O rei de Parma

Depois da queda do império Parmalat, o Parma assistiu a uma grande mudança no seu elenco. Saíram de cena os jogadores de salários gigantes (alguns, craques como Buffon; outros, pífios como Djetou), e entraram no palco nomes modestos como Bolaño, Dessena e Cardone. O resultado é mais que óbvio: o clube trocou de lado na tabela.

Na seca de talento que tomou conta de Parma, um italiano pouco famoso no exterior continuou no clube. E assim, Domenico Morfeo se transformou no principal jogador do Ennio Tardini. Não, Morfeo não é um superstar, embora desde cedo deixasse claro que tinha recursos para tanto.

Morfeo é um dos inúmeros produtos talentosos da divisão de base da Atalanta. Treinado em Bergamo por Cesare Prandelli (seu técnico predileto), Morfeo desde cedo mostrou grande habilidade com a bola, mas uma inconsistência provocada pelo seu temperamento difícil. Temperamento que ele assume.

Vendido à Fiorentina, deixou o Artemio Franchi por ter poucas chances com Giovanni Trapattoni. Passou meia temporada no Milan e jogou dez vezes na temporada milanista do 15º ‘scudetto’. Depois, novamente Fiorentina, Cagliari, Verona, Atalanta, mais uma vez Atalanta, Fiorentina e Inter.

Morfeo joga na mesma posição de Kaká ou um pouco à frente. Pode ser atacante ou armador no meio-campo. Sua grande visão faz dele um assistente fantástico. Aliás, neste final de semana, deu dois passes incríveis para os gols do Parma para cima do Empoli. E se confirmou como o nome-chave para o Parma sair de sua situação difícil. Será que ele tem bala na agulha para tanto?

Tem. O time titular do Parma é um grupo bem razoável, com um ‘mix’ de experiência e talento. Cardone e Couto formam uma zaga segura, Simplício, Bolaño e Grella têm como fechar bem o meio-campo e Morfeo pode jogar como o criador de jogadas para o atacante Corradi.

O time tem dois problemas, em tese. O primeiro é a ausência de reservas. Quando alguém se machuca ou é suspenso, o técnico Beretta precisa mandar jogadores jovens a campo, e na Série A, isso normalmente custa um preço. Boas promessas como Dessena e Ferronetti correm riscos quando precisam jogar na fogueira.

O outro problema é que, tendo de usar três volantes para fechar a defesa, Beretta precisa escolher se atua com dois meias-atacantes ou dois jogadores pelas alas. Os laterais (Bonera e Cannavaro, contra o Empoli), raramente avançam, obedecendo a um rígido sistema.

No time do Parma falta hoje um volante capaz de fazer o trabalho “sujo” sozinho. Não um jogador violento, mas um marcador incansável que segure a bola e tenha boa visão da partida. Se o Parma tivesse um Gattuso ou um De Rossi, poderia abrir mão de um volante para inserir mais um atacante.

De qualquer forma, a estrela do time continuaria sendo Morfeo. A sorte do Parma no campeonato está atrelada à forma do jogador de Pescina. Se mantiver a forma física e sem suspensões, Morfeo conduz o Parma à uma manutenção tranqüila na Série A. Sem ele, pode pegar na foice para lutar contra o rebaixamento.

Del Neri, Palermo: é adeus

A notícia já estava rodeando o Renzo Barbera há meses, mas o 3 a 1 sofrido em casa diante do Siena foi a gota d’água. O Palermo mandou o técnico Luigi Del Neri embora para contratar Luigi Papadopulo. Segundo o cartola palermitano Maurizio Zamparini, com o elenco que tinha à sua disposição, Del Neri tinha de estar na zona Uefa, e ameaçando os pretendentes à Liga dos Campeões.

Zamparini é um cartola do estilo mais inadequado para um clube de futebol. É verdade, boa parte dos gastos do Palermo saem direto de seus bolsos, mas o destino do clube fica atrelado à necessidade de exposição de Zamparini. Assim foi com Francesco Guidolin e com Del Neri.

O técnico recém-demitido foi o responsável pelo milagre-Chievo de algumas temporadas atrás. Seu jogo prega um 4-4-2 férreo, com muita posse de bola, linha de impedimento e jogadas em velocidade pelas laterais. Del Neri prioriza o jogo ofensivo antes de mais nada. Seus dois meio-campistas centrais têm de ter bom passe e marcar forte. Tinha gente para isso em Palermo?

Sim, tinha. O grande problema é que para o jogo de Del Neri florescer, é preciso tempo. Pelo menos uma temporada. Mesmo com jogadores de boa qualidade como Santana, Barzagli e Makinwa, o esquema de Del Neri é muito calcado em cima do entrosamento, especialmente na fase defensiva, uma vez que seus times não jogam com um homem na frente da zaga pra cobrir a defesa.

Logo, é exatamente o que Zamparini não podia dar. O dirigente é o tipo de cartola que dá entrevistas antes e após o jogo dizendo quem tem de jogar e quem está indo mal. Embora diga que não, na verdade, ele escala o time pela imprensa. Del Neri não é o tipo obediente e aí já estava feita a confusão.

Papadopulo vai melhorar o rendimento dos sicilianos? Dificilmente. Não se trata de um treinador ruim, mas também é pouco além da média. É muito provável que o elenco forneça uma reação imediata – afinal, mão existe mais a desculpa do técnico. Provavelmente Papadopulo reforçará a defesa como qualquer time que sofre muitos gols faz. Mas a longo prazo, é uma mexida bem frustrante para os admiradores da camisa ‘rosanero’.

Último dia de mercado

Nesta terça-feira, os clubes na Itália – e na Europa – terão seus últimos momentos para fechar possíveis transações de mercado e mesmo que párea improvável alguma grande contratação, não é de se descartar que os grandes clubes estejam guardando suas surpresas para o último momento, para surpreender os rivais e evitar leilões.

Nesta segunda-feira, as mexidas de mercado mais faladas eram as de Fábio Simplício indo para o Palermo e Simone Barone indo para a Juventus. Mutarelli seria emprestado para o Parma e iria para a Fiorentina em junho, fechando a migração de meio-campistas.

Além de Barone, a Juventus se esforça para conseguir um defensor para a vaga de Zebina, que anunciou que deixa o clube em junho, com passe livre. Gallas, do Chelsea, é o nome mais mencionado, mas para tanto, a Juve tem de convencer José Mourinho, técnico dos ‘Blues’ a liberar o jogador.

A Inter já acertou a contratação do brasileiro Maxwell, do Ajax. Valeri Bojinov quase que com certeza segue para a Milão ‘nerazzurra’, com Pizarro ou Materazzi indo para Florença com mais algum dinheiro. O procurador de César, da Lazio, garante que na quarta-feira, César já será interista. Claro, palavra de agente…

No Milan, apesar da milésima negativa do clube, o que se diz é que o clube procura sim um defensor, mesmo que para junho – o que não descartaria uma contratação surpresa. Ujfalusi, também da Fiorentina, passou a ser cogitado pelos sites e rádios italianos, e de acordo com o site Calciomercato, o Milan teria feito uma proposta de €6 milhões por Ryan Babel, meia-atacante do Ajax.

– O leite deu uma azedada entre Fabio Capello e Ibrahimovic.

– O temperamental e talentoso atacante juventino, sem marcar há mais de dois meses, acertou um murro em Zebina durante um treinamento e provocou a fúria de Capello, que o ‘rebaixou’ para o time reserva no treinamento.

– Capello também não pulou de alegria com o comportamento desmotivado do sueco quando este entrou como substituto na partida contra o Ascoli.

– A Sampdoria anunciou a contratação de Mark Iuliano, ex-Juventus, que estava no Mallorca de Hector Cuper.

– Ferrari, cedido pela Roma ao Everton, pode retornar ao clube depois de sua infeliz experiência inglesa.

– Esta é a seleção Trivela da 22ª rodada da Série A:

– Chimenti (Cagliari); Zebina (Juventus); Cannavaro (Juventus), Stovini (Lecce) e Mexes (Roma); Figo (Inter), Perrotta (Roma), Cambiasso (Inter) e Bresciano (Parma); Morfeo (Parma), Trezeguet (Juventus) e Totti (Roma).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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