegar o Lyon é uma barbada: um clube muito rico, com um elenco excelente e que está muito à frente da concorrência doméstica (basta lembrar da seqüência de seis títulos nacionais que o clube conquistou). O ex-capitão da seleção francesa vai para um clube onde poderá conseguir o seu primeiro título nacional (provável) além de disputar a Liga dos Campeões em condição de repetir a façanha de seu Monaco finalista.

Para o lugar de Deschamps na Juventus, já surgiu uma lista de nomes. O primeiro seria o de Marcello Lippi, que teve duas passagens pelo clube piemontês e que está sem clube desde a conquista da Itália em Berlim. Além dele, um nome de segurança no Delle Alpi, cogita-se a possibilidade de Walter Novellino (Sampdoria), Gianluca Vialli, Antonio Conte (atualmente no Arezzo) e Delio Rossi (Lazio). A hipótese Conte, na verdade, comportaria a volta de Lippi como diretor geral. O mercado de técnicos italiano promete ficar aquecido desde já.

Em fim de gestação

Desde 1898, quando o Genoa venceu a primeira edição da primeira divisão italiana, diante de apenas outros três times, nunca o campeonato italiano tinha vivido uma temporada tão ruim. Tudo foi amargo: desde o rebaixamento da Juventus até as punições de Milan, Lazio, Fiorentina, Reggina e Siena, passando pela debandada de jogadores e o olhar de reprovação vindo de toda a Europa justamente em relação a uma das coisas mais importantes para o italiano: o ‘calcio’.

Houve poucos momentos de beleza na atual temporada, mas uma coisa parece certa: apesar da maioria esmagadora dos meliantes que causaram o ‘Calciocaos’ terem saído do escândalo sem as devidas punições, o futebol italiano na temporada 2007/08 voltará muito, mas muito mais forte graças à um período de ‘purgatório’, que era absolutamente indispensável.

Os quatro maiores clubes da Itália – Inter, Roma, Milan e Juventus – conquistaram algum título importante e vão para a próxima temporada com um grupo mais coeso e em condições de alçar vôos maiores. E além disso a primeira divisão italiana muito provavelmente trocará três times de menor expressão, Messina, Ascoli e mais um entre Reggina, Chievo, Siena ou Catania (Parma à parte), por três ex-campeões que somam 38 títulos.

De Milão vieram os maiores ressurgimentos. Na casa ‘nerazzurra’, a Inter conseguiu tirar das suas costas um peso que inviabilizava toda campanha desde 1989. mesmo com times bons, a obrigação de vencer tornava as disputas muito duras. A Inter de Mancini não terá a vida mansa desta temporada, mas com a base do time deste ano mais uma campanha de contratações racional, certamente pode lutar pelo bi.

Na casa ‘rossonera’, finalmente foi possível acabar com o fantasma de Istambul. O grupo do Milan ainda sentia as feridas da derrota para o Liverpool em 2005 e em qualquer crise, rumores de jogadores querendo sair ganhavam força. Agora, pelo contrário, o grupo milanista é mais sólido do que nunca, tem um Ronaldo desesperado para vencer e pelo menos mais um nome de peso. Isso tudo além de dar a Carlo Ancelotti a paz para trabalhar que ele não tem há pelo menos dois anos.

Na Roma, a Copa Itália serve para fazer com que Luciano Spalletti abra sua galeria de títulos e se credencie como um técnico de primeira linha. A Roma de hoje é obra sua e não tem nada de nenhum outro treinador. A boa campanha desta temporada deve possibilitar a chegada de reforços. Aumentar a profundidade do elenco é a meta do clube hoje e as condições são propícias para isso.

Ainda que com suas ambições redimensionadas, a Juventus também pode comemorar. Não deve voltar à Série A com o pé na porta, mas pelo menos garante o adeus ao sofrimento da ‘Serie Cadetta’. O clube já prometeu investimentos e bons jogadores são necessários para este grupo no qual jogadores importantes ficaram com uma certa idade – Del Piero e Nedved, para citar dois deles.

Os outros prováveis ‘neopromovidos’ para a Série A (Napoli e Genoa) também devem ter um forte empuxo em suas ambições. O Napoli, pela primeira vez em muitos anos, não chega à Série A em sua tradicional confusão. A atual diretoria tem recursos e competência para manter o clube na Série A por mais tempo. Em Genova, o primeiro campeão italiano também deve seguir um modelo de gerenciamento menos dado a palhaçadas – e deve contar com uma torcida fanática, ávida pela primeira divisão há 13 anos.

Dos representantes italianos na Europa – Empoli, Fiorentina e Palermo – o primeiro deve ter dificuldades e pode até comprometer a sua permanência na Série A por causa disso. Mas toscanos e sicilianos podem ser sérios candidatos ao título da Copa Uefa. Se não houver nenhuma surpresa negativa, o futebol italiano deve estar de volta mesmo depois de junho. Estamos na torcida.

Itália, novidade é Inzaghi

Roberto Donadoni não chamou nenhum estreante para o elenco italiano que enfrentará as Ilhas Faroe no dia 2 e a Lituânia em Kaunas, no próximo dia 6 de junho, pelas Eliminatórias da Eurocopa, mas surpreendeu até certo ponto ao chamar o atacante milanista Filippo Inzaghi, que fez os dois gols que deram o título europeu ao seu clube na semana passada.

O jogo contra a Lituânia é vital para as ambições italianas na competição e para a permanência de Donadoni em seu posto. Os italianos estão em quarto lugar na tabela, com dois pontos a menos do que Ucrânia, França e Escócia (que, junto com Geórgia e Ilhas Faroe, tem uma partida a mais).

A torcida italiana é para França e Ucrânia perderem pontos no confronto direto, o que igualaria ambas para o retorno das Eliminatórias em setembro, quando a Itália recebe a França, na nova reprise da final da Copa do Mundo. O grupo se reúne nesta terça-feira, no CT de Coverciano e voa na quinta-feira para Vagar, nas Ilhas Faroe. Após o jogo, o grupo volta à Itália e treina no CT do Milan antes de embarcar para Kaunas.

A convocação de Inzaghi demonstra uma preocupação consistente de Donadoni em fazer pontos contra os dois adversários mais fracos do grupo. O milanista talvez não figure nos planos de longo prazo do técnico, mas entre os chamados, é certamente o mais em forma. Totti segue de fora da ‘Azzurra’ Esta é a lista dos convocados:

Goleiros: Abbiati (Torino), Amelia (Livorno), Buffon (Juventus).

Defensores: Barzagli (Palermo), Cannavaro (Real Madrid – ESP), Gamberini (Fiorentina), Materazzi (Inter), Oddo (Milan), Pasqual (Fiorentina), Tonetto (Roma), Zambrotta (Barcelona – ESP).

Meio-campistas: Ambrosini (Milan), De Rossi (Roma), Diana (Palermo) Gattuso (Milan), Perrotta (Roma), Pirlo (Milan).

Atacantes: Del Piero (Juventus), Di Natale (Udinese), Inzaghi (Milan), Lucarelli (Livorno), Quagliarella (Sampdoria), Rocchi (Lazio).

– O prefeito de Roma, Walter Veltroni, declarou que prefere que a Lazio construa um novo estádio em Fiumicino, região metropolitana de Roma, onde fica o aeroporto internacional. “A região tem uma infra-estrutura muito boa”, disse.

– Veltroni se opõe à reforma proposta pela Lazio no estádio Flamínio, que hoje é usado pela seleção italiana de rugby.

– Depois de ter dado declarações de descontentamento com a reserva na conquista da LC, Kakha Kaladze declarou que fica no Milan até 2011.

– O Milan contratará pelo menos um reforço de peso para a próxima temporada. O vice-presidente, Adriano Galliani, afirma que será um atacante. E se fala em Shevchenko.

– Na Lazio, Tommaso Rocchi, recém-convocado para a ‘Azzurra’, iniciou negociações para renovar seu contrato.

– Na Roma, os defensores Mexés e Chivu também serão premiados com melhorias contratuais.

– Esta é a seleção Trivela da última rodada:

– Pantanelli (Catania); Semedo (Cagliari), Gamberini (Fiorentina), Stovini (Catania) e Kaladze (Milan); Sivok (Udinese), Corini (Palermo), Figo (Inter), Montolivo (Fiorentina); Rossini (Catania) e Amoruso (Reggina)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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