Rei em Milão, vassalo no Rio

O atacante Adriano vive um dilema comum a atletas brasileiros que, por uma razão ou outra, não foram ‘adotados’ pela mídia nacional: em Milão, é tido, de longe, como o jogador mais importante da Internazionale, cobiçado por quase todos os clubes da elite continental. No Rio de Janeiro, sua cidade natal, é visto quase que como um peso para a seleção de Parreira. Um jogador a ser suportado, diante da magnificência de craques disponíveis para a posição.

Mas qual a razão que faz o avante interista merecer um tratamento tão diferente aqui do que recebe na Europa? Por que razão a crônica brasileira ‘suporta’ Adriano enquanto ele é invejado pelos clubes mais ricos do planeta? Talvez não haja uma explicação que justifique, mas dá para delinear, em parte, por que Adriano é visto com desconfiança.

Um fato que certamente não ajudou Adriano foi ele ter saído do clube de maior torcida e repercussão do país, o Flamengo, sem que tivesse deixado uma marca profunda. Adriano foi dispensado por Zagallo, para ser trocado por meio Vampeta. A sensação que a mídia, particularmente a carioca, tem sobre Adriano, ainda é aquela do atacante do Flamengo, que era um pouco estabanado e que jogava só no instinto.

Naturalmente é uma impressão errada. Adriano evoluiu imensamente na Itália, aprendendo a jogar para o time, apoiando a marcação, se movimentando sem a bola, e a se desvencilhar dos zagueiros. Hector Cúper e Roberto Mancini ajudaram muito Adriano (quando o dirigiram na Inter e na Fiorentina), mas quem fez Adriano despertar mesmo foi Cesare Prandelli, seu técnico no Parma (e hoje na Fiorentina).

Prandelli ensinou Adriano que atacar não é só correr com a bola para a área. No Parma, o brasileiro aprendeu a fazer os movimentos necessários para dificultar a marcação e também a recuar para buscar a bola. Aliás, uma das jogadas mais letais do jogador hoje é justamente vir com a bola em progressão. Com sua força física, quando parte com a bola dominada, Adriano só é parado se estiver diante de um zagueiro excelente ou com falta.

Outro “problema” de Adriano com seu fã-clube no Brasil é seu estilo de jogo. Não, Adriano não é “grosso”. Tem uma técnica muito boa, cabeceia e arremata muitíssimo bem, além de bater faltas. Só que Adriano não tem o estilo vistoso e leve de Robinho nem de Ronaldinho Gaúcho. Grosso modo, Adriano está mais para Batistuta ou Ronaldo do que para Robinho. E o estilo mais físico faz com que muitos leiam erradamente as suas qualidades.

Tomar como base seus últimos jogos pela Seleção e pela Inter para vaticinar seu destino na Seleção é, no mínimo, maldade (embora outros termos possam classificar melhor a postura). Adriano está fatigado pela temporada longa e numa descendente física. Precisa muito de descanso para chegar no ano da Copa em suas melhores condições. Mesmo assim, a meio-pau, o centroavante decidiu o primeiro jogo da final da Copa Itália contra a Roma.

Ronaldo ainda é o atacante mais forte do Brasil, mesmo com todas as suas atribulações. Mas Parreira deve olhar para Adriano como o futuro do ataque brasileiro. Com um atacante de mobilidade como Ronaldinho Gaúcho ou Robinho, Adriano pode jogar duas ou três copas como protagonista. Não reconhecer nele o herdeiro da camisa 9 de Ronaldo é um erro. Protege-lo é quase uma obrigação da imprensa. Brasileira, porque a italiana se joga aos seus pés.

O que não vai?

A escolha de Marcello Lippi como técnico da Itália deu a todos uma sensação quase comum: a de que o selecionado italiano teria, pela primeira vez em muitos anos, alguém que pudesse assegurar o desenvolvimento de seu potencial. Não era possível que uma seleção com Cannavaro, Totti, Zambrotta e Vieri não chegasse a ter um time pelo menos para fazer frente às potências do futebol mundial.

Para tristeza geral, a seleção de Lippi não demonstrou nenhum grande avanço em termos de jogo, se comparada à de seus antecessores, Giovanni Trapattoni e Dino Zoff. Lippi tem o mérito de ter aberto as portas da seleção em definitivo para nomes como Gilardino, Toni e Grosso, mas seus resultados são opacos. Tanto que, na semana retrasada, o ex-campeão pela Lazio, Giorgio Chinaglia, disse que era uma seleção de segunda linha. Lippi não gostou, e retrucou, mas a verdade é que ele tem de mostrar por que Chinaglia está errado.

Marcello Lippi herdou um problema de seus antecessores. O meio-campo italiano não convence. O time titular, com Camoranesi, Gattuso (De Rossi) Pirlo e Totti garante um bom nível, mas os reservas fazem a qualidade cair muito. A falta de entrosamento também causa dores de cabeça. Pirlo é um dos melhores meias da Europa, mas na “Azzurra”, é só um jogador a mais.

Há solução para o problema de Lippi? Bem, na verdade, Lippi está diante de um dilema. Se adota o uso do ‘trequartista (decisão quase obrigatória para poder utilizar Francesco Totti em seu melhor posicionamento), Lippi fica sem um reserva à altura. Ademais, também não tem reservas para Camoranesi nem Pirlo. Todo o setor, ou quase.

Uma saída pertinente seria a de aproveitar o fato de dispor dos melhores zagueiros do mundo para jogar com uma defesa a três (digamos, Bonera, Cannavaro e Nesta). A saída permitiria um uso de Zambrotta ainda mais à frente (já que o externo da Juve já joga como um misto de defensor e ala). O difícil mesmo é fazer Pirlo e Totti coexistirem no esquema. No Milan, Kaká faz as vezes de Totti, mas o Milan joga sem alas, e tem Seedorf.

Se optar por um 4-4-2 tradicional, Lippi tem de deixar Totti no banco. O romanista não é melhor do que Cassano como atacante, e Pirlo é melhor que Totti como meio-campista puro. O esquema daria maior solidez, mas tiraria fantasia. O pulo do gato do técnico de Viareggio está mesmo em conseguir usar Totti, Pirlo e os dois alas (Camoranesi e Zambrotta) de um modo inteligente. Se fizer isso – e não tiver lesões – os ‘Lippi boys’ têm boas perspectivas.

– O mercado italiano se move de maneira lenta, mas sem parar – mesmo num período em que normalmente as transações estão ainda começando.

– O nome de Ronaldo volta a surgir ligado ao Milan, mas vale lembrar que seus agentes, no passado, já utilizaram do expediente de ‘plantar’ notícias para tentar forçar transações.

– Shabani Nonda, trocou o Mônaco pela Roma, a custo zero.

– O ex-atacante do Mônaco tinha um pré-contrato com a Juventus, mas aparentemente foi liberado para assinar com a Roma.

– A liberação de Nonda pela Juve faz aumentar a suspeita de se ver Cassano em Turim na temporada – vindoura.

– Miccoli, atualmente emprestado à Fiorentina, é o trunfo juventino para chegar ao atacante de Bari Vecchia.

– E a Roma aguarda a resposta de Luciano Spalletti, que deixou a Udinese, para assumir o cargo de treinador.

– Kaladze está com um pé e meio no Chelsea; Oddo, da Lazio, lateral ambidestro da ‘Nazionale’ de Lippi, é o mais cotado para ser seu sucessor.

– A Série B italiana consagrou o Genoa como seu campeão e o Empoli como o segundo colocado.

– O terceiro promovido à divisão máxima ainda será decidido num ‘playoff’ entre Torino, Perugia, Treviso e Ascoli.

– A promoção genoana depois de dez anos refaz na Série A o derby de Genova, um dos mais importantes da Itália.

– A esperança agora é a de que o Torino seja o outro promovido, e também o derby de Turim estaria garantido.

– Nesta semana, Parma e Bologna decidem a sua permanência na Série A. Ou não.

– O Parma é o favorito entre os apostadores e bookmakers.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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