Melancolia atleticana

O Atlético MG é um clube tradicional. Junto ao primeiro título de Campeão Brasileiro da primeira edição do torneio, há o atual título da Taça Libertadores em seu hall de conquistas mais importantes. O alvinegro acabou derrotado de forma melancólica na última quarta-feira, na semifinal do Mundial de Clubes FIFA, no Marrocos.

Os cruzeirenses estão tirando sarro até agora, os torcedores de clubes vencedores do torneio também e toda espécie de torcedores que costumam “gozar com o pau alheio”, tripudiam. O Atlético perdeu em campo, provando do seu próprio veneno, detalhe que durante a disputa da Taça Libertadores, era sua qualidade: o “fator campo”.

O Raja Casablanca que derrotou o Galo é um clube marroquino, que venceu o Monterrey nas quartas de final, já empurrado pela torcida local. Se é verdadeira a recíproca de que a FIFA orienta os árbitros a apitarem a favor do time local em caso de dúvida em Copas, o mesmo deve ser critério no Mundial de Clubes (ex. clássico Coréia do Sul x Itália em 2002).

O Atlético jogava mal contra um time ruim, até Ronaldinho Gaúcho, aos 63 min, voltar a ser por uma cobrança de falta, o R10 do Barcelona. O lance crucial foi o desarme ingênuo de Réver no lance do pênalti duvidoso. Zagueiros brasileiros que nunca atuaram na Europa são afobados. Num minimo de contato físico, qualquer atacante cai na área num lance de velocidade.

O atacante do Raja não era Iniesta, nem Ribery nem Hazard, nem David Silva. E este que vos escreve, sequer se recorda do nome do infeliz. Não era impossível Réver apenas acompanha-lo até a linha de fundo enquanto os defensores atleticanos retornavam ao campo de defesa.

É o mesmo Réver que em muitos momentos da partida de ida da final da Libertadores contra o Olimpia, titubeava em dar o primeiro combate no adversário. Isso com Luan recuando para cobrir Richarlyson, e tendo Leandro Donizete cercando o atacante adversário do lado oposto. O futebol brasileiro sofre com zagueiros que não sabem dar o primeiro combate.

Falta aos zagueiros brasileiros aquilo que o editor deste blog chama de “calma imbecil”, muito perceptível em zagueiros italianos. O Atlético perdeu o jogo ali, no lance do pênalti, uma vez que a santidade de Vitor não se manifestou.

A cretinice defensiva tipicamente brasileira sepultou o Atlético naquele lance. E a culpa não é de Cuca, que inclusive dispôs um volante improvisado na lateral esquerda (Lucas Cândido), algo visado por alguns jornalistas. Junior César não conteria Thomas Müller e Gözte nem em seu sonho mais pervertido, num eventual confronto com o FC Bayern.

A culpa também não é do “abrir mão do Brasileirão no segundo semestre”, que supostamente tira o ritmo dos atletas. Todos que vencem a Libertadores fazem isso e continuarão fazendo. No passado recente do Mundial de Clubes, o São Paulo fez o mesmo e venceu em 2005, o Inter/RS fez o mesmo e venceu em 2006 e o Corinthians fez o mesmo e venceu em 2012.

Se arrastando em campo, Ronaldinho foi mais participativo do que na final da Champions League 2005/2006, pelo Barcelona. Recuperou-se da lesão que a principio o tiraria da disputa, fez o gol de falta e pouco depois protagonizou alguns lances de efeito sobre os jogadores do Raja.

Os mesmos que beijaram R10, reverenciaram como ele fosse Maomé e levaram embora sua camisa e chuteiras. R10 em crepúsculo de carreira, sabia que não precisava muito para assustar os marroquinos. R10 tem todos os defeitos do mundo, mas não é “cagão”. A tal “pressão” do primeiro jogo como bem alardeou Tite, em entrevista a rádio CBN dias antes da estreia do Galo, é o velho “cagaço”. É a vaidade, o mal do futebol brasileiro, que faz acreditar e acredita que só se pratica o esporte no Brasil.

O Atlético não é um time de massa, algo que compra a simpatia deste que vos escreve. Lembrando que tamanho numérico de torcida e tradição são conceitos diferentes. O fim de ano do futebol brasileiro com STJD’s, Marins, hooliganismo tupiniquim e operários que despencam de estádios faraônicos pagos com verba pública, talvez tenha tido o merecido castigo. O Galo foi bode expiatório proposto pelos deuses da bola pouco antes do ano da Copa. Incipt tragoedia.

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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