Previsão para 2010

Se eu fosse a um vidente, ele me faria previsão. Diria que os quatro times do Rio terão times medíocres em 2010. Contudo, ele diria que depois do primeiro clássico, a imprensa local decantará um deles como candidato a vencer o Brasileiro (alguns falarão até em obrigação). Pedirão o meio-campista e o atacante deste time na Seleção. “Quem pode vencê-lo?”, perguntará uma manchete de jornal. Considerarão que a Copa do Brasil é desse time e ninguém tasca. Daí, passadas as águas de março, virá o Brasileiro e descobrirão que o rei está nu: que os times do Rio não existem.

Claro que o vidente não existe. Isso é o que acontece, entra ano e sai ano. E uma hora, dá-se conta. Quando um time da estatura do Flamengo – que fique claro, é um colosso –  vence, no Maracanã, um time que está na zona do rebaixamento e a imprensa amanhece celebrando, falando em “grande atuação do Fla”, destacando o futebol de Petkovic – em 2009 – vê-se que algo está errado. Muito errado.

Não adianta levar faixas no estádio dizendo que “Título é obrigação”, nem ficar dizendo que tal jogador não está à altura do clube. Quem está à altura dos clubes do Rio hoje certamente não são os Zicos nem os Adílios do passado. Com história, se conta estória, mas não se vence nada. Nottingham Forest, Torino, St. Etienne e Athletic Bilbao foram grandes um dia, mas hoje se redimensionaram.

A nova geopolítica do futebol brasileiro não permitirá quatro clubes grandes no Rio – nem em São Paulo. Na verdade, em média, todo país tem quatro ou cinco clubes grandes. Pensar nos “13 Grandes” de 30 anos atrás é piada. Nessa reformulação, ainda há tempo para os grandes cariocas acordarem. Mas “acordar” não é ficar arrotando o caviar de décadas atrás.

Com a torcida que tem, o Fla seria o time com mais torcida da Inglaterra ou Itália, mas lá isso entrea em campo, onde mais torcida quer dizer mais dinheiro, que quer dizer mais jogadores, mais estádio e assim por diante. Aqui, mais torcida não quer dizer nada se o clube for um antro de descalabros administrativos, dinheiro que aparece e desaparece e diretor amador quer escalar time.O mesmo vale para o Fluminense e Botafogo. Para o Vasco, eu apelo que aproveite a série B para vestir as sandálias da humildade. Se voltar querendo vencer o Brasileiro em 2010, um abraço…

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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