Gasp, fracasso com hora marcada

Não há muito a se dizer sobre a demissão de Giampiero Gasperini que já não tivesse sido dito exaustivamente. Sua contratação não foi um erro – trata-se de um treinador competente e com um estilo ofensivo – mas todo o resto foi. Gasp foi anunciado no meio do mercado, em função da indecisão de Moratti e Leonardo, manteve um elenco com muitos jogadores velhos (9 de 19 jogadores têm mais de 30 anos) e claramente incompatível com o 3-4-3 extremamente físico que o técnico desejava. As quatro derrotas seguidas foram um exagero, claro, mas também demonstraram um claro veto dos senadores interistas ao módulo e ao profissional Gasperini.

A temporada da Inter está perdida em termos de conquistas. Quanto mais tempo o presidente Moratti levar para se dar conta disso, pior será. Na verdade, é uma situação similar à do ano passado com a saída de Benitez. Contratar um treinador no meio da temporada não é uma solução que possa ser de longo prazo, a menos que se abra mão daquela temporada – exatamente o que a Inter não fez com Leonardo, de quem exigia resultados imediatos. Apostar em Leonardo foi um erro crasso e visível desde o momento zero, e agora, tentar trazer um treinador pensando em se manter como a Inter favorita da Era Mourinho, o será de novo.

Exatamente por isso é que a possibilidade de um técnico-tampão é a mais indicada. Se não quiser se sentar à mesa da ceia juventina de títulos por vários anos, a temporada 2011-12 interista se encerra aqui e se inicia a seguinte. Com um técnico transicional, uma reformulação do elenco, pendente desde a saída de Mourinho pode ser feita com calma e, mais importante, pode se começar a negociar com um nome de peso desde já (eventualmente até um retorno sebastianista do português, uma vez que o Real Madrid precisa vencer LC e Espanhol neste ano para que a sua situação seja sustentável). Nessa ótica, Delio Rossi ou um interista histórico (Zenga, Bergomi) seriam aceitáveis. Claudio Ranieri é uma alternativa que deve fazer da Inter um time, com defesa, meio-campo e ataque, algo que não tem desde a noite de Madrid. Contudo, exatamente essa recuperação pode vir  ser um problema no médio prazo porque ele não tem o pedigree de títulos que a Inter entende ser seu status natural. Exemplo: como demitir Ranieri se ele classificar o time para a Liga dos Campeões?

Ir atrás de um técnico mediano-com-pinta-de-grande colocará a Inter numa rotina que conheceu muito bem na última década, com Tardellis, Hogdsons e afins, especialmente se, com meia dúzia de resultados, o cube se convencer de que ainda é muito mais forte do que a concorrência. Não é. A Série A está muito mais enfraquecida, mas mesmo assim, já se encerraram os anos pós-Calciopoli onde os concorrentes estavam com uma bola de ferro nos pés.

 

 

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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