A camisa 9 é “Azzurra”

Tá, o artilheiro do Italiano é o Francês David Trezeguet, da Juventus, e o vice-artilheiro é o sueco Ibrahimovic, da Inter. Mas a atual temporada confirma uma tendência positiva que já era notada no ano passado. Na frente, no lugar de quem faz os gols, os italianos não estão precisando de estrangeiros. Longe disso.

No último torneio, os nove primeiros colocados da lista de artilheiros eram italianos: Totti, Lucarelli, Riganó, Bianchi, Amoruso, Spinesi, Toni e Rocchi, sendo que os últimos dois dividiam a colocação com o romeno Mutu. Na atual temporada, tirando os dois primeiros, novamente vários ‘locais’ aparecem com destaque como Borriello, Totti, Doni, Di Natale, Iaquinta, Quagliarella e Tavano.

E neste final de semana, o atacante Pozzi, do Empoli, encheu os olhos de sua torcida fazendo quatro gols e mostrando que tem jeito para a coisa. Pozzi chamou a atenção no Pescara, há quatro anos, quando ainda tinha 17 anos. O Milan pagou €2 milhões pelo seu passe, mas ele acabou sendo “dividido” com o Empoli, onde vem dando o que falar. No último ano, adiou até mesmo uma operação no dedo que lhe custou a mobilidade no mesmo, para não perder partidas cruciais do time.

A safra de goleadores italianos é tão boa que o país se tornou “exportador” de centroavantes. Quatro dos oito artilheiros do ano anterior foram contratados por clubes estrangeiros. Fora esses, as divisões de base continuam fornecendo nomes para a Sub-21: Pozzi (Empoli), Acquafresca (Cagliari), Pazzini (Fiorentina), Russotto (Treviso), Cerci (Roma), Graziano Pellé (AZ-HOL), Giuseppe Rossi (Villarreal – ESP).

Parece claro que o caos do futebol italiano de dois anos atrás deu uma certa força para o processo. Sem dinheiro para arrancar craques de outros campeonatos, os clubes italianos precisaram se voltar para seus jovens e tem dado certo. Entre os nomes mencionados aqui, não estamos só falando de jogadores para times medianos. Pazzini é titular absoluto da Fiorentina; Acquafresca, que pertence à Inter, é uma esperança do clube de Milão para temporadas futuras. Giuseppe Rossi não ficou na Itália porque já era caro demais.

Outro fator que contribui para o fenômeno foi a adoção de uma maior ofensividade nos esquemas dos times. Não são poucos os times que jogam com atacantes fazendo a função de externos de meio-campo (Quagliarella e Di Natale na Udinese, Mutu na Fiorentina, Miccoli no Palermo) ou como meias avançados (Recoba no Torino, Cavani no Palermo, Vucinic na Roma, Bellucci na Sampdoria), o que faz com que mais atacantes sejam empregados nas escalações.

Para a seleção italiana, isso é excelente, por razões óbvias. Mas isso é melhor ainda para o futebol do país, que pode parar para prestar atenção em jogadores que estão por ali e que acabavam perdendo lugar para farsas como Hakan Sükur, Savo Milosevic, Javi Moreno e afins. Cultivar jogadores nacionais é o que se pode fazer de melhor para o futebol local e para o esporte de uma maneira geral. Se, até poucos anos atrás, a Itália carecia de goleadores, agora os tem de sobra.

Ronaldo, eterno mistério

O Milan já está no Japão, como se sabe, se preparando para o Mundial de Clubes da Fifa. Tudo vai conforme o previsto. Tudo? Não. Quase tudo. A poucas horas da estréia do clube no torneio, ainda não se sabe qual é a verdadeira condição física de Ronaldo ‘O Fenômeno’ – nem para o Mundial e nem para o restante da temporada.

Todas as vezes em que Ronaldo se machucou depois de sua gravíssima lesão de 1999, o atacante foi dado como acabado. De fato, a recuperação do jogador é sempre complexa. Não só pelas suas lesões passadas, mas também por uma característica fisiológica peculiar, que faz com que o jogador tenha sempre pequenas infecções, inflamações e dores.

Quando estava se recuperando da lesão de 1999, por exemplo, Ronaldo tinha uma inflamação que não cedia nem com uso de medicamentos e fisioterapia. Depois de muito tempo e tentativas frustradas, alguém teve a idéia de levar o jogador a um osteopata na França. Lá, constatou-se que o processo inflamatório de Ronaldo tinha uma origem ligada aos ossos da boca e dentes.

Isso não quer dizer que Ronaldo vá ou não se recuperar. Mais aflitivo do que a demora é o modo nebuloso como o departamento médico do Milan dá notícias sobre o caso. Quando o DM decide não explicar exatamente o que está acontecendo, surge espaço para especulações que vão desde unha encravada até doença incurável.

Uma coisa é certa: caso Ronaldo entre em campo para os jogos contra Urawa e, possivelmente, Boca Juniors, não estará na sua melhor forma física. Ainda assim, como se sabe, Ronaldo a 50% de sua capacidade ainda é um atacante letal. Principalmente quando questionado. E questionado, ele certamente está.

‘Fair Play’ causa discussão

Uma bela iniciativa depois do jogo Fiorentina x Inter chamou a atenção na Itália. Após o jogo, como no rúgbi, os jogadores se enfileiraram e se cumprimentaram amistosamente. O episódio foi tão bem visto que a Federcalcio decidiu torn-alo compulsório a partir de janeiro.

Tudo bem? Não. Muita gente se colocou contra a medida. “Se um cara tenta quebrar a sua perna no jogo, como é que dez minutos depois você vai estender a mão para ele?”, perguntou o ex-jogador da Lazio e comentarista da RAI, Vincenzo D’Amico, entre vários outros.

A questão talvez até seja pertinente, mas na verdade passa por um ponto mais abrangente: o de fazer jogadores, dirigentes e torcedores compreenderem que por mais importância que uma partida tenha, ela ainda é uma partida e não uma decisão de vida ou morte. E isso sim, talvez seja bem mais difícil.

O técnico da Juventus, Claudio Ranieri, recebeu bem a idéia. “Os italianos têm dificuldades em absorver novos hábitos, mas é preciso que se volte a ter uma idéia do esporte como uma atividade sã. Não sei se isso vai ser positivo ou não, mas acho importantenão deixar de tentar”.

Curtas

– Uma das desculpas mais toscas e esfarrapadas dos últimos anos veio à baila depois da vitória da Inter sobre o Fenerbahçe na Liga dos Campeões.

– Um advogado turco pede que o resultado seja cancelado porque a camisa da Inter é ofensivo ao islamismo, pois lembra o símbolo dos cavaleiros templários que participavam das Cruzadas.

– Esta é a seleção Trivela da 15ª rodada:

– Frey (Fiorentina); Leggrottaglie (Juventus), Barzagli (Palermo), Carrozieri (Atalanta), Maggio (Sampdoria); Galloppa (Siena), Marchisio (Empoli) e Jimenez (Inter); Nedved (Juventus); Pozzi (Empoli) e Quagliarella (Udinese)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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