O Neymargate

Para não deixar um off-topic quase obrigatório aparecer, abordarei aqui a questão de Neymar. O Santos errou. Errou mais de uma vez e continua errando E dá sinais de que continuará a errar. O atacante de talento gigante é um moleque mimado e se comporta como tal, com a conivência de seu pai e de seu empresário. Seu futuro pode ser brilhante, mas certamente o episódio aumenta as chances de ele não dar em nada – um destino de tantos outros meninos talentosos.

Dorival Júnior tinha errado ao escolher Ganso para sair na final do Paulista e errou duplamente em afinar ao evitar que o meio-campista continuasse em campo. Se perdesse o título, Dorival seria chamado de “burro”, mas agora, é taxado de “burro e frouxo”. Ali, ele perdeu o controle de um grupo que tem um craque (Ganso), um moleque com potencial de craque (Neymar) e meia dúzia de jogadores razoáveis que se acham gênios.

O Santos vai se arrepender da decisão. Faltou pulso e sobrou interesse. Neymar está blindado por um megacontrato e se ele ficasse de biquinho e algum trouxa quisesse pagar a multa rescisória, o Santos deveria dar uma festa para celebrar. Agora, o grupo estará emputecido com Neymar – com razão, o atacante se achará acima do bem e do mal, também com razão e qualquer treinador que chegar saberá que pode peitar qualquer um menos o “Moleque da Vila”.

Fala-se em Abelão para o cargo no Santos. Seria a coroação de uma sequência de burradas que culminaria ao entregar um grupo talentosíssimo, mas escassamente inteligente a um treinador absolutamente pobre de recursos que vive de uma imagem de autoridade conquistada quando era jogador. Neymar precisa, para encerrar esta crise, dar uma prova de maturidade que 99% dos jogadores maduros no auge da carreira não conseguiriam – a de chamar a responsabilidade para si e passar a decidir jogo após jogo.

90% dos meninos supertalentosos fracassam. Entre os que convertem o potencial em eficiência, 99% o fazem ao decidir trabalhar de uma maneira humilde os recursos que têm a mais que os outros. Neymar, seu pai e seu empresário escolheram o caminho do outro 1%. Pode dar certo? Pode. Mas é uma luta contra a matemática, um inimigo difícil de vencer.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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