Monaco: ano zero para Leonardo Jardim

Com uma derrota minimamente estrondosa no último sábado, o Monaco iniciou a temporada 2018/2019 goleado por 4×0 na decisão do Trophee des Champions, a versão francesa da supercopa nacional. A equipe monagesca foi vencida pelo PSG, em partida que aconteceu na China.

A supercopa francesa opõe os últimos vencedores da Ligue 1 e da Coupe de France, sendo que o PSG venceu as duas competições. O Monaco entrou na vaga oriunda da Ligue 1, na condição de vice-campeão da liga nacional francesa.

O treinador português Leonardo Jardim terá algum trabalho, mesmo para se manter em patamar de disputa para competições europeias dentro da Ligue 1. Todos os ativos preponderantes da conquista da Ligue 1 16/17 foram negociados, terminando com as vendas de Fabinho (Liverpool) e Thomas Lemar (Atlético Madrid) seladas a pouco.

Ao fim da temporada 16/17 o Monaco se desfez de Bakayoko (Chelsea), Mendy (Manchester City), M’bappé (PSG), Bernardo Silva (Manchester City) e Germain (Olympique Marselha). O valor total dos nomes citados até aqui somados ultrapassam os 400 milhões de euros, dos quais a maior fatia surge referente ao preço de M’bappé (135 milhões).

O ideal do Monaco nos últimos anos passa muito longe de qualquer ambição extravagante, até porque seu dono, o russo Dmitri Rybolovlev, segundo consta passa por problemas financeiros decorrentes a um divórcio. A campanha surpreendente da temporada 16/17 não estava no roteiro.

Se o Monaco tem obtido êxito no trabalho de revelar ou projetar ativos que rendem lucros, o técnico Leonardo Jardim, no clube monagesco desde 2014, tem boa parcela de responsabilidade. O Monaco vem negociando bem atletas que, tal qual a seleção francesa provou no último Mundial, não fazem parte de uma geração qualquer. Dos citados mais acima Lemar, Mendy e M’bappé integraram o grupo francês bicampeão na Russia.

Nesse meio tempo ocorreram flops com certeza, tal qual (à época) vultuosa venda de Anthony Martial para o Manchester United (cerca de 60 milhões de euros) em 2015. Na França esperava-se de Martial algo que M’bappé veio a representar. Martial sequer foi convocado para a copa 2018.

Ainda tem de onde tirar?

Voltando a decisão do último sábado, Jardim mandou a campo alinhamento inicial, ainda sem peças principais, que à exceção do lateral-direito e campeão mundial Djibril Sidibé (seleção francesa), resumem-se em sua maioria a medalhões. Estavam em campo o trio de zagueiros Jemerson/Glik/Raggi e o atacante montenegrino Jovetić.

Falcao García, o goleiro vice-campeão mundial Subasić (seleção croata) e o próprio Sidibé ainda não estavam disponíveis. O meia português João Moutinho foi liberado para o inglês Wolverhampton poucos dias antes.

Dentre possíveis ativos futuros estiveram em campo o belga Tielemans (21 anos) e o luso-brasileiro Rony Lopes (22 anos) , além de Keitá Baldé (23 anos) que entrou no decorrer. Tielemans e Baldé jogaram a copa 2018 por Bélgica e Senegal respectivamente. A direção monagesca não esconde possibilidade de negociar Sidibé, mas o lateral não deve sair neste verão.

Dentre aquisições o russo Aleksandr Golovin, anunciado a poucos dias, ainda não teve condições de estrear. O meio-campista de apenas 23 anos não chega como reforço de peso e sim como outra aposta. Num todo, Leonardo Jardim deve dar oportunidade a grande número de atletas de faixa etária inferior a 22 anos. O objetivo não será conquista de títulos e sim obtenção de lucros com negociações.

Em termos táticos o Monaco derrotado pelo PSG no sábado, ressurgiu com desenho tático similar ao que encerrou a última temporada, com Jardim confiando no uso de três defensores. A equipe apenas se ajustou na segunda metade da temporada 17/18, quando o italiano Raggi foi reabilitado como terceiro zagueiro à esquerda. 

Jardim encerrou a última temporada sem peça de reposição para Bakayoko, meio-campista de vigor físico. Fora isso a eliminação da Champions League 17/18 na fase de grupos e sem direito a Europa League, contribuiu de forma significativa para o vice-campeonato da última Ligue 1. O Monaco não teria plantel suficiente para se manter em disputas continentais.

O lateral-esquerdo brasileiro Jorge deve ganhar maior preponderância, podendo trilhar caminho similar ao de Fabinho. No campo ofensivo, Rony Lopes deve se tornar uma opção mais efetiva. No caso deste atleta em específico, faz-se incompreensível o fato de Fernando Santos tê-lo testado na seleção de Portugal, mas não tê-lo convocado para a copa 2018.

Rony Lopes fez 50 jogos na última temporada, anotou 17 gols e concedeu 12 assistências. Entre as rodadas 26 e 33 da última Ligue 1, anotou 9 gols em 8 jogos. Os números de Rony Lopes foram muito mais significativos que os de André Silva (Milan – 40 jogos, 10 gols na última temporada – dados Transfermarkt).

Rony era a opção perfeita para atuar por Portugal aberto pelo lado esquerdo, com Cristiano Ronaldo fixo à área e Gonçalo Guedes (ainda pertencente ao PSG), como segundo atacante.

O Monaco estréia na Ligue 1 18/19 neste sábado, visitando o Nantes.

Imagem de Leonardo Jardim: página oficial do Monaco no Twitter/reprodução

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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