Uma colocação profissional

Depois dos resultados do final de semana, amigos e leitores me fizeram a mesma indagação, alguns mais educadamente que outros, sobre a minha “aposta” na preferência do Palmeiras na luta pelo título e do “desmerecimento” das chances de Atlético-MG, Flamengo e Internacional, com o São Paulo sendo a ameça mais forte ao título palestrino. A cobrança se faz ainda mais forte porque além dos resultados, também há a pressão criada pelos meus colegas jornalistas que apontam Fla, Galo e Inter “com as mesmas chances” dos outros dois.

No que diz respeito ao prognóstico, achava antes e ainda entendo que o Palmeiras é favorito e que o São Paulo é a ameaça mais próxima. Isso não quer dizer que eu ache impossível um dos outros ser campeão. É unica e exclusivamente uma leitura – segundo a minha ótica – do que acontece no campeonato, sem melindres de incomodar esse ou aquele torcedor que quer acreditar no seu título. Exemplos de times que se sagraram campeões correndo por fora não faltam – o São Paulo de 2008 é um deles. O ponto é que hoje, com a situação como está e com o histórico recente (performance neste campeonato) e não tão recente (performance nos últimos campeonatos) assim dos clubes envolvidos, acredito no Palmeiras, com São Paulo atrás e os outros a média distância.

Parte da pressão que se coloca sobre essa avaliação se dá por conta da quantidade de colegas pusilânimes e/ou demagogos que fazem a famosa previsão do acontecido. Se o Flamengo ganha, “viva o Flamengo”, se o Flamengo perde, “eu já tinha dito”. Há um comentarista específico de TV que é de um puxassaquismo do “status quo” que me dá náuseas (não, não digo o nome de malas). O preferido, na opinião dele, o óbvio. Se são dois óbvios, o de mais torcida. E enquanto o “establishment” (por exemplo, o técnico da Seleção) ainda está bem firme no poder, seu apoio é incondicional. Ele e parte da imprensa, jogam para si mesmos. Ferre-se o jornalismo. O importante é sair bem na foto.

O jornalismo esportivo brasileiro tem sobre si uma pecha de amadorismo de longa data. José Trajano, numa palestra no lançamento do jornal Lance! há mais de 10 anos, foi muito feliz ao descrever a atividade como “precisando de passar por uma semana de arte de 1922”. O meio precisa de um choque de profissionalismo e vacina contra o clubismo puxassaquista. Dizer ao torcedor o que ele não quer ouvir não é gostoso, mas é obrigação. Correr o risco de errar um prognóstico feito com base em fatos também é parte do ofício. O trabalho de jornalistas que fogem da aposta fácil, como o decano Claudio Carsughi, como Flavio Gomes e André Kfouri (entre vários outros) é mais duro e não pega tão bem. Mas é o trabalho honesto. E não se erra. Porque a função do jornalista não é acertar placar nem campeão, mas dizer qual time tem mais ou menos chances de vencer e se isso não ocorrer, porque isso aconteceu.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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