Reféns

Torcedor palmeirense, há um culpado no seu sofrimento. É verdade que seu sofrimento agora, nesse momento, tem muito mais a ver com a vontade de sentir dor, de sentir a amargura nas entranhas. Mas de um modo ou outro, derrotas sempre incomodam, mesmo como um indício de despreparo para o Brasileiro.

Seu time, palmeirense, é refém. Refém de uma torcida que está pressionando jogadores (inclusive indo procurá-los no dia-a-dia), refém de jogadores desanimados, refém de diretores que não dão as caras mas preferem um ambiente político contaminado, porque assim eles podem tentar mais alguma migalha de poder, refém de uma cultura clubística marcada por um esfacelamento político similar à política da Itália. Não é coincidência.

Uma torcida organizada sabidamente quer a cabeça de um diretor para que um associado seu assuma o futebol. É esse o papel da torcida? É papel da torcida ameaçar jogadores nas ruas? É papel da torcida fazer demandas do tipo “precisamos de um atacante”? Não. Isso é coisa de marginal. Nenhum clube grande do mundo aceita lidar com gente assim. Só clubes que se apequenam se aproximam desses ‘torcedores profissionais”. Não é coincidência que na gestão Parmalat, a torcida era mantida à distância. Quando o presidente do clube vai a uma festa da torcida gritar motes de violência contra os sãopaulinos, está se enterrando num lugar que sua cultura provavelmente nem sabe onde fica.

O maior legado da Parmalat para o Palmeiras não foi os títulos, não foi Evair, não foi Edmundo e não foi a Libertadores. O maior legado da Parmalat tinha sido uma aquietação na insana política do clube, onde rivais políticos se jogam na lama levando o clube de roldão, na ânsia de atender seus desejos de poder. Os títulos da era Parmalat calavam os críticos. Depois disso, a paz – ambiente ideal para se montar um time – poderia ter sido mantida em prol do Verdão. Não foi. O caos no Palmeiras só vai diminuir com uma mudança estatutária.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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