Sinal de alarme? Vai nessa…

Um empate na polar Verona e um sofrimento incomum para bater – de virada – o Empoli já levantaram bandeiras sobre o rendimento da Juventus e a sua capacidade de conter a marcha interista (invicta desde 26 de Outubro, quando perdeu para a Roma) rumo à liderança. Mas isso já se tornou hábito. Se um time vence trinta partidas e empata a 31ª, já interpretam como crise.

Ressaltado o fato de que a Juventus terá – mais cedo ou mais tarde – uma diminuída na sua marcha, achar que há alguma sombra de crise nos arredores do Delle Alpi é, no mínimo, ingenuidade. Claro, a torcida interista tem o direito de pensar assim, mas será preciso muita torcida para reverter o ritmo juventino.

É curioso notar que a Juventus tem uma dificuldade para reverter resultados quando sai atrás no placar. Teoricamente, acostumada a impor o ritmo do jogo com um meio-campo muito forte, não deveria ser problema não ter de depender de contra-ataques. Mas diante do Empoli e do Chievo, a Juve patinou.

Colocando este detalhe de lado, basta dizer que se é verdade que alguns jogadores piemonteses podem cair de produção (como Del Piero e Zambrotta, por exemplo), vale lembrar que nomes como Mutu e Ibrahimovic ainda não atinigiram seu auge na temporada.

As reservas juventinas certamente vão além de contar com o ‘sprint’ de alguns de seus atletas. Capello é um treinador maquiavélico para administrar vantagens. Talvez vejamos alguns jogos em que a Juventus pareça mais opaca do que de costume, mas daí a ver um ponto fraco – como tem o Milan, em sua defesa, por exemplo – vai uma grande distância.

A campanha interista, pela primeira vez desde que Roberto Mancini assumiu, se mostra consistente. Claro, eventualmente alguma sorte ajuda, especialmente quando a sorte se chama Adriano. O atacante brasileiro é capaz de resolver jogos sozinho (como contra o Milan) e a sua consistência é um dos segredos do time milanês.

Mas não é só. A Inter melhorou sua defesa (ainda que o setor esteja longe de ser invejável) e Cambiasso é o verdadeiro cerne da solidez do time. Semana sim, semana não, o meia joga bem, filtrando as bolas que chegam até Samuel, mas encontra tempo para ajudar a armar o jogo.

“Quer dizer que a Inter pode ser campeã?”. Poder, sempre pôde – e continua podendo. Mas não é este o ponto. A Inter começa a apresentar um time sólido que tem como disputar todo um campeonato ponteando a tabela. O grande problema é que a Juventus já tem este time desde o ano passado e tem mais jogadores que decidem partidas, uma defesa mais técnica e experiente e um técnico com uma bagagem ímpar. Campeonato ainda aberto, mas tudo está nas mãos da Juve. Para outro time vencer, ela tem de escorregar feio.

Presepadas

Há alguns meses, quando a Justiça italiana condenou a Juventus pelo uso excessivo de medicamentos (a.k.a. doping), suscitaram-se dúvidas sobre se o clube piemontês deveria perder a Liga dos Campeões que conquistou batendo o Ajax. A imprensa italiana se crispou de ódio. “Os holandeses, que inventaram o doping, não têm estatura para fazer uma sugestão do gênero”, escreveu um importante colunista esportivo.

Nesta semana, o lançamento da autobiografia de um ex-jogador francês, Jean-Jacques Eydelie, que foi meio-campista do Bastia, Nantes e do Olympique de Marselha quando este último bateu o Milan na final da Liga dos Campeões de 1993. “Usei doping em todos os clubes que passei, exceto o Bastia. Na final de 1993, todo mundo tomou doping, menos o Rudi Voeller”, conta Eydelie em sua autobiografia. E não é que a idéia de “requerer” à Uefa que tire a taça do OM e a entregue ao Milan encontrou eco em uma quantidade considerável de gente?

O vice-presidente do Milan, Adriano Galliani, disse que vai esperar o resultado do inquérito da Uefa para se pronunciar, mas ficou claro que ele conta com a hipótese de aumentar a sala de troféus milanista com a ajuda do tapete da federação. O que, naturalmente, seria uma bela vergonha.

A conquista do Olympique em 1993 já está melada de lama. A conquista do gigante francês manchada por envolvimento em corrupção do clube numa partida contra o Valenciennes. Assim, a Uefa não permitiu que o OM defendesse o título no ano seguinte. Mas, pelo menos oficialmente, o clube ainda é considerado campeão europeu daquela temporada pela entidade européia.

Toda a gestão do presidente Bernard Tapie no OM foi uma ignomínia, claro. Só que o Milan pretender conquistar a taça treze anos depois não é muito mais honrado. Títulos vencidos no campo existem. Os outros não. O que a Uefa deve fazer é, no máximo, tirar o título do clube francês. Se o Milan vencer a parada, será uma vergonha.

Um mercado mais calmo que o habitual

A falta de grana generalizada (Inter à parte) constringiu a maioria dos clubes italianos a sossegarem o facho. O Treviso (que já levou seis reforços para o Omobono Tenni), na vice-lanterna, e a Fiorentina (com três novos nomes) são os dois únicos clubes que fizeram mais contratações. Nem mesmo viciados frenéticos (como a Inter) ou clubes que realmente têm carências (como o Milan e a Udinese) se atiraram no mercado.

Os milaneses são o maior mistério até aqui. O Milan até mesmo admite que terá de refundar sua defesa no final da sua temporada. Todo mundo imaginava que, além de Amoroso, levaria pelo menos um defensor. Falou-se em Lugano (São Paulo), Terlizzi e Barzagli (Palermo) e Oddo (Lazio), mas salvo uma surpresa, janeiro se encerrará com o brontossáurico Costacurta entre as opções defensivas de Carlo Ancelotti.

A Inter assumidamente quer um atacante (já que vai ficar sem Martins atéo fim da Copa da África) e mais um jogador para a faixa esquerda, ainda amaldiçoada pela sombra de Roberto Carlos há dez anos. A mídia cravou Simone Inzaghi e César ainda para esta semana, mas pelo menos oficialmente ainda não houve anúncio.

Nestes últimos dias de mercado, espera-se mais algumas contratações relevantes entre os clubes grandes. Contudo, a menos que – novamente – haja uma surpresa, terá sido um mês de janeiro “ruim” para os clubes, pela falta de dinheiro. Para o esporte, contudo, um basta para o frenesi dos agentes não é nada mal…

– O técnico interista assumiu uma postura conservadora ao falar das chances da Inter de destronar a Juventus.

– “No que me diz respeito, o campeonato está resolvido. Não depende mais da Inter, mas da Juventus”, disse o técnico interista.

– A dupla de ataque explosiva do Lecce de Zeman – pelo menos do primeiro turno do Lecce de Zeman – do último campeonato, agora parece em liquidação.

– Valeri Bojinov, a maior promessa búlgara desde Hristo Stoichkov, está jogando no time reserva da Fiorentina e foi expulso na última partida.

– Mirko Vucinic está no Lecce, mas está aceitando proposta para fazer qualquer coisa fora do Via Del Maré.

– Curiosamente, ambos interessam à Inter.

– E esta é a seleção Trivela da segunda rodada do returno italiano.

– Doni (Roma); Galante (Livorno), Cannavaro (Juventus), Chivu (Roma) e Kroldrup (Fiorentina); Mancini (Roma), Cambiasso (Inter), Figo (Inter); Kaká (Milan); Kutuzov (Sampdoria), Toni (Fiorentina)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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