Na marca do pênalti

À primeira vista, o leitor pode achar que esta coluna vai sugerir que um nome do Milan está na berlinda. Errado. No Milan, poucos são os que estão com a corda fora do pescoço. E sim, estão inclusas estrelas como Pirlo, Seedorf, Dida e Filippo Inzaghi.

A campanha do Milan no Italiano não é péssima. O time de Carlo Ancelotti tem exatamente o mesmo número de pontos – 48 em vinte e três partidas. O problema do time lombardo é que Inter e Juventus pontuaram bem mais nesta temporada e se o título já estava fora de questão, agora até a classificação direta para a Liga dos Campeões está ameaçada.

O vice-presidente Adriano Galliani insiste que está tudo bem e que não haverá nenhum processo para cima dos jogadores, mas não passa de jogo de cena. Se o clube sair da Liga dos Campeões – última ribalta desta temporada – é praticamente certo de que uma re-fundação vai rolar em Milanello.

O elenco milanista pode ser dividido hoje em quatro categorias: os intocáveis (como Kaká, Nesta, Gattuso e Gilardino), as estrelas que não estão jogando o que podem (como Pirlo e Maldini), as estrelas que correm risco (Dida, Seedorf, Rui Costa e Cafu) e os que já estão com a mala feita (Costacurta e Stam). Apesar de não ser uma divisão clara e definida, o clima que emana do elenco é esse. Ah, claro, e Carlo Ancelotti, que se fosse jogador, estaria entre as “estrelas que correm risco”.

Por partes: mesmo tendo conseguido séries de vitórias consecutivas, o Milan ainda não jogou metade do que poderia com o atual elenco. A defesa do time está estranhamente frouxa. Aí, a culpa vai dividida entre os defensores e o resto do time que, visivelmente, marca muito menos do que fazia há três temporadas, quando levantou a LC.

No capítulo ‘defesa’, Dida é especialmente atingido. O brasileiro é um goleiro que depende enormemente de sua dupla de zagueiros. Quando Maldini e Nesta estavam fazendo chover, Dida – sem ter de se preocupar com bolas cruzadas – dedicava toda a sua atenção ao que faz de melhor: ‘shot stopping’, ou defender chutes de longe ou de perto. Mas com a zaga sem brilho, Dida despenca de produção e já são vários os jogos que o Milan perdeu pontos exclusivamente por sua causa.

Mas não é só a defesa que patina. A receita de bolo de Ancelotti postando Pirlo como mediano está manjada e Kaká e Seedorf alternam grandes partidas com jogos medíocres. O time não marca forte (um indício disso é que o Milan é o clube com menos faltas na Série A). Assim, quando Shevchenko e Gilardino não tiram coelhos da cartola, já era. E a Série A não perdoa irregularidade.

Por mais que se tente encontrar outros motivos, o baque psicológico sofrido com a derrota na final de Istambul parece cada vez mais presente. Além da qualidade individual dos seus jogadores, o Milan tinha uma fibra e uma dedicação de um time de juvenis. Hoje, na maioria das vezes lembra muito mais um grupo de milionários acomodados do que atletas decididos.

O futuro ainda á uma grande incógnita. Todas as fichas estão na Liga dos Campeões, que não é um torneio exatamente simples de ser vencido. Ancelotti nunca esteve tão em julgamento quanto hoje e os próprios jogadores sabem como suas reputações estão em jogo.

O embate com o Bayern de Munique é o primeiro de uma possível série de ‘finais’ para esse grupo. Vitórias na competição podem dar o ânimo que o elenco precisa e fazer com que o time jogue o que pode – o que não é pouco. Se falhar, uma série de despedidas terá lugar em Milanello. E ninguém, nem mesmo os diretores do clube, podem dizer hoje quem continuaria e quem iria embora.

E o Del Neri foi (mandado) embora do Palermo

Depois de semanas de novela, o Palermo tomou a decisão que estava claro que ele tomaria desde o começo da temporada: sacrificou Luigi Del Neri em nome dos resultados. Para seu lugar, o clube do Renzo Barbera chamou Giuseppe Papadopulo, que levou o Siena à Série A. Del Neri certamente não repetiu em Palermo o trabalho que fez em Verona. E nem teria conseguido.

Mais uma vez a responsabilidade pesa sobre os ombros do ‘dono’ do Palermo, Maurizio Zamparini. Não que Del Neri esteja isento de culpa, mas seu ‘milagre’ no Chievo só se fez porque ele teve tempo para azeitar o time – característica fundamental no seu trabalho.

O elenco palermitano não é ruim, mas mais uma vez Zamparini exigia de seu treinador (como fez no campeonato passado com Francesco Guidolin) uma performance acima do que é justo esperar. E como normalmente faz (fez exatamente o mesmo com Silvio Baldini antes de Guidolin), colocou a cabeça do técnico na guilhotina.

Giorgio Tosatti, colunista do Corriere Della Será, observou depois da penúltima partida do Palermo com Del Neri na Série A: “Zamparini se irrita com Del Neri: tinha uma defesa blindadíssima (15 gols na temporada passada) e agora tem uma peneira (32). Mas para passar de um defensivista como Guidolin a um técnico ofensivista como Del Neri, alguns problemas já se deve esperar”.

A análise de Tosatti foi feliz porque contratar o ex-técnico do Chievo sem dar-lhe tempo (como ocorreu nos seus últimos três clubes – Porto, Roma e Palermo) é a mesma coisa que fazê-lo jogar com dez homens. Independente do elenco, o clube ‘rosanero’ estava fadado ao fracasso.

A isso, some-se o fato de que no clube siciliano, quem faz o ‘mercado’ de jogadores não é o treinador, mas o próprio presidente. Como bem anota o internauta Andrei Cavalheiro, o elenco do clube só tem um ala de origem (Santana), e a posição é mais que vital para o 4-4-2 ‘delneriano’.

Também não faz mal nenhum lembrar que Zamparini cedeu Luca Toni e, ainda que tenha levado Caracciolo e Makinwa para a Sicília, um clube do porte do Palermo não cede um goleador como Toni sem pagar nenhum preço.

O Palermo reagiu? Verdade. Contudo, depois da contratação de Joel Santana e Valdir Espinosa, alguns times brasileiros também reagem. Algumas ‘manhas’ como diminuir a carga de exercícios físicos fazem milagres nos primeiros jogos. Papadopulo dificilmente não fica para a temporada que vem. Exatamente para ser demitido no meio do campeonato. E ‘la nave va”…

– Um baita temporal está no horizonte do futebol italiano.

– Dois filhos do ex-presidente do Perugia, Luciano Gaucci, foram presos por falência fraudulenta, ocultação de documentos contábeis e formação de quadrilha.

– Em resposta, Luciano Gaucci, que ‘coincidentemente’ está na República Dominicana, já prometeu: vai abrir o bico.

– Gaucci prometeu chumbo grosso contra Luciano Moggi, Franco Carraro e Cesare Geronzi (presidente da Capitalia, o maior grupo bancário italiano).

– Yaya Touré, volante do Olympiakos, promete ser a vedete do próximo mercado.

– Juventus e Arsenal já demonstraram interesse.

O ex-jogador do Beveren e do Metalurg Donetsk é irmão de Kolo Touré, do Arsenal.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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