Mais Neymar

Recebi alguns e-mails (a maioria de santistas) sobre o questionamento de Neymar que eu fiz. Vou deixar isso registrado aqui para que não fique o dito pelo não dito e depois, algum asno venha cuspir na minha cara, indevidamente, que “eu disse que o Neymar não era craque”…

“Ele era bom na base”

Ninguém pode – nem o próprio – atestar que Neymar seja craque com três jogos profissionais completos. Não dá. A alegação de que ele era excelente na base como argumento para comprovar seu talento é absolutamente frágil. Alguém aí se lembra de Yan, do Fluminense? Marcus Alemão e Elton, do Corinthians? Adriano, do Guarani? Gelson Baresi, do Flamengo? Harison e Montezine,do São Paulo? Sinval, da Portuguesa? Do americano Freddy Adu? Talvez os mais jovens não conheçam todos esses nomes, mas eles já foram considerados fenômenos na “base”.

É natural que a taxa de fracasso das previsões seja alta quando analisando garotos dessa idade. Lionel Messi era motivo de chacota na adolescência e transformou-se num craque indiscutível; Kaká era reserva de Harison na equipe juvenil do São Paulo por ser muito magro. Entre 14 e 18 anos, o corpo masculino muda demais e um “prodígio”, que se destacava por um desenvolvimento precoce, pode ‘flopar’ no profissional. Isso sem falar nas questões psicológicas.

“Você acha que ele não é craque”

Ninguém pode afirmar o que eu acho ou não – além de mim mesmo. Sinceramente? Acho que Neymar tem potencial para ser um craque do naipe de Kaká, assim como Alexandre Pato está revelando ser. Contudo, dezenas de coisas podem impedi-lo disso: seu deslumbramento, deslumbramento da família, paparicação de dirigentes, empresários inescrupulosos, transferências mal-escolhidas, problemas físicos e até o próprio desenvolvimento natural de seu corpo, que pode fazer com que ele fique mais lento, menos ágil (ou, é claro, o contrário). O que eu posso garantir, sem medo de errar, é que TODOS os veredictos definitivos sobre Neymar feitos agora são a)oportunismo ou b) paixão de torcedor, ou ainda c) incapacidade pura e simples mesmo.

Compreendo que o torcedor santista fique com raiva de ouvir que a sua maior promessa, que pode garantir até mesmo o futuro financeiro do clube, não é o que a maioria já diz que ele é. Só que como jornalista, tenho a obrigação de fazer a leitura que eu entendo ser a racional e não ficar querendo fazer média com torcida.

A mídia joga Neymar para cima porque precisa fabricar ídolos para aumentar sua própria audiência. Se depois o ex-futuro-ídolo acaba pobre e esquecido, ela não assume nenhuma responsabilidade. É como Joelmir Beting classificou o catastrofismo das previsões dos economistas: as previsões de economistas são sempre negativas, porque das boas ninguém se lembra quando elas dão errado. Na imprensa esportiva, é exatamente o contrário. Ou você já ouviu aparecer um jogador promissor e alguém dizer: “este cara não vai dar em nada”?

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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