Mediocridade atleticana estava óbvia para quem quisesse ver

Quando o Atlético-MG venceu a Libertadores, numa dos maiores seqüências de sorte da história da competição, minha impressão era a óbvia – era um time medíocre. “Você está louco! É um baita time”, ouvi da maioria esmagadora de amigos e colegas. A derrota no Marrocos não é nenhuma zebra. O Galo é simplesmente um time medíocre, que teve a sorte de times ainda mais medíocres atravessarem seu caminho na competição sulamericana que venceu neste ano. Para a assessoria de imprensa que apostava num grande papel dos mineiros na África, ficou a enésima prova de incompetência. O Galo consegue ser quase tão incompetente quanto a mídia esportiva que o analisa.

O atual campeão da Libertadores, não por acaso, terminou na oitava colocação do Brasileiro –  a duas posição da qualificação exatamente medíocre da 10a. colocação. Além de um bom goleiro e dois veteranos em franca decadência (os dois campeões do mundo em 2002), o Galo tinha apenas em Bernard – uma promessa elevada à condição de monstro sagrado in the making – um jogador capaz de executar o inesperado com frequência suficiente para ganhar destaque. Mesmo assim, a Sportv achou forças para propor o que seria um “duelo” entre Thomas Müller  e…Diego Tardelli. Se fosse a primeira vez que umtorneio internacional estimula a mídia a agir como se o público fosse idiota, haveria espaço para debate. Mas não é. E nem será a última.

Não há muito para se falar além da constatação do óbvio e a de que o implante de cabelo do ex-técnico atleticano Cuca é provavelmente o mais ridículo já feito depois do Big Bang. O título do Atlético foi uma conquista bissexta, daquelas que ocorrem periodicamente com clubes de fora do eixo principal do futebol dos países. Montpellier (FRA), Lazio (ITA), Atletico Madrid (ESP), Boavista (POR) também já viveram glórias inesquecíveis com times que combinaram sorte, alguns jogadores em forma e rivais tradicionais em momentos de baixa. O Galo levantou o título sulamericano nas mesmas condições. Agora, ter acreditado que “craques” como Júnior César e Diego Tardelli eram de fato da elite do futebol mundial, isso era desnecessário.

Enquanto perdurar a falácia dos 12 grandes, os defensores dos campeonatos estaduais (que por conseqüência sustentam o regime corrupto das federações e CBF) e outras bobagens como a que o Brasil poderia ter “três seleções”, desapontamentos amargos como os desta semana continuarão a ocorrer, hoje com o Galo, ontem com o Santos e amanhã com outro time que aleatoriamente vence num campeonato varzeano como o Brasileiro. Quer argumentar que não é um torneio varzeano? Ok, então explique a um gringo o rebaixamento da Portuguesa. O pior cego é o que não quer ver. O atleticano deve ter descoberto isso da pior maneira.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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