Líder como nunca

Antes do campeonato se iniciar, já era possível vislumbrar uma Juventus com tração nas quatro rodas. A campeã manteve o grupo todo, fez alguns retoques e lapidou o meio-campo mais forte do mundo. Só que nem o juventino mais fanático poderia ter previsto um primeiro turno assim devastador.

Em 19 rodadas, 52 pontos em 57 possíveis, 17 vitórias e só uma derrota. Média recorde de 2,7 pontos por jogo – muito maior do que a conseguida pela Juve no final do último campeonato (2,2 por jogo). Marca que já valeu o título.

Mas os números refletem a realidade? Sim. Por mais que se revire as estatísticas, é difícil encontrar algo em que o time piemontês não tenha sido o melhor. Só na quantia de gols marcados a Juventus não ponteia, com 41 – dois atrás do Milan. Porém, mais uma vez, quem decide é a defesa. Somente dez vezes a retaguarda juventina foi vazada no campeonato – três delas contra o Milan.

A onipotência da líder se reflete no retorno a tempo pleno do arqueiro Buffon à meta juventina. O número 1 italiano pôde realizar zero defesas contra a Reggina. Ainda que o adversário calabrês não seja o mais hostil, é raro encontrar uma defesa que permita usar Buffon ou um cone com a mesma eficiência.

E se Ibrahimovic não está na sua melhor forma, na reta final rumo à Copa, Del Piero parece finalmente ter voltado a jogar como o capitão juventino, semana sim, semana não. ‘Pinturicchio’ chegou a 184 gols (ultrapassou o mítico Giampiero Boniperti) e é o maior artilheiro da história do clube.

O que mais dizer diante de um quadro tão sólido quanto o desta Juventus? Que ela é favorita ao bicampeonato? Seria tão óbvio quanto dizer que o Chelsea é o favorito na Inglaterra. A questão que se coloca sobre a Juve agora é sobre a sua capacidade de poder centrar fogo em seu alvo primordial – a Liga dos Campeões – sem que Milan e Inter recuperem terreno rapidamente.

O xis da questão está na preparação física juventina. Se a preparação tiver sido feita visando um ‘sprint’ inicial – e Capello aprecia este tipo de tática – não está descartada uma decaída na produtividade. Mas, se por algum milagre, a Juventus ainda estiver com o ‘top’ físico por vir, daí, podemos dar a Série A por encerrada. Na LC, a incerteza é maior, mas mesmo assim, dá para cravar que a Juve não tem um time tão capacitado para vencer na Europa desde que ela própria conseguiu seu último título, em 1996.

Mediaset-Juventus: teoria da conspiração ou o quê?

No fim de dezembro, um anúncio surpreendente da Mediaset deu uma alfinetada no mercado. O grupo de mídia – que pertence ao dono do Milan e premiê italiano, Silvio Berlusconi – tinha comprado os direitos de transmissão dos jogos da Juventus para o próximo biênio (até junho de 2009). Valor: €218 milhões, inclusos todas as mídias possíveis, como tv digital terrestre, ADSL e celular, entre outros).

Três problemas foram levantados de cara. Primeiro, um concorrencial, porque a Mediaset naturalmente tem os direitos do Milan. Com a Juventus e provavelmente, a Inter (que também parece acertada com a empresa), um embaraçoso conluio de interesses amarra Milan, Juventus, Mediaset e Berlusconi, sem que se saiba direito até que ponto vão os laços de fidelidade entre eles. Ah, sim, as três maiores torcidas do país estariam na mão da Mediaset.

A segunda questão é um problema da Sky. Embora não seja interesse público se a empresa de Rupert Murdoch ia tomar uma rasteira, ameaçar a única concorrente da Mediaset não parece uma boa maneira de reforçar o ‘livre mercado’ que os liberais tanto pregam. Assim como na Inglaterra, a estratégia de vendas da Sky na Itália se baseia fortemente no futebol (responsável pela maioria esmagadora das três milhões de assinaturas da Sky no país).

O terceiro porém diz respeito ao aumento do fosso entre os clubes na Itália. O acordo da Juventus, na verdade, desfralda como o ‘gap’ entre os clubes aumentará bruscamente depois que a ‘mutualidade’ dos direitos de TV (uma venda conjunta dos direitos, que melhora as cotas dos pequenos). Até a UEFA chiou e condenou a rota adotada pela Itália, dizendo que se perde competitividade e os torneios perdem o interesse.

O debate foi para a imprensa, torcida e até no Parlamento chegou. Nesta segunda, a Sky anunciou que comprou os direitos de transmissão por satélite na Itália, por €158 milhões. Tradução: com zero de esforço, a Mediaset já recuperou 80% do investimento e ainda detém todas as outras formas de direitos – inclusive para o exterior.

A chiadeira segue forte, mas é pouco provável que alguém tenha poder para fazer o mínimo decente: impedir que Milan e Juventus negociem seus direitos de TV entre si e aumentem exponencialmente suas receitas, enquanto os outros clubes se esfalfam por migalhas. Teoricamente, o mercado é livre. Mas na prática, a teoria é outra.

Novela ‘nerazzurra’: capítulo Toldo e Bojinov

Mesmo que o campeonato se interrompa, a Itália declare estado de sítio, o sol deixe de brilhar ou o universo seja engolido por um buraco negro, em janeiro, a Inter de Milão fará contratações. E assim será, enquanto Massimo Moratti for presidente, e Branca e Orialli forem os responsáveis pelo mercado interista.

Neste mês, a Inter tem um problema confesso e um latente. O confesso é a falta de atacantes, com a contusão e Recoba e a viagem de Martins e Obinna para defender a Nigéria na Copa da África. Solução? Contratar. E na longa lista de candidatos, o nome do búlgaro Valeri Bojinov, da Fiorentina, é o mais interessante.

Interessante e conveniente, porque, coincidentemente ou não, Bojinov, na semana passada, deu algumas declarações de insatisfação com o banco e coisas do gênero. Contudo, a tradução do humor de Bojinov poderia ser perfeitamente lida como “tem um clube atrás de mim”. A resposta do técnico Cesare Prandelli não poderia ter sido mais direta: “ele é jovem e a gente está tentando colocá-lo no caminho correto, mas ele está dificultando”, disse Prandelli, antes do jogo contra o Chievo.

Aí, entra em cena o problema latente da Inter, que é o goleiro Toldo. Com 34 anos e na reserva da Inter, Toldo sabe que não terá outra chance de ira a uma Copa do Mundo e a Inter não se chatearia de se livrar de um salário alto. Some a isso uma declaração do dono da Fiorentina dizendo que precisa de um goleiro e pronto. O resto parece óbvio. De fato, na manhã desta segunda, Moratti confirmou que os dois clubes negociam uma troca onde, provavelmente, a Inter teria de colocar mais um bom dinheiro.

Roberto Mancini até que tentou fazer um jogo de cena no sábado, dizendo que gostaria muito que Toldo ficasse no clube, mas nem a velhinha de Taubaté acreditou. Mancini já torrificou Toldo no clube e se sabe que por ele, o goleiro pode ir para onde bem entender.

– Di Michele se cansou de esperar por uma vaga de titular em Udine e foi para Palermo.

– A Juventus anunciou a contratação do atacante espanhol Sergio Koke, junto ao Olympique Marselha.

– Koke deve ficar emprestado ao Siena até o final da temporada.

– E esta é a seleção Trivela da última rodada do primeiro turno.

– Doni (Roma); Diana (Sampdoria), Zanchetta (Chievo) e Oddo (Lazio); Mancini (Roma), Seedorf (Milan), Morrone (Livorno) e Pandev (Lazio); Del Piero (Juventus), Toni (Fiorentina) e Adriano (Inter).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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