O melhor do mundo

O Milan que foi a Tóquio não é um time completo. Faltam atacantes (pelo menos dois), externos de defesa e meio-campo (todos, exceto Jankulovski que ainda volta de contusão), goleiros (Dida é claramente uma temeridade para um time que é uma potência global) e – como detalhe, é verdade – uma média de idade um pouco menos. Mesmo assim, pode ser imbatível.

No Japão, todas as carências milanistas foram mais uma vez supridas por um meio-campo que pode se gabar. É o melhor do mundo. Não só por causa das individualidades – como Kaká e Seedorf – nem pela consciência tática – onde Ambrosini se destaca até por raramente chamar a atenção ou pelo entrosamento. Além disso, a versatilidade do setor, quando em ação, desmonta quem quer que seja. Obviamente o trio Kaká-Seedorf-Pirlo é a jóia da coroa. Três craques que sabem jogar juntos e para o time, mas o aplauso tem de ir ao setor como um todo.

O Milan sofre muito pela falta de jogadas nas extremas – o que é causado parte pelas carências do elenco e parte pelo esquema do time, que se calca no toque de bola. Sem laterais que apóiem freqüentemente (como ocorreu em Yokohama, onde Oddo e Jankulovski não estavam em campo), o time força a barra pelo meio e fica mais fácil de marcar. Porém, a capacidade de dominar a bola e tocá-la sem deixar o adversário dominá-la é tamanha que ainda assim o Milan se impõe.

Mas sem alternativas no ataque (Ronaldo machucado e Gilardino incapaz de jogar com Inzaghi) e sem cursores nas laterais, o Milan do primeiro tempo contra o Boca dependeu de jogadas individuais. Kaká tinha dois, três ou até quatro homens no seu encalço. Seedorf é craque, mas não é mágico e Inzaghi precisa de outro jogador para distrair a defesa adversária e sair no contrapé.

Já que não dava para colocar nenhum lateral em boas condições (Cafu e Serginho definitivamente não têm mais físico para a titularidade), Ancelotti pediu para Kaká e Seedorf abrirem pelas laterais, alternando-se. Pirlo e Ambrosini encostaram para garantir a pressão na intermediária e tocar a bola.

Daí, o Boca (que só chegou ao seu gol por causa de uma das falhas de Dida e a amnésia da linha defensiva) foi para as cordas. Não havia como resistir ao ‘centrocampo rossonero’ jogando o que sabe. Se Ronaldo estivesse em campo bem fisicamente, teria sido uma goleada histórica. Mas o 4 a 2 já serviu para o que o Milan queria: a consagração global oficial.

…mas agora, mãos à obra

No calor da comemoração, o vice-presidente do Milan, Adriano Galliani, garantiu mais uma vez que o time não será reforçado. “Ronaldo e Pato serão nossos reforços”, disse Galliani. Em junho, no máximo um ou dois jogadores chegarão para uma recomposição ‘fisiológica”.

Há uma grande possibilidade de que Galliani esteja dando uma de ‘joão-sem-braço’ para não levantar os possíveis preços no mercado. Se estiver, bem. Porque o Milan precisa com urgência de um externo de meio-campo para cada lado, um atacante e um defensor para o elenco.

Além de uma reformulação de médio porte no elenco (para que, além de Maldini, já com a aposentadoria anunciada, também Cafu, Serginho e talvez Gilardino tomem outros rumos), o Milan precisa de uma coisa que Carlo Ancelotti já precisa fazer há tempos: desenhar uma alternativa tática que projete o Milan pelos flancos. Primeiro, para abrir times na retranca; segundo, para depender menos de Kaká e Seedorf; terceiro, para ter uma alternativa com um cabeceador – outra peça que o Milan não tem no ataque.

Além dos craques incontestáveis, o Milan tem uma vantagem grande sobre a maioria dos adversários: um grupo coeso, quase familiar, com lideranças respeitadas e uma hierarquia bem definida. A recomposição do grupo é sempre mais simples. Mas também não adianta fingir que nunca é preciso fazer isso.

Capello, de ‘Don’ a ‘Sir’

A indicação de Fabio Capello para dirigir o ‘English Team’ encheu os italianos de orgulho. Capello é um técnico consgradíssimo na Itália, mas assumir o posto de treinador da seleção inglesa é um outro patamar. É, na visão dos italianos, a admissão de superioridade de seus treinadores sobre os demais no continente.

O técnico friulano era uma das boas escolhas possíveis para a Inglaterra, junto com Marcello Lippi e José Mourinho. Além dos três, dificilmente haveria alguém capaz de fazer a Inglaterra voltar a ser temida. E para o próprio Capello, o desafio é do tamanho que sua ambição precisa.

Capello jamais treinou uma seleção e sabe que tem de ganhar a Copa de 2010. Nada além disso lhe proporcionará um reconhecimento ou satisfação. Como já está na casa dos 60 anos de idade, sabe que as chances de assumir a seleção italiana são limitadas e essa pode ser a última chance de treinar uma seleção de ponta.

A sua maior dificuldade será a resistência de parte da mídia, torcida e futebolistas ingleses a um treinador de fora. E tem dificuldades que ele próprio e sua comissão técnica – toda italiana – deverá causar. Marcel Desailly, seu ex-comandado no Milan, já adiantou que o assistente inglês que a FA quer colocar à disposição do técnico (provavelmente Stuart Pearce), raramente será escutado. “Os italianos não escutam ninguém”, disse Desailly.

Um Parma ‘piacevole’

O Parma de Domenico Di Carlo, nesta temporada, vem mesmo se confirmando como um time ainda em montagem, mas com bom potencial. E de vez em quando, até mesmo um futebol empolgante dá as caras no Ennio Tardini, como na vitória sobre a Reggina, no último domingo.

O curioso é que Di Carlo conseguiu (contrariando as expectativas) montar um bom time deixando Domenico Morfeo fora do time. Morfeo, certamente o melhor jogador da equipe, está até mesmo afastado do elenco por causa de bate-bocas pessoais.

O 4-2-3-1 do Parma teria até mesmo, teoricamente, espaço para Morfeo jogar em sua melhor posição, como ‘trequartista’ atrás dos atacantes. Contudo, Di Carlo (que fez uma excelente campanha no Mantova, na última temporada), prefere Gasbarroni e este está correspondendo.

Para a torcida parmigiana, o melhor é que o time está formando uma bela geração italiana. Seis dos 18 jogadores convocados para o 3 a 0 sobre a Reggina (Paci, Cigarini, Gasbarroni, Dessena, Pisanu e Paponi) são jovens (Gasbarroni é o mais velho, 26 anos). É a estrutura de um time de pratas-da-casa para o futuro.

Curtas

– O goleiro da Fiorentina, Sebastian Frey, sofreu uma artroscopia e ficará um mês parado

– O macedônio Goran Pandev caiu no gosto da galera endinheirada da Europa e dificilmente fica na Lazio depois de Junho. Real Madrid, Bayern de Munique, Liverpool e Valencia preparam ofertas interessantes.

– A seleção Trivela da 16a rodada:

– Buffon (Juventus); Comotto (Torino), Portanova (Siena), Biava (Palermo), Chivu (Inter); Hamsik (Napoli), Morrone (Parma), Gasbarroni (Parma); Del Piero (Juventus), Amauri (Palermo) e Suazo (Inter)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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