Sem hecatombes, a Juve já é bicampeã

Hoje , a combalida Gazzetta Dello Sport traz uma nota que diz: de Moratti a Petkovic, ninguém segura esta Juve. É uma análise seca e clara do atual italiano. Esta Juventus recuperou o seu DNA e, não fosse pela enésima pisada de bola em proteger com unhas e dentes um cara envolvido em mais um escândalo (o ótimo técnico Conte), mereceria mais destaques. Esta Juve joga mais do que pode, como a Juventus sempre fez (aliás, como um alvinegro de outro país também costuma fazer). Não serão uma Lazio e uma Roma em construção (em ótimo caminho, mas em construção) nem duas milanistas decadentes, ou um Napoli Cavani-dependente que poderão estancar a sangria que ela deixa. Este Italiano só sai de Turim por motivos  de força maior.

Uma entrevista de Conte quando chegou à Juventus dá uma pista sobre sua força.”No ataque, os jogadores têm liberdade para inventar, criar; se fazem isso na defesa, fico transtornado”. O time juventino tem mais qualidade que os rivais, mas não tanta para ser quase imbatível. O problema (para os outros) é que desde o centroavante, todos participam da manobra defensiva. Vucinic, provavelmente o melhor atacante da Juve tecnicamente falando, faz muito menos gols do que podderia pela sua função tática, mas ainda assim, come a bola. É bem verdade que, ao contrário do que faz o Milan, a Juve investe – e investe bem – e mesmo um mítico Del Piero teve de deixar Turim para dar espaço ao projeto. E isso só aumentará: com o novo estádio, a Juventus triplicou a sua receita de dias de jogo. Dentro do fair play financeiro, a Juve serea ainda mais potente. Claro, desde que não apareça mais um escândalo para afastar investidores (os investimentos na série A caíram cerca de 30% em relação a antes do Calciocaos).

Em meio à mediocridade milanesa, vale somente ressaltar o aparecimento de El Shaarawy. O jovem milanista é de fato um homem-gol (naturalmente que qualquer comparação com Neymar é uma insânia de torcedor – Neymar é infinitamente mais técnico, enquanto ‘Il Faraone’ é muito mais focado do que o brasileiro). Se o Milan puder se livrar de Berlusconi e iniciar um projeto sem a esclerose múltipla do político, El Shaarawy pode vir a ser um sucessor de Inzaghi. Digno de nota.

Digna de nota, e digna de toda minha torcida neste ano é a Roma de Zeman. Desequilibrada, sim, mas em clara evolução. O maestro tcheco, um intérpretee moderno do Carrosssel Holandês de Rinus Michels,  está ensinando futebol a vários jovens que podem vir a ser ótimos jogadores (Pjanic, Marquinhos, em fase  surpreendente, Destro, Florenzi) mas, mais que tudo, está montando um time que ataca desde o próprio gol. Roma x Fiorentina foi o melhor jogo da Itália neste ano e contra o Milan, a Roma foi um trator baseado num meio-campo muito físico, mas principalmente nos movimentos dos dois laterais e dos dois externos ofensivos, que gravitam em torno da bola e dão sempre maioridade numérica aos romanistas. De Rossi peitou Zeman e foi enquadrado – e foi a melhor coisa que poderia lhe acontecer. Jogando a la Zeman, destruiu o Milan com gosto. Se essa diretoria romanista tiver coragem de manter o falador técnico, em alguns anos pode ter um time capaz de desafiar os melhores da Europa. Como dizia Sacchi: jogando pelo time, um bom jogador vira excepcional (e Sacchi citou Pedro, do Barça) e um jogador excepcional se transforma num fora-de-série (desnecessário citar que ele falava de Messi). Mesmo que sem Messis, a Roma encanta. Viva Zeman.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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