Em defesa do Galo

Entre os times do pelotão de frente do campeonato, o mais surpreendente para mim é o Atlético-MG. Tem o elenco mais “curto”, o técnico mais questionado (sempre), a gestão competente mais jovem e nenhum fora de série. o feito de Celso Roth no clube é digno de palmas. Ainda assim, não acho que o Galo será campeão (embora ache que isso está longe de ser impossível). Mais do que isso: um título do Galo agora vai colocar em grande risco a reestruturação feita pela nova gestão.

Antes que algum atleticano se irrite, quero declarar minha profunda simpatia pelo Galo. Telê Santana, que é minha divindade sagrada do futebol, era atleticano. Tenho grandes amigos em Minas – 90% deles atleticanos – e um grande amigo, Leonardo Bertozzi, com quem passei a ter menos contato por causa de uma série de acontecimentos, é atleticano doente – embora seja um dos observadores menos passionais das chances do próprio time.

A leitura da chance menor do Atlético tem a ver com o gás que um elenco curto proporciona. Num torneio de pontos corridos isso é fundamental, como o São Paulo fez valer nos últimos três anos. Na Itália, na década de 80, o pequeno Verona derrubou o Milan no campeonato com um elenco muito mais curto. Ou seja: há precedentes, mas estatisticamente as chances são muito menores. O Palmeiras tem um problema defensivo sério, mas tem um técnico bom o suficiente para resolver o problema. As chances do Palmeiras já foram maiores, mas ainda são melhores do que de qualquer um.

Um título agora, no primeiro ano desta nova gestão, será um desastre para o Galo. Jogadores médios vão exigir renovações a preços ridiculamente altos, a imprensa mineira vai tratar o time como imbatível – e jogar uma pressão imensa – qualquer contratação terá seu valor redobrado e assim vai. Mesmo sem ser campeão, o Galo passou por isso quando foi finalista em 1999, o Santos depois da final de 1995 e em menor medida, todos os times campeões estaduais têm esse delírio de poder por causa de uma conquista. Nesse momento, o que o Galo precisa é de continuidade sem megalomania. Manter técnico, elenco, apostar na base e planejar um título para 2010 ou 2011. É assim que qualquer grande clube faz numa reestruturação. Quem fala em título de cara é amador ou mentiroso.

Meses atrás, quando Celso Roth estava sob fogo cerrado, eu o dfeendi, mesmo sem achar que ele seja o maior gênio da história do esporte. A decisão da diretoria de apoiá-lo trouxe benefícios e pode trazer mais. O clube agora precisa focar na luta pelo título, que é uma obrigação enquanto houver chances matemáticas (mesmo com todas as consequências que isso pode causar). Mas ao mesmo tempo, precisa pensar em 2010, manutenção do técnico, elenco, descartar o campeonato mineiro (uma piada completa) e focar em ambições sérias. O bonde dos times grandes do futebol brasileiro está passando e esta pode ser uma das últimas chances do Galo de pegá-lo.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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