Camaradagem de clube e defesa suspeita

Depois dos sete gols tomados nos últimos dois jogos, o São Paulo prova ter mesmo um grupo coeso mesmo com as porradas que alguns jogadores trocam.  Técnico e atletas foram unânimes em isentar a defesa do time na culpa pelas duas derrotas. Uma atitude legal dos caras, mas bem longe da realidade.Técnicos de futebol, na parte tática, de uma maneira geral servem quase exclusivamente para acertar as defesas dos times. Vendo por esse prisma é fácil ver porque os treinadores brasileiros não são bons. Uma vez, ouvi de um opinionista italiano: “Melhorar o ataque de um time é fácil. Contrate um ou dois craques e pronto. Mas a defesa, mesmo que só tenha bons jogadores, depende de automatismos que só vêm com o tempo”. Batata.

O São Paulo, apesar de ter uma defesa melhor que as outras neste temporada, piorou com a chegada de Ricardo Gomes. Sete gols em dois jogos seriam impensáveis  na época de Muricy (claro, sem contar o período no qual ele já estava “queimado” com os atletas). Jogadores como Renato Silva e Rodrigo têm sido vítimas frequentes de adversários. Nas mãos de Jobson, Renato Silva teve a pior partida sua no São Paulo.

Se Muricy ficar no Palmeiras, eu duvido que a defesa do Verdão não seja o forte do time em junho de 2010. Muricy treina e sabe treinar. O posicionamento dos seus times é notoriamente diferente dos outros. Jogadas de bola parada no seu São Paulo eram meio gol quando a favor e zero contra.

Ricardo Gomes, por outro lado, ainda não me convenceu enquanto “engenheiro” defensivo. O discurso de preferência por jogo ofensivo, na maioria das vezes, é a licença poética dos técnicos para as falhas defensivas que eles não sabem consertar. Ricardo Gomes conhece futebol, melhorou a armação do São Paulo, de fato, mas perdeu a solidez defensiva que o time tinha. Se ele for mesmo o treinador à altura que os dirigentes paulistas crêem, corrigirá os problemas do setor para o ano que vem (especialmente se Renato Silva deixar de ser titular e Rodrigo ou recuperar a forma ou voltar para a Ucrânia). Doutra feita, Gomes vai cair na vala comum dos técnicos brasileiros, onde “jogar para frente” é o álibi para não saber defender, muito mais do que uma filosofia tática.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.

3 Comments

  1. Olá caríssimo, concordo com a visão defensiva. Por outro lado vejo Muricy enquanto um pouco displicente em termos ofensivos. Não tenho as estatisticas em mão mas é notório o escasso número de chutes a gol que o SPFC executou nas duas últimas Libertadores. O mesmo começou a ocorrer com o Palmeiras após sua chegada. A tal ‘ligação direta’ era feita em demasia e quando R.Ceni (ainda com Muricy) se lesionou os lançamentos/chutões se extinguiram. Nada contra Muricy e louvo as qualidades que vc bem observou, mas se há um ponto em que o mesmo precisa se aprimorar é no quesito ofensivo. Abs!

  2. Olá caríssimo, concordo com a visão defensiva. Por outro lado vejo Muricy enquanto um pouco displicente em termos ofensivos. Não tenho as estatisticas em mão mas é notório o escasso número de chutes a gol que o SPFC executou nas duas últimas Libertadores. O mesmo começou a ocorrer com o Palmeiras após sua chegada. A tal ‘ligação direta’ era feita em demasia e quando R.Ceni (ainda com Muricy) se lesionou os lançamentos/chutões se extinguiram. Nada contra Muricy e louvo as qualidades que vc bem observou, mas se há um ponto em que o mesmo precisa se aprimorar é no quesito ofensivo. Abs!

  3. Vamos com calma… A defesa do São Paulo não é mais a de duas temporadas atrás, quando a equipe do Morumbi tinha o melhor trio de zagueiros do planeta (Breno, Alex Silva e Miranda).

    Naquela época, a equipe passava meses sem levar gol no Morumbi.

    De lá para cá culpo principalmente a diretoria pela queda no rendimento defensivo. A contratação do Juninho, com todo respeito ao atleta, exemplifica bem isso. Ela foi feita com base no nome, no fato dele marcar muitos gols etc. Ninguém se preocupou em observar que no Botafogo existia – como existe hoje! – um esquema especial de cobertura para os constantes avanços do cara.

    Só que no Morumbi ele encontrou dois zagueiros (Miranda e Alex Silva) que jogavam um “pouco” mais do que ele. Assim, ambos tinham preferência na hora de apoiar o ataque. O “único” é que o atual botafoguense é um pouco lento e pouco habituado a fazer coberturas…

    Para uma diretoria que se vangloria tanto do olho clínico na hora de contratar, a coisa, pelo menos no plano defensivo, vem deixando bastante a desejar.

    O Ricardo Gomes, por enquanto, tem a minha confiança. Seu trabalho não é brilhante, mas, até aqui, é mais do que suficiente.

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