A Itália está se achando

Em março de 2002, a Itália estava num momento de confiança dúbia, parecido com o que estava até a semana passada. Nem se achava um lixo, nem se vangloriava. Daí veio um amistoso internacional, contra a Inglaterra, na casa do adversário (no estádio Elland Road, em Leeds). A Itália conseguiu a virada no segundo tempo quando todo o time da Inglaterra tinha sido substituído – e de pênalti.

Bastou para Giovanni Trapattoni deixar a soberba aflorar. Na coletiva, parecia que comandava um time de titãs. “Vencer aqui é muito difícil”, disse Trap, deixando claro que a Itália era favorita ao título. Veio a Copa, veio a Coréia do Sul e todo mundo sabe o que mais.

Esta coluna começou diferenciando exatamente o humor da Itália ‘da semana passada’ do desta semana porque no sábado, a Itália foi à Amsterdam e bateu a Holanda por 3 a 1. E nesta semana, os italianos já entraram no mesmo ritmo frenético de auto-confiança que os enterrou em 2002.

“É uma Itália-Mundial”, estampou a Gazzetta Dello Sport, que apesar de um excelente nível de jornalismo, se entrega facilmente á torcida da ‘Azzurra’. Os italianos exaltam a performance especialmente de uma excelente dupla de ataque Gilardino-Toni e uma vocação ofensiva redescoberta por Marcello Lippi, que alinhou três atacantes e colheu bons frutos.

Caberia dizer ‘devagar com o andor que o santo é de barro’. Verdade que a Itália venceu, mas um amistoso não é nada além de…um amistoso. Claro que a Holanda é um adversário mais crível que os Emirados Árabes, por exemplo, mas falta muito chão para a Itália poder olhar para si mesma como uma pretendente ao título.

Dois pontos a serem destacados – descontada toda a euforia à bolonhesa. A primeira é a combinação juventina de Zambrotta na defesa com Camoranesi não meio-campo. O ítalo-argentino jogou num meio-campo a três, mas quando a Itália recuperava a bola, o time de Lippi se estendia com quatro jogadores, com Zambrotta e Camoranesi se alternando e com Grosso pela esquerda.

Gilardino e Toni? É uma dupla bastante respeitável. Embora não sejam vistosos como nossos Ronaldos, têm uma vocação infalível para o gol e são complementares, com Gilardino apto a jogar aberto e Toni entre os zagueiros. A Itália tem uma excelente chance de fazer um bom Mundial, mas tem um verdadeiro abismo no excesso de confiança.

Holanda 1 x 3 Itália

Mais do que a vitória que certamente bombará o moral dos meninos de Lippi, o jogo na Amsterdam ArenA foi positivo para a Itália por causa do novo desenho testado – e aprovado – pelo técnico de Viareggio, com três atacantes e três homens no meio-campo, amparados por um ‘pendular’ Zambrotta.

Nesta e Cannavaro não deixam dúvida sobre a condição que têm como titulares, mas deslocando Zambrotta para a direita, Lippi pôde abrir espaço para o correto Fabio Grosso. Assim, o juventino pode recuar ou avançar, fazendo com que a Itália tenha um homem a mais no meio-campo quando necessário.

O meio-campo, apesar de reduzido a um trio, demonstrou bastante solidez, com Pirlo de mediano e com Gattuso e Camoranesi fechando os espaços. Del Piero foi um dos três atacantes que começaram a partida, o que certamente foi uma sacada de Lippi. ‘Pinturicchio’ já jogou no meio-campo, e pode fechar o setor quando os laterais têm de recuar para compor a defesa.

A Itália segue com um problema relativamente grave que é a falta de reservas. Barone, Iaquinta e Diana não são pernas de pau, mas não mantém o mesmo nível dos titulares. Por outro lado, pode-se dizer que a Itália jogou sem Buffon, que deve estar no seu auge físico justamente quando o Mundial se aproximar.

Marcello Lippi é bem mais contido que Trappatoni no que diz respeito a não deixar-se levar pelo afã da torcida. Na Juventus, diversas vezes o treinador resolveu problemas táticos e disciplinares com muita discrição. O seu novo 4-3-3 é mais uma prova de sua competência. Se ele segurar o ‘salto alto’ de seu time, pode sim, chegar ao Mundial em condição de ser protagonista – papel que a Itália não desempenha desde 1994.

Holanda (4-3-3): Van Der Sar (Timmer); Kromkamp (De Jong), Vlaar (Ooijer), Mathijsen, Van Bronckhorst; Landzaat, Cocu (Boateng), Van Der Vaart; Castelen, Kuyt, Babel (Vennegor of Hesselink).
Treinador: Marco van Basten
ITÁLIA (4-3-3): Abbiati; Zambrotta, Nesta, Cannavaro, Grosso; Camoranesi (Diana), Pirlo (Barone), Gattuso; Del Piero, Toni (Iaquinta), Gilardino (De Rossi). Treinador: Marcello Lippi

Gols: 38′ Babel (H), 41′ Gilardino (I) e 46′ Camoranesi (I); 5′ st Toni (I)

– Outro detalhe interessante de se notar é que a Itália jogou sem Totti pela primeira vez em bastante tempo – e ele não fez falta.

– A vigilância dos italianos sobre o talento holandês, Wesley Sneijder, deve terminar no próximo verão.

– O jogador do Ajax já tem preço fixado: €12 milhões

– Milan, Juventus e Fiorentina na disputa

– Mesmo com o Corinthians dizendo que Tevez e Mascherano são intocáveis, seus nomes continuam muito mencionados.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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