Em obras

Ainda não dá para dizer quem é mais forte. Pelo menos, não pelos resultados e performances conseguidos pelos times italianos nas primeiras partidas amistosas da temporada. Explica-se: os times da Série A começaram as suas pré-temporadas em datas bastante diferentes, levando em consideração a data de seus primeiros compromissos oficiais. Inter e Udinese, por exemplo, enfrentarão a fase eliminatória da Liga dos Campeões, e por isso, têm de estar prontas mais cedo.

Feito o parêntese, do pouco que se pôde observar, a Juventus é a que transpira mais confiança. No primeiro confronto direto com Milan e Inter, a Juve foi a que ficou “em último”, com duas derrotas nas partidas de 45 minutos, mas revelando que, nesse primeiro momento, as suas contratações parecem as mais acertadas.

Como se esperava, o grande trunfo da Juventus nesta temporada será o miolo de meio-campo com Emerson e Vieira. Não só porque os dois devem representar uma proteção ainda maior à defesa juventina (que já foi a melhor da última temporada, com 27 gols sofridos), mas também porque darão a Fabio Capello a possibilidade de alterar seu esquema tático conforme o adversário.

Na última temporada, Capello usou só o 4-4-2, com uma pequena variação para o 4-3-1-2 quando deslocava Nedved da ala para o meio. O técnico friulano não sentia segurança em deixar o meio-campo só com a vigilância do brasileiro Emerson. Com a adição de Vieira, Capello pode passar para um 4-3-3, com Vieira-Emerson-Nedved no meio-campo e escalar um trio de atacantes, com Ibrahimovic e Del Piero externos e Trezeguet centroavante. A alteração mata outro problema da última temporada, que era manter Del Piero, capitão e ídolo da torcida, no banco de reservas.

No Milan, O técnico Carlo Ancelotti ainda não testou nada de inesperado. A única mudança foi passar a defesa de 4 para três jogadores durante as partidas do Troféu TIM, mas ainda timidamente. O que Ancelotti já adiantou é que fará uma ‘invenção’ com um meio-campista seu. Provavelmente, a mudança será um deslocamento do volante Massimo Ambrosini para a zaga.

Quando chegou ao Milan, Ancelotti tinha um desafio para resolver: achar uma vaga no time para Andréa Pirlo. Considerado “o herdeiro de Baggio”, Pirlo não tinha espaço num time que já tinha Inzaghi e Shevchenko titulares absolutos. Ancelotti passou Pirlo para a posição de mediano, à frente da defesa. Ali, o jogador se consagrou num dos melhores do mundo na posição.

Se for mesmo Ambrosini o meio-campista a que se refere Ancelotti, são várias as razões para a tentativa. Primeiro, o técnico de Reggiolo tem muita afeição por ‘Ambro’, porque joga na mesma posição em que ele jogava e também sofre de problemas nos joelhos, assim como Ancelotti.

Além da admiração, Ancelotti lamenta não poder escalar mais o jogador, que tem sua posição fechada por Pirlo e Gattuso. Como Ambrosini começou a carreira como zagueiro, no Cesena, é excelente no jogo aéreo e bom na saída de jogo, Ancelotti poderia diminuir a idade média da defesa, criar uma alternativa excelente e até mesmo cogitar uma defesa de três zagueiros que ganharia um homem no meio campo quando tivesse a bola.

Capello e Ancelotti sabem que não adianta contratar craques a rodo, porque até o excesso de craques no grupo pode criar problemas. A versatilidade advinda da inserção de Vieira ou do deslocamento de Ambrosini pode ser um fator decisivo na reta final pelo ‘scudetto’.

E na Inter?

A Inter faz a sua pré-temporada um pouco mais tensa do que os rivais Milan e Juve. O primeiro motivo é circunstancial – a excursão que o time foi fazer na Inglaterra envolta no medo do terrorismo. O segundo, já era esperado: a tensão da fase eliminatória da Liga dos Campeões. Pode parecer pouco, mas esse obstáculo foi responsável direto pela queda de Marcello Lippi, quando os suecos do Helsinborgs despacharam a Inter e minaram a situação do técnico no clube.

O terceiro ponto de preocupação nas fileiras interistas é saber como a Inter vai tentar reduzir o ‘gap’ para Milan e Juventus. As contratações interistas foram boas, como o meia David Pizarro, o ala Solari e o lateral-ala Wome. Contudo, insuficientes se comparadas com Gilardino, Vieri e Vieira, as estrelas dos adversários.

O treinador Roberto Mancini manterá seu esquema 4-4-2 com toda certeza. Solari será o externo esquerdo e Stankovic, o direito. A dúvida é em relação a quem fará o miolo de meio-campo. Uma das vagas deve ficar com o argentino Cambiasso, que tem ótimo passe mas é excelente na marcação. A vaga de ‘arquiteto’ é que está em abrto, entre Verón e Pizarro, e é nela que a Inter sofre todas as temporadas. Pizarro teve uma temporada muito mais positiva do que Verón, mas o argentino, quando joga o que sabe, é insuperável. Mancini terá de escolher entre apostar em Pizarro ou confiar em Verón.

Genoa: é C1?

Esta coluna até que tenta evitar os imbróglios extra-campo da Itália, mas infelizmente, o panorama do futebol italiano dos últimos anos não tem ajudado. Parecia só mais uma denúncia entre tantas, mas é bem possível que o Genoa, o primeiro campeão italiano, perca a sua vaga na Série A e seja demovido à terceira divisão.

Recapitulando: na última partida da Série B, o Genoa bateu o Venezia por 3 a 2, sagrando-se campeão. Na semana seguinte, um diretor do Venezia foi preso com €250 mil em dinheiro e levantou-se a suspeita de que a grana fosse de um pagamento feito pelo Genoa para assegurar a partida, depois de verificar grampos telefônicos e tudo mais.

Pois bem: a procuradoria federal, encarregada da investigação, entendeu que o Genoa tem culpa sim e pediu punições severas para os envolvidos. Para o clube, rebaixamento para a última posição da Série B; para os dirigentes, interdição de quatro anos. O Venezia “escapou” da punição porque faliu e desapareceu.

O que a procuradoria deixou transparecer foi estarrecedor. Nas gravações telefônicas, Enrico Preziosi, dono do Genoa, falaria do dinheiro que deu ao Venezia. Na sua defesa, Preziosi disse que dera o dinheiro por causa de um prêmio que teria sido oferecido ao clube veneto para bater o Genoa. O dinheiro seria uma “compensação”. Outra versão seria a de que o dinheiro seria devido a um ex-jogador do Genoa, então no Venezia.

Preziosi é uma figura contumaz de confusões no futebol italiano. Três anos atrás, era dirigente do Como. Levou o clube à bancarrota esportiva e quando foi rebaixado da Série A, largou o clube e adquiriu o Genoa. O Como, junto com o Venezia, foi extinto por débitos duas semanas atrás. Curiosamente, o Venezia também trocou de proprietário recentemente, com Maurizio Zamparini pegando todos os jogadores do clube e levando para o seu recém-comprado Palermo.

O que vai acontecer? Ainda não se sabe, mas o mais provável é mesmo que o pedido de rebaixamento do Genoa seja acolhido e o clube tenha de disputar a Série C1. A tragédia para o clube seria incalculável, porque o clube já montou um elenco de Série A, com custos para tanto. Para o futebol, o dano não seria menor, especialmente se lembrarmos que Messina e Torino também correm risco de perder suas vagas, por não estarem com as contas em dia.

– A situação de Cassano na Roma só piora.

– No sábado, o técnico Luciano Spaletti chegou na sala de ginástica da Roma, onde os atletas se exercitavam e abaixou o som do rádio que estava ligado, e Cassano fez um comentário infeliz.

– “Este aí ainda não se deu conta de que não está mais em Udine”.

– Spaletti tirou de Cassano o posto de vice-capitão e passou a Montella, o que gerou bastante mal-estar.

– O pior, é que se Cassano não renovar, a Roma não poderá fazer nada além de deixa-lo ir a custo zero em 2006, porque está proibida de vender atletas até lá.

– O clube ainda espera poder contratar mais quatro atletas, com uma licença especial da Fifa, mas a chance é remota.

– A tentativa da Inter de não viajar á Inglaterra para fazer uma excursão previamente marcada causou um mal-estar diplomático.

– O governo inglês pressionou o ministro dos esportes da Itália para que o clube italiano ‘repensasse’.

– Fora o prejuízo dos clubes que tinham amistosos agendados, a Inglaterra luta para não ser vista como um lugar inseguro para turistas.

– Shevchenko e Jankulovski seguem seus programas de recuperação física a contento; devem estar mais que prontos para o começo do Italiano.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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